TERRA SANTA Os cristãos da Terra Santa e o diálogo por Armando Soares

TERRA SANTA
Os cristãos da Terra Santa e o diálogo por Armando Soares
O Papa em recente visita a Terra Santa, reverenciou a tradição judaica.
Acto legítimo ou grave afastamento da Tradição Católica?

A natureza e a vocação universal da Igreja requerem que ela esteja em diálogo com os membros das demais religiões. No Médio Oriente este diálogo está assente em vínculos espirituais e históricos que une os cristãos aos judeus e aos muçulmanos. Tal diálogo, alicerça-se antes de tudo sobre bases teológicas que interpelam a fé. Elas derivam das Sagradas Escrituras e do Concílio Vaticano II (Lumen Gentium e Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra Aetate). Judeus, cristãos e muçulmanos acreditam num só Deus, Criador de todos os homens. Possam os judeus, os cristãos e os muçulmanos voltar a descobrir uma das máximas aspirações divinas: a unidade e harmonia da família humana. Possam eles descobrir no outro crente um irmão. Em vez de conflitos contínuos e injustificáveis teríamos a paz na região e a convivência respeitosa entre todos os seus habitantes. De outro modo, os cristãos continuarão a viver entre os seus irmãos judeus e muçulmanos, padecendo por causa de muitos limites e experiências dolorosas. Eles encontram-se na base da sua pátria e na origem da população da Palestina. São cristãos orientais de civilização árabe e, no âmago desta última, representam o ponto de diversidade, o ponto que constitui um «oásis» de diálogo e não de um conflito. A sua presença tem um profundo significado, não apenas para a própria Igreja, mas também para os seus irmãos e os seus parceiros na pátria e no arabismo, bem como para toda a Terra Santa. Só eles podem constituir o verdadeiro ponto de encontro entre os muçulmanos e os judeus, a ponte de ligação entre o Oriente e o Ocidente. O seu papel cultural dialógico é relevante para que possam reinar a paz, a segurança e a tranquilidade não apenas na sua pátria, mas também no mundo inteiro.
Um diálogo específico
Mon Michel Sabbah, patriarca emérito de Jerusalém dos latinos, afirma que a presença cristã na Terra Santa é uma presença com os muçulmanos e com os judeus, e possui especificidades próprias. O diálogo judaico-cristão na Palestina e em Israel deveria ocupar-se das relações diárias entre os cristãos palestinos e os judeus de Israel – e isto significa que deveria enfrentar as questões de justiça, de paz e de igualdade entre todos.
Sem dúvida, as relações judaico-islâmico-cristãs na Terra Santa têm características especiais, ligadas à situação particular dessa região como «berço» da três religiões monoteístas. Além do património religioso os cristãos árabes implementaram uma parte inseparável da sua história, cultura e civilização. Eles desempenharam o papel de ponte entre o Oriente e o Ocidente.

Os cristãos têm pontos comuns de encontro com os muçulmanos: pertencem ao povo árabe-palestino e à mesma civilização, compartilham inúmeros valores, partilham a mesma história desde que o islão chegou a essa região, padecem os mesmos sofrimentos  e alimentam as mesmas aspirações, a identidade religiosa, para eles tão fundamental a ponto de estarem dispostos a pagar preços elevadíssimos para a conservar e defender.

São pontos comuns de encontro com os judeus: as raízes do Cristianismo, que se encontram no povo judaico nesse território; Cristo nasceu nessa “Terra”, descendente do povo judaico, segundo as Sagradas Escrituras e as promessas feitas por Deus, e foi aqui que nasceu a primeira comunidade eclesial. O Papa Bento XVI afirma na Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente: «Os vínculos entre os cristãos e os judeus são numerosos e profundos, ancorados num precioso património espiritual comum. Temos, sem dúvida, a fé num Deus único, criador, que se revela e se mostra um aliado do homem para sempre e do qual, por amor, quer a redenção. Há depois a Bíblia, que em grande parte é comum aos judeus e aos cristãos, considerada por uns e outros como a Palavra de Deus; aproxima-nos esta frequência comum da Sagrada Escritura. Por outro lado, Jesus – um filho do povo eleito – nasceu, viveu e morreu judeu (Rm 9, 4-5). Apesar de perseguições violentas no passado as ajudas foram tão fecundas que contribuíram para o florescimento duma civilização e duma cultura denominadas “judaico-cristãs”».
Estas palavras do Santo Padre põem todos diante das suas próprias responsabilidades, para trabalhar juntos pela paz e a fraternidade, através da fé no Deus único, a herança espiritual comum e as Sagradas Escrituras.

FONTE: Os  cristãos na  Terra Santa: desafio e destino, por AMAL HAZEEN  

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