Evangelização porta a porta: todos com um coração missionário por ARMANDO SOARES

NOVA EVANGELIZAÇÃO                                                           
Evangelização porta a porta: todos com um coração missionário por ARMANDO SOARES
Pinelo, Vimioso (Foto: Blog.Pinelo com carinho)

Cónego António Augusto Rodrigues Amado
Perfil: É cónego na diocese de Bragança. Foi missionário em Cabo Delgado, em
Moçambique, durante 8 anos. Por motivos de saúde ficou missionando em Bragança e nas terras do nordeste. É certa a presença anual nas Jornadas Missionárias em Fátima. Trabalhou com a juventude, como professor. Um homem humilde com seu valor específico. Investigador. Acolheu-nos com amizade e simpatia. Ouvimo-lo e transmitimos. Hoje é nosso convidado.

Voz da Missão O Sr. Cónego Amado nasceu numa aldeia do Concelho de Vimioso, Pinelo. Como surgiu a ideia da vocação missionária: da família, da comunidade interessada pelos problemas eclesiais…?  Pois bem sabemos que estas terras transmontanas deram muitos missionários à Sociedade Missionária da Boa Nova e outras. A palavra é sua.

Cónego Amado – Nesta terra de gente humilde e crente como era no meu tempo de jovem, ter um filho sacerdote, missionário, ou uma filha religiosa, era uma distinção e era acolhida e incentivada a vocação como um dom de Deus, que nem todos mereciam. Meus pais viviam a vida com uma fé simples mas real. Éramos 6 irmãos.  Deste modo animei-me a ir para o Seminário. Já lá andavam os PP. Firmino e Viriato, naturais desta aldeia

VM – Falou no padre Viriato. De certeza que teve também a sua influência, não é verdade?  Quer citar mais alguns, em primeiro da sua aldeia e depois desta zona?
CA – É com muita alegria que cito aqueles com quem mais convivi e eram aqui da região. Em primeiro lugar, do Pinelo: PP. Firmino, Amado, Viriato Matos, Norberto Pino e as Irmãs Laura, Maria João, Maria Delfina e Lídia, missionária em Angola. O P. Amândio teve muita influencia, na promoção vocacional, a começar na sua aldeia de Carção, sendo missionário daqui seu sobrinho P. Policarpo. De Caçarelhos: PP. Agostinho Rodrigues, Fernando Eiras e Justino Vicente. De Genísio: PP. Virgílio e Basileu (Mariano). De S. Joanico os dois irmãos Aníbal e Casimiro João. De Atenor: P. Aquiles Rodrigues. De Vale de Pena: o Ir. António, dos Marianos.
Estes 15 missionários saíram de dezenas que passaram pelo Seminário e se lançaram na vida nas cidades  do litoral. Os anos passados no Seminário marcaram nas suas vidas pela disciplina e no aproveitamento do tempo.

VM – Percorremos as ruas da aldeia, e quase nem rasto de gente. Só ouvíamos os pássaros nos seus trinados. No tempo da sua juventude qual era a população da aldeia de Pinelo comparada com a desertificação que reina hoje no interior do país?
CA - Nessa altura a aldeia tinha 750 habitantes, hoje sofre uma grande desertificação como todas as aldeias do interior e terá mais ou menos metade da população. Uma população bastante envelhecida. Tem 6 crianças (!)... E não é das piores.

VM  – Hoje nota-se grande envelhecimento da população e grande falta de crianças.
CA – Temos um Lar para a Terceira Idade, que eu aumentei quando vim para aqui. Para 20 pessoas. Crianças, no meu tempo éramos 91 na catequese (45 rapazes e 46 raparigas)

VM – Voltando à vida missionária em Moçambique qual foi seu campo de missão?
CA -  Em Cabo Delgado trabalhei no Seminário do Mariri, como educador e Reitor até ao 25 de Abril, e depois, em Pemba onde terminei meus  anos de missão nas mais variadas tarefas de ensino e pastorais.

VM  – Apesar do pouco tempo após a independência, sentiu profundamente a revolução que deixou marcas profundas em muitos missionários maltratados e presos.
CA – Senti profundamente após a revolução, os ataque à religião, considerada como “obscurantismo”. A então chamada “Comissão Liquidatária”, mostrou ao pormenor o que pretendia a Revolução. Além de não permitir retirar os móveis das missões nacionalizadas para as novas residências: isto até para as Irmãs moçambicanas naturais da diocese, caíram no “ridículo” de contarem o número de peças de roupa que os missionários possuíam.

VM – Como definiria em poucas palavras a acção do bispo da Diocese D. José dos Santos Garcia perante os problemas de uma diocese a começar nestes tempos difíceis, e ainda da guerra colonial?
CA – D. José Garcia foi um bispo «empreendedor» na construção das infraestruturas necessárias a uma diocese; foi um homem muito prudente e cauteloso nas relações com as autoridades e um bispo muito próximo dos missionários; humilde e preocupado com as comunidades locais. Procurou colaborar para que o poblema político se resolvesse pacificamente.
Classifico de “amorosa” a despedida que fez aos missionários, quando decidiu vir para Portugal. E fundou uma congregação de Irmãs diocesanas com o apoio das Irmãs missionárias da Consolata. De resto, contam-se numerosas construções de Seminário para promoção do clero local, lares para formação de filhos dos professores e para Irmãs africanas…

VM– Paróquia que reza é paróquia em missão,  “é paróquia missionária” dizia Madre Teresa de Calcutá. Na falta de juventude nas nossas Igrejas que apelo faria às nossas comunidades eclesiais?
CA - Citaria as palavras do Papa Francisco na sua Mensagem deste ano par o Dia Mundial das Missões: “O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, que provocam um grito desesperado dos irmãos e irmãs do Senhor crucificado. O Evangelho ajuda a superar os conflitos, o racismo, o tribalismo, promovendo por todo o lado a reconciliação, a fraternidade e a partilha entre todos.”

E deixo também o apelo do Papa Francisco: “As Obras Missionárias Pontifícias inspiram na comunidade o desejo de anunciar o Evangelho a todos, envolvendo na formação e animação missionária: adolescentes, jovens, adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas, bispos para que, em cada um, cresça um coração missionário.”

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