MACEDO DE CAVALEIROS A Igreja ao ritmo da misericórdia por ARMANDO SOARES *











De 10 a 15 de Abril 2012, os Padres Marianos da Imaculada Conceição (MIC), congregação de origem polaca, celebraram no Convento de Balsamão, Macedo de Cavaleiros, onde residem, a XV Semana de Espiritualidade sobre a misericórdia de Deus. Este ano sob o tema : 50 anos de Concílio Vaticano II - « A Igreja ao ritmo da misericórdia».
A Casa de Retiro e de Repouso de Balsamão, é um sítio isolado donde se desfruta a beleza da natureza e se ouve o silêncio, local propício à reflexão e à oração.
Organizou a Semana o Padre Basileu Pires,  que assumiu a moderação da mesma. Apresentou o esquema das conferências enquadrando o tema neste nosso.tempo. Bem à medida dos cerca de 30 participantes englobando professores universitários, médicos, professores secundários e primários e membros de movimentos eclesiais numa grande variedade de expressão e provenientes de zonas geográficas desde Nisa e Ericeira a Lisboa, e do Vale de Cambra, Oliveira de Azeméis e Feira a Braga e Guimarães.
As Conferências foram confiadas a oradores competentes que nos proporcionaram forte meditação sobre a Igreja da misericórdia que, cremos, será a Igreja do futuro, dentro da Igreja da compaixão (cum + passio) que se projecta no século XXI, como Igreja dos pobres, das periferias, dos sofridos e perseguidos

D. Albino Cleto, bispo emérito de Coimbra, introduziu-nos o na história da Igreja dos concílios doutrinais, focalizando o Concílio Vaticano II como necessidade de um “aggiornamento”, num mundo que precisava de misericórdia. Só a humildade firme do Papa Roncalli teve a coragem de avançar com ele. Wojtilla, Papa polaco, nas suas vivências reais, foi o homem forte para avançar mais para diante.D.
Cleto acentuou a Igreja como povo de Deus em dinâmicas de Liturgia, ecumenismo. Muita realidade vaticanal mais o respeito e a leitura da Bíblia.

A purificação da memória foi tema desenvolvido pelo Padre Basileu Pires, que nos colocou  em várias situações de perdão em que João Paulo foi fecundo: polacos pedem perdão aos alemães e apelam ao diálogo; pede perdão aos africanos pelo tráfico de escravos, pede perdão aos ortodoxos,pede perdão pelo indiferentismo ético e pela irreligiosidade actual; pela Inquisição, pelo pecado dos padres pedófilos. Assume todos os pecados dos seus filhos
E termina dizendo: “todos estes acontecimentos nos apresentam o Deus da misericórdia.”

«O nosso Deus é um Deus que ama o homem de hoje como o amor misericordioso de Jesus Cristo Redentor”, disse o P.José Carlos Martins ,da Diocese de Bragança- Miranda. A Igreja é povo de Deus, sacramento universal de Salvação, continuou. Pôs acento em temas do Concílio: Igreja é comunhão (não monarquia, nem democracia), Bíblia – palavra,Comunhão – salvamo-nos em comunidade,e os documentos Ad Gentes, Lúmen Gentium. É preciso ousadia para viver o Concílio sem o contornar ou desvirtuar s eus pleno sentido.

O Dr. Eugénio da Fonseca, da Caritas, falou de “uma Igreja que ouve o grito dos pobres que imploram justiça e misericórdia”. Apresentou com todo o realismo os problemas sociais de ontem e de hoje: desigualdades sociais cada vez maiores; abordou o terrível problema da natalidade em dois tons – o mais e o menos em número de filhos, na África e na Europa;  os problemas da fome agravados pela crise; o analfabetismo e iliteracia,; discriminações de todos os tipos – xenofobia, racismo -, individualismo e falta de participação; os sem tecto; desemprego e subemprego; dívida externa de muitos países (causas geopolíticas, consumismo, abusos da posse e do poder). O Senhor morreu para salvar todas as pessoas. A Igreja é perita em humanidade, defendendo os direitos humanos e fazendo opção preferencial pelos pobres.
E deixou-nos recomendações para a acção: partilhar os bens, utilizar correctamente os bens da terra, praticar a verdadeira solidariedade, ser voz dos pobres, investir na luta pela justiça, colaborar na educação, tornar as comunidades cristãs mais humanas, compreensivas, compassivas , vivendo da esperança. E deixou um apelo à organização da caritas a nível paroquial. O Deus de misericórdia é que deve animar todas as dimensões citadas.

