VATICANO Refugiados: Papa defende acolhimento e acção nas «causas» de problema que é «ponta do icebergue» (Lusa)
VATICANO
Refugiados: Papa defende acolhimento e acção nas «causas» de problema
que é «ponta do icebergue»
(Lusa)
Francisco admite em entrevista
à Renascença que Europa foi apanhada de «surpresa» e espera que Igreja esteja
na primeira linha do apoio
O Papa Francisco disse em
entrevista à Rádio Renascença que a Europa deve acolher os refugiados que
chegam às suas fronteiras e promover soluções para as “causas” desta situação,
na sua origem.
“Onde as causas são a fome, há
que criar fontes de trabalho, investimentos. Onde a causa é a guerra, procurar
a paz, trabalhar pela paz”, assinala, em declarações divulgadas hoje pela
emissora católica portuguesa.
Para Francisco, esta é a
“ponta do icebergue” das consequências de um sistema socioeconómico “mau e
injusto”. “Esta pobre gente que escapa da guerra, que escapa da fome, é a ponta
do icebergue”, sublinha.
O Papa sustenta que o sistema
económico dominante “descentrou a pessoa, colocando no centro o deus dinheiro,
que é o ídolo da moda”. Durante a entrevista, Francisco agradeceu a todos os
que em Portugal se disponibilizaram para acolher refugiados.
“Felicito-vos e agradeço-vos
pelo que estão a fazer e dou-vos um conselho: no dia do Juízo Final, já sabemos
sobre o que vamos ser julgados, está escrito no capítulo 25 de São Mateus.
Quando Jesus vos disser ‘estive com fome, deste-me de comer?’ e vocês vão dizer
‘Sim’... ‘E quando estive sem refúgio, como refugiado, ajudaste-me?’, ‘Sim’.
Pois, felicito-vos: vão passar no exame”, declarou.
O pontífice argentino recordou
a sua condição de filho de imigrantes e condenou a “falta a capacidade de
acolhimento da humanidade”, dando como exemplo os ‘rohingya’ (refugiados no
Golfo de Bengala e no Mar de Andamão). “Chegam a um porto ou a uma praia,
dão-lhes água, dão-lhes de comer e depois, mandam-nos outra vez para o mar e
não os acolhem”, recordou.
Francisco admite que muitos
levantem objecções, por causa da “crise laboral” ou das “condições de segurança
territorial”. “Temos, a 400 quilómetros da Sicília, uma guerrilha terrorista
sumamente cruel, não é? Então, existe o perigo da infiltração, isso é verdade”,
referiu. O Papa rejeita, no entanto, leituras “simplistas”.
“Evidentemente, se chega um
refugiado, com as medidas de segurança de todo o tipo, há que recebê-lo, porque
é um mandamento da Bíblia”, insistiu. Nesse sentido, explicou o seu apelo ao
acolhimento de famílias de refugiados por todas as paróquias da Europa,
precisando que não espera que estas tenham de ser alojadas na “casa paroquial”.
“Que toda a comunidade
paroquial veja se há um lugar, um canto num colégio para aí se fazer um pequeno
apartamento ou, na pior das hipóteses, que arrendem um modesto apartamento para
essa família”, pediu.
Francisco revela que já teve
“muitas” respostas e insistiu na abertura de conventos vazios. “Algumas
congregações dizem ‘não, agora que o convento está vazio, vamos fazer um hotel
e podemos receber pessoas e, com isso, sustentamo-nos ou ganhamos dinheiro’.
Pois bem, se quereis fazer isso, pagai os impostos”, advertiu. O Papa falou num
momento de “surpresa” para a Europa, face à vaga de refugiados e migrantes,
sublinhando que “não se sabe como isto vai acabar”.
“Quero dizer que a Europa
tomou consciência, e eu agradeço-lhe. Agradeço aos países da Europa que tomaram
consciência disto”, prosseguiu. A entrevista abordou o papel do Velho
Continente no actual contexto, esperando que seja capaz de “retomar uma
liderança no concerto das nações”, ou seja, “que volte a ser a Europa que
define rumos, pois tem cultura para o fazer”.
Francisco lamentou que a
Europa tenha querido falar da sua identidade (na redacção do Tratado Constitucional, ndr), “sem
querer reconhecer o mais profundo da sua identidade, que é a sua raiz cristã”. “Aí
enganou-se. Bom, mas todos nos enganamos na vida, está a tempo de recuperar a
sua fé”, observou.
O Papa retomou ainda as preocupações com um mundo
“guerra contra si mesmo” e “contra a terra”. OC|AE in VOZ DA MISSÃO outubro 2015
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