PORTUGAL/direitos humanos-vicentinas Direitos Humanos: Marcelo Rebelo de Sousa enaltece ação de Obra Vicentina que é «porto de abrigo» para os reclusos
PORTUGAL/direitos humanos-vicentinas
Direitos Humanos:
Marcelo Rebelo de Sousa enaltece ação de Obra Vicentina que é «porto de abrigo»
para os reclusos
Dez 10, 2018 - 16:12
Instituição católica foi
distinguida pela Assembleia da República
Foto: Lusa |
A Assembleia da República distinguiu hoje - DIA 8 DE DEZ.2018 - a Obra Vicentina de
Auxílio aos Reclusos (OVAR) com o Prémio Direitos Humanos 2018, no contexto dos
70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O presidente da
República Portuguesa, que marcou presença na cerimónia, salientou que “nenhuma
democracia pode considerar-se plena nem sequer duradoura se por ela não tiver
democratas a trabalhar”.
“Nenhum Estado de
direito pode encarar com sobranceria a tarefa cívica da sua constante afirmação
por palavras, mas sobretudo por atos”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, que
neste contexto elogiou o papel desempenhado pela Obra Vicetina de Auxílio aos
Reclusos na sociedade.
Um trabalho “que nos
recorda nestes dias, mais do que nunca, que não há nada nem ninguém que pode
sacrificar direitos fundamentais de cidadãos que são iguais na essência da sua
cidadania e na sua dignidade como pessoas, a todos os demais portugueses”,
sustentou.
Em entrevista à
Agência ECCLESIA, no final da sessão no Parlamento português, o presidente da
OVAR sustentou que este prémio veio reforçar que “a vivência cristã é
necessária nas prisões”, e por isso mesmo deve ser também uma aposta mais
efetiva da própria Igreja Católica.
“A exemplo do que já
acontece em muitos outros países, porque é que em Portugal a esmagadora maioria
das dioceses não tem pastorais penitenciárias?”, questionou Manuel Hipólito dos
Santos.
Sobre os desafios que
rodeiam o trabalho feito pela OVAR, aquele responsável realça um meio onde
“falta quase tudo”, desde uma “reinserção social efetiva” ao cuidado a ter com
os laços afetivos que o recluso deixa no exterior, que serão sempre o seu
suporte principal depois de cumprir a pena.
“A prisão é um grave
contributo para as roturas familiares, que é sempre um ato que lesa
profundamente toda a vivência de qualquer pessoa na sociedade”, alertou o
presidente da OVAR, que defendeu ainda a necessidade de “uma mudança profunda no
tratamento das drogas e da pobreza”, duas das “maiores” causas para a queda na
marginalidade.
Fundada em 1969, a
Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos é uma obra especial do Conselho Central
do Porto da Sociedade de S. Vicente de Paulo, entre as mais de 300 conferências
vicentinas que aquela diocese integra.
A organização conta
com o contributo de 11 pessoas, voluntários e voluntárias, que visitam
semanalmente os diversos estabelecimentos prisionais da região, desde Paços de
Ferreira a Santa Cruz do Bispo, passando por Custóias e Vale do Sousa.
“O nosso trabalho
fundamental é ouvir, é escutar. Os reclusos têm uma necessidade de ter alguém
que os ouça, sem estarem comprometidos com o sistema repressivo da prisão. E
nós, tal como as visitas familiares que neste momento estão muito em causa com
a greve dos guardas prisionais, representamos ali uma espécie de porto de
abrigo”, completou Manuel Hipólito dos Santos.
Durante a cerimónia
de entrega do Prémio Direitos Humanos 2018, na Assembleia da República, Manuel
Hipólito dos Santos apontou várias problemáticas ao contexto dos
estabelecimentos prisionais e da Justiça em Portugal.
A ausência do direito
generalizado à própria defesa, por parte dos reclusos, as situações em que a
permanência na prisão excede os 25 anos previstos – “o tempo médio de
cumprimento de pena em Portugal é o triplo da União Europeia”, denunciou o
presidente da OVAR – ou a retenção indevida do dinheiro do trabalho dos
reclusos.
Também dramas
relacionados com “as alegações de prática de tráfico de drogas e bens, de
homossexualidade forçada, de violações, roubos, violências, de chantagens sobre
as famílias, de autoritarismo e prepotência”, que mostram que as prisões
subsistem como “instituições retrógradas, arcaicas, medievais e violentas”,
apoiadas “numa parte da opinião pública que apela à vingança, à repressão”
contra quem errou.
O Estado de direito não pode ficar à porta das prisões”.
O coordenador
nacional de Pastoral Penitenciária em Portugal, por sua vez, destacou a
atribuição deste prémio à OVAR como “um reconhecimento da sociedade civil ao
trabalho que a Igreja Católica faz, através dos seus diversos grupos presentes
nas prisões”, e “um estímulo muito grande para todos os que trabalham nas
cadeias a nível nacional”.
“A OVAR tem feito já
desde há muitos anos um trabalho formidável, de presença, em várias cadeias do
norte do país, um trabalho de persistência, de humanização das prisões, de
socialização, de integração, numa ligação grande não só com os reclusos e com o
estabelecimento prisional, mas com as famílias”, frisou o padre João Gonçalves.
A Assembleia da
República atribui desde 1999 o “Prémio Direitos Humanos”, com o objetivo de
“reconhecer o alto mérito de organizações não governamentais ou do original de
trabalho literário, histórico, científico, jornalístico, televisivo ou
radiofónico, que contribuam para a divulgação ou o respeito dos direitos
humanos”.
Destina-se ainda a
destacar iniciativas que contribuam para denunciar a “violação” destes
direitos, “no país ou no exterior”, de “autoria individual ou coletiva de
cidadãos portugueses ou estrangeiros”.
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