TEMPO A vida é um tempo a valorizar. Não o percas!

TEMPO
 A vida é um tempo a valorizar. Não o percas!

Aquilo a que estamos mais apegados e de que nos custa mais desprender-nos é a vida. E lutamos por todas as formas e meios ao alcance, para conservar a vida por mais uns minutos ou umas horas ou uns dias. Que o digam os médicos, aos quais recorremos, ao menor sinal de que a vida nos está fugindo.

Se abrirmos a Sagrada Escritura lá encontramos, já no Antigo Testamento, a distinção entre “este mundo” e “o mundo que há-de vir”. “Este mundo” é o tempo do cosmos material e, por isso, do terreno, do imperfeito e do pecaminoso; como “mundo futuro” se espera uma era nova na qual terá desaparecido o pecado e a miséria e serão recompensados os justos. Na literatura apocalíptica o “mundo que há-de vir” significa o tempo que começa depois do fim do mundo e com a ressurreição universal. No Novo Testamento, “este tempo” ou “este mundo” significam o tempo do terreno, do pecado e da corrupção, que é essencialmente mau e o seu deus é o diabo. E “o século futuro” é a era da graça, da bênção, da remissão dos pecados, que já se vai realizando nesta terra, com a vinda de Cristo, a era messiânica ou o reino de Deus que há-de desenvolver-se plenamente no último dia.

O tempo pode estar ligado a estados de clima: há o tempo sazonal, há o tempo de produzir frutos, há o tempo do nascimento dos animais, há o tempo da colheita, do nascer do sol e das estrelas, da poda, da ceifa, de recolher o gado, tempo para comer, para sair para a guerra, para fazer a paz,… (tudo isto cita a Sagrada Escritura). A vida do homem tem também o seu ritmo próprio com tempo para nascer, tempo para amar, tempo para envelhecer e tempo para morrer. É o ciclo da vida. Renovando suas forças, pode o homem voltar ao tempo da sua juventude. A vida do homem está determinada principalmente pela sua actividade responsável.
Deus também tem os seus tempos: de agrado, de cólera, de visita a determinadas pessoas ou ao seu povo, de vingança, de cura e, sobretudo, o seu dia – o Dia de Javé. (Atribuímos a Deus expressões à moda humana e que o hagiógrafo usa para fazer os leitores dos Livros Sagrados compreender o que ele escreve). O tempo em que Deus intervém na história da humanidade é naturalmente o tempo por excelência pelo objecto dessa intervenção, pois por ela se decide a sua sorte: (citando apenas alguns casos) de Madián, da Babilónia, de Jerusalém, de Amón, dos povos pagãos, o tempo de entrar no Egipto, e “o tempo de cada homem” (Lc 21, 24).
Deus determina a sorte de todos os povos. Tendo Ele um plano de salvação para o mundo, há-de realizá-lo, com certeza, em e pelo tempo. Para cada pessoa há a hora de Deus. A hora da Sua visita. Não o reconhecer ou ignorá-lo será grave porque é não acolher o maior dom que Deus oferece: a vida.

Na plenitude dos tempos o Filho de Deus fez-se homem. E esse acontecimento dividiu a história em duas partes: um tempo antes de Cristo (a.c.) e um tempo depois de Cristo (d.c.) Sempre que alguém escrever, renderá homenagem ao Filho de Deus que nasceu da Virgem Maria (ao escrever a data num documento e usando a era cristã). A Ele se referem homens e mulheres de todas as épocas. É o ponto de referência inevitável.
A história universal, a humana e a cósmica, não passa de uma lenta preparação para o nascimento do Salvador ou do progressivo espraiar-se do rio que aí começa. Cristo é o Senhor do tempo: O alfa e o omega, o seu início e o seu fim: cada ano, cada dia, cada momento estão envolvidos pela sua Encarnação e pela sua Ressurreição. E desta relação do tempo com Jesus Cristo emana a obrigação de santificarmos o tempo. É lindo o que diz Santo Agostinho «gerado por seu Pai, Jesus Cristo dispõe harmoniosamente os dias; nascendo de sua mãe, consagra o dia actual».

A nossa vida é, no fundo, o tempo em que vivemos. Dedicamos o nosso tempo àquilo que mais valorizamos. Comprometemo-nos, na programação do nosso tempo, como cristãos, a dedicarmos tempo à oração, à leitura da Palavra de Deus e dos acontecimentos, à convivência fraterna, à revisão da nossa vida, à formação contínua,… como coisas de maior valor, e decidimos dedicar-lhe o melhor do nosso tempo… mas depois, vem, por negligência ou activismo, empregamos o tempo em função de nós próprios, dos nossos gostos, das nossas coisas,… e acabamos por não ter tempo para Deus, nem para os irmãos! Estão tão ocupados, ou tão desocupados que, para nos pormos em comunicação com Deus, temos de cortar com o nosso ritmo! Doutro modo: o encontrar-se com o irmão, pessoa a pessoa, requer uma generosidade que o negligente não possui, e uma tranquilidade que o acelerado não consegue.

Mas há os chamados “tempos livres”. Aproveitá-los bem. Define o que somos: nas tardes de domingos ou dias santos ou feriados: dedicados à leitura, ao cultivo da amizade pessoal e construtiva, a visitas aos doentes, a visitas a familiares, visitas a utentes de Lares da Terceira Idade, visitas a quem vive o terrível drama da solidão, visitas aos abandonados, visitas aos pobres, a um templo para aí rezar ou ler a Bíblia, a um templo para aí meditar diante do Santíssimo Sacramento, para dar um passeio a um lugar histórico-cultural, para admirar uma paisagem deslumbrante, que nos transporta para a infinidade e grandeza de Deus, para repouso justo do trabalho semanal… ou cair de tédio na impessoal companhia do televisor, ou simplesmente ouvindo e lendo videocassetes, ou dvds…

Hoje diz-se, com frequência: «Nunca há tempo para as coisas mais importantes». Falham as relações com os pais, com os filhos, com a esposa ou o marido, com a comunidade, vive-se uma vida individualista, ou de relações frágeis. Muitos jovens contentam-se com os divertimentos, a música, o que a vida quotidiana oferece, o ambiente morno do café ou agressivo da discoteca, não conseguindo já entusiasmar-se por ideais verdadeiros e nobres.
Que exemplos damos nós, os mais velhos, nas comunidades, nas famílias, nas paróquias, nas casas de formação, nas escolas? É hora de aprendermos a gerir bem o tempo. Temos de canalizar as energias para ajudar o próximo, administrar o tempo em função dos valores talvez antes descuidados, com a criatividade, a gratuidade, a relação fraterna com os demais, a intimidade com Deus…
O superocupado suspira por tempos melhores, para se dedicar mais a Deus e aos irmãos. O negligente também deixa isso para mais tarde. Mas, quem não reza agora, por falta de tempo, também não rezará quando o tiver de sobra, mas as forças forem menos e os achaques mais!
O “hoje” que Deus nos dá é o que devemos viver em plenitude. Vivendo-o não cometendo as mesmas faltas ou erros de “ontem”, e vivendo o momento presente preparando o “amanhã”, o futuro com que sonhamos.



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