CUCUJÃES Convento de Cucujães

CUCUJÃES
Convento de Cucujães
Esta notícia foi primeiramente publicada no Jornal “O Século”, (1880–1979) e relata-nos um pouco da história deste convento. A mesma, em Outubro de 1900, aparece no Jornal “Correio da Feira”.
Dado o seu interesse, optamos por transcrever na grafia original.


Imagem - Aqui foi o Convento de Cucujães

“O Convento de Cocujães
Na freguesia de Couto de Cucujães (Oliveira de Azemeis), existe um mosteiro benedictino, que é antiquíssimo, creio que anterior á monarchia. Um frade do convento era commumente o abbade da freguezia, que rendia para o mosteiro reis 800$000.
Depois da extinção das ordens religiosas, foi adquirido o edifício e cerca do convento por um indivíduo já fallecido, Manoel Joaquim da Fonseca. Alguns miguelistas empregaram esforços para o restabelecimento do convento, e em resultado d’esses esforços foi por um frade bento, já falleccido, fr. João, comprado o convento. Dada d’ahi a reorganisação da ordem n’aquela freguesia.
Hoje está prospera, tem noviciado (actualmente três noviços) e irmãos leigos (presentemente uns cinco), teem-se ali tomado ordens somente com os estudos ministrados no convento; o mais recente frade ordenado n’estas condições é fr. Martinho, no seculo, o padre Neto. Tem alguns padres allemães.
Entre as coisas curiosas d’estes frades, há o seguinte: o seu reorganisador, o já mencionado fr. João, quando nas missas, incluindo as cantadas, tinha de dizer a oração em que, segundo o rito romano, se pedem as bênçãos do ceu para o governante, em vez de regem nostrum Lodaricum, ou, mais tarde, regem nostrum Carolum, dista regem nostrum Michailem (o nosso rei D. Miguel). Por mais extraordinário que pareça, o facto é perfeitamente authentico.
Os frades teem augmentado bastante os bens do mosteiro, tiveram em tempo uma questão com a junta da parochia, por causa de um terreno baldio, de que se queriam apoderar, ficando vencidos. Há cerca de um anno, compraram uma quinta adjacente à do convento, a quinta do Teso, que pertencia aos herdeiros de Joss Bastos. Adquiriram, por compra, em Lamego, um collegio, que administram.
Em Santo Thyrso há uma quinta, chamada de Segiverde, que pertencia a uma viúva rica: um dos frades da ordem era o capellão da casa, passando a quinta, por morte da viúva, para os frades. Todas estas acquisições são em nome individual, e não da ordem para evitar duvidas.
Junto ao convento, existe, edificada pela ordem, uma casa, a que chamam: azylo das cegas. Para justificar o nome, existem ahi umas duas ou três mulheres cegas, e muitas mais que o não são.
Ahi se faz um chamado retiro espiritual, mediante 200 reis por cabeça; veem de bastante longe, até três léguas em redor, mulheres confessar-se, e pernoitam muitas vezes. Algumas são novas, guapas e bonitas.
Os frades praticavam, em regra, os seus exercícios e prédicas, com os respectivos habitos, na egreja matriz, com o qual o convento communica, e exerciam quasi todo o munus parochial. Houve, porém, um parocho que, cioso dos seus direitos, se oppoz, pelo que elles edificaram uma espaçosa capella junto ao convento, mas sempre que podem, ou os deixam, lá estão na egreja.
A influencia d’elles na fregueszia, especialmente no elemento feminino, é grande; muitas mulhers ajoelham para lhes beijar a mão, quando os encontram, e algumas choram, ao ver as obras de satanaz, como elas dizem, referindo-se aos actuais sucessos, que podem affectar a tranquilidade dos frades.
Há homens medianamente illustrados a quem elles também teem sabido hypnotisar.”


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