IDOSOS o que nos espera quando formos idosos

Acabo de ler um artigo do sr. Martins Pereira Coutinho no Correio da Manhã de 29.11.2000. Chamou-me a atenção o
título «Lares da morte». Termina dizendo que  «os idosos não querem ser enterrados vivos. Os idosos querem e têm
direito a morrer com mais dignidade e com mais respeito pelo seu passado e pela sua vida». Só quero repetir tudo o que
nos diz neste belo artigo e chamar mais uma vez a atenção para este grave problema que estaremos a descurar entre
nós, sobretudo pela falta de educação e de respeito
que campeiam por aí fora.
Com efeito, nesta fase da vida do adulto, da velhice, da terceira idade, chamem-lhe o que quiserem, há os que têm o
carinho e protecção familiar no seu próprio lar, há os que têm meios para irem para um lar ou centro pagando mais de
100 contos mensais, há os  que têm as suas economias feitas com muito sacrifício, há aqueles cujos filhos, porque não
têm espaço na sua casa e têm de trabalhar ou não querem ser incomodados, são obrigados a negociar com um Lar para
aí viverem, há os que têm a sua reformazita de metade do salário mínimo nacional e há os que ficam dependentes da
caridade, porventura depois de uma vida que foi exemplo de trabalho, de  honestidade,  de canseiras e de dignidade. E
há os que não têm mesmo nada a não ser a rua: com a  fome, o frio, o vento, a chuva e o desprezo…
As pessoas idosas não podem nem devem ser desprezadas pelos famliares ou por eles considerados um estorvo,
quando já não servem para ficar a aturar os netinhos! É este, infelizmente, o sofrimento maior que encontramos nos
idosos do nosso tempo: o reconhecimento da incapacidade de fazer alguma coisa, ficando dependentes, e o desprezo a
que são votados pelos familiares.
O mundo do consumismo, é demasiado agressivo para com o que não produz e ainda por cima estorva. A ingratidão
familiar injusta é como uma espada no coração do idoso ou do doente com invalidez mais ou menos declarada por
efeitos cirúrgicos e outros.
Então, em doentes com doenças do foro íntimo, como sejam esgotamentos e depressões só nelas acreditam os que por
elas passaram. O doente vai piorando porque não acreditam nele, mas ainda o gozam. A caridade é virtude muito rara
mesmo inter fratres.Sem maldade, mas com certo prazer, gostava que alguns chefões que nunca tiveram doenças de  
cabeça, porque não trabalharam de certeza até à saturação, experimentassem uma durante uma semana ou um mês
para depois poderem compreender os outros!
Desprezado ou marginalizado pela família e pela sociedade, ficam os Lares de idosos, as casas de repouso, os asilos.
Nestes reina muitas vezes a ganância dos donos em que os doentes são maltratados, não têm condições habitacionais e
higiénicas, com alimentação imprópria ao seu estado de saúde, falta de assistênciia médica e de enfermagem regular,
sem programas de distracção e passatempos, sem qualquer tipo de ocupação para os que ainda têm forças para fazer
alguma coisa, sem ajuda psicológica (a velhice é a pior das doenças!), sem aposentos condignos, com espaços exíguos
e falta de pessoal técnico capaz.
Dizem que em Portugal há lares de idosos clandestinos e ilegais. Mas, graças a Deus, há também lares com todas as
condições, em que os internados se sentem felizes e numa comunidade familiar coadjuvante. E as pessoas das    famílias  
visitam-nos amiúde. E há uma relação directa e constante com os familiares. Que nem tudo é mau!
Nunca é demasiado acentuar que o idoso é uma pessoa humana, com uma dignidade a respeitar  Amanhã, se Deus
nos quiser dar a graça de tal, seremos nós os idosos. O que fizermos hoje será preparar o nosso futuro.  
Encontramos políticos que tentam fazer algo de concreto para melhorar a vida dos nossos queridos idosos. Esses terão
o nosso apoio incondicional. Mas há os que deixam correr, e continuam a deixar sofrer os nossos pais e avós, morrendo
aos poucos em “armazéns de cadáveres adiados”; com esses nunca estaremos.
É indigno e desumano negociar o fim da vida das pessoas que mais não podem.
                                                                    Do livro: na força da PALAVRA de Armando Soares, nº 12, pág. 40-41.

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