«Igreja que professa, anuncia, vive e implora a misericórdia de Deus» foi tema desenvolvido pelo Padre João Carlos Rodrigues, MIC. Citou João Paulo II que, como conhecedor profundo dos ataques à dignidade humana, disse: “faz parte da missão da Igreja anunciar a misericórdia.” O sacramento da Eucaristia faz-nos próxima a misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus mostra em Jesus Cristo que a ressurreição é mais forte que a morte. A Liturgia apresenta a riqueza da misericórdia que nunca deve ser uma simples caridadezinha, como muitas vezes se adopta na religiosidade popular. Mas ela é a grande riqueza, pois Deus é misericórdia. Seu perdão é para sempre.
Houve prolongado debate porque a simplicidade da exposição, muito concreta e realista cativou os participantes.

Foi prato forte a conferência do Dr Carlos Silva, da UCP: «A linguagem sobre a misericórdia e a Encíclica Deus Caritas est». Procurou passar-nos a mensagem desta maravilhosa Encíclica do Papa Bento XVI. É a encíclica sobre o amor, a caridade. Nem uma vez sequer aparece nela a palavra misericórdia. Alguns tópicos duma excelente conferência: do amor – impulso-desejo do (eros) – amor humano - e passar à caridade (agapé), do amor à misericórdia.
Amar é querer bem. É voltar a Deus por meio de Deus. O homem é que desejado por Deus. O amor supõe reciprocidade. Numa ascensão de situações: emotivas: paixões (sofrer passivo,n obsessões, ânsia, amor afectivo (ascética e mística), desejo;
Racionais: fazer o bem na dimensão da caridade/esmola, filantropia, simpatia, afinidade, hospitalidade.
A nível de sentimentos: carinho, doçura, ternura,…
A nível da vontade: querer, gratuidade, compaixão, simpatia, imitação de Cristo, virtudes teologais.
No Pneuma (Espírito) podemos considerar: a caridade, a misericórdia a dilectio, o amor de predilecção (supõe um super escolha)…
É admirável considerar como Ratzinger parte do eros (amor humano), numa dinâmica do amor ascendente e descendente , atingindo o amor agapé, o amor fraterno, originário, divino, o amor de Deus que salva todos os homens. Nas entranhas de Deus – qual amor materno – descobre-se o amor. E como se descobre o amor? Pela dor, pelo sofrimento, pela saudade, pela nostalgia de Deus.
Este tema proporcionou um bom debate.

A última conferência “João Paulo II, o apóstolo da misericórdia”, foi apresentada por D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda.
João Paulo II tinha um olhar penetrante, que atingia as pessoas. Falou das presenças com o Papa em Roma, e baseou seu tema na Liturgia. “Cantarei eternamente a misericórdia do Senhor”.
Na Liturgia Papa Wojtilla fazia ressaltar a força do gesto, do olhar, das imagens, da Palavra. O espaço central das JMJ foi sempre a Eucaristia numa liturgia pronunciada em todo o mundo e em várias culturas. O Concílio Vaticano II está no actuar de João Paulo II. Ele celebrava com o corpo todo.
A Páscoa é a ressurreição de Jesus - e não os coelhos, os ovos, o folar, a primavera, nem mesmo a visita pascal - , mas é a caridade, o amor, a misericórdia. Em Bragança juntamo-nos todos na Catedral e celebrámos a misericórdia de Deus, a Ressurreição de Jesus. Mudámos tradições. Foi bom. Partilhámos mais e em comunidade a misericórdia de Deus, salvador de todo o género humano.

Hove espaços e tempos de meditação e oração sobretudo litrúrgica, mas também paralitúrgica.  E num lugar "hermoso".
Parabéns ao Padre Basileu Pires e a todos os organizaram esta XV Semana. de Espiritualidade da Misericória . Gostei de tomar parte e sinto-me mais rico na vivência da Fá em Jesus. CF | AS
<pe.armandosoares@gmail.com CP 6100

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