Traços da vida de um anónimo 02 Na imprensa missionária

Quando em 1987 vim de férias a Portugal, pois estava a trabalhar no Ensino Secundário em Moçambique, desde 1974. Num mês e meio que fiquei na Casa de Lisboa, para conhecer mais um pouco da capital fiz um programa: de manhã, ajudava o Padre Sequeira no Economato (espaço que fiquei a conhecer o suficiente) e de tarde ia muitas vezes até às rochas da Costa da Caparica, de livro na mão para discorrer na leitura perante o espraiar das águas do mar.
Um dia propus ao Superior Geral, P. Dr. Manuel Trindade, homem de inteligência rara, propus-lhe fazermos uma Agência de Viagens, pois nessa altura era campo rendoso. Disse-me que éramos poucos. Aqui errou porque afinal uma empregada de informática seria bem paga pelos 9% que então as Empresas aéreas davam por passageiro, e ainda dava lucro para a firma missionária. Poucos dias depois põe-me na mesinha de cabeceira a nomeação para Chefe de Redacção da revista Boa Nova e do jornal Voz da Missão. Entendi melhor a nega. De Moçambique, deslocava-me em período de férias a Joanesburgo tendo substituído várias vezes capelães dos emigrantes portugueses sobretudo madeirenses. O Bispo pediu-me para ir para lá algum tempo a fim de preparar líderes para as comunidades.Indiquei-lhe para escrever ao Superior Geral e fazer o pedido. Fê-lo, mas a resposta foi negativa. Sempre: não tenho missionários, somos poucos. Tive de aceitar estas negas. Quem era eu para me impor? Além de tímido fui cobarde. A vida me ensinou que ninguém faz falta nenhuma. Muito menos eu. Muitas vezes caí na tentação de pensar: quanto mais trabalhei, mais estorvei. Mas Deus é que nos julga.

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