ANCIANIDADE A juventude actual trata os idosos como um pseudoespécie estranha" Konrad Lorenz In VP 07.11.2018
ANCIANIDADE
In VP 07.11.2018
A juventude atual trata os idosos como
uma pseudoespécie estranha”
Konrad Lorenz
Chegado ao topo
da sua carreira, certo político era censurado por ser ainda jovem; respondeu
“não se aflijam que isso passa-me”. Com efeito, a resposta, ao contrário da insinuação de imaturidade da
juventude, põe em relevo o óbvio: cada jovem é cada dia menos jovem.
Mas, de facto,
a juventude, enquanto dura, olha a vida na perspetiva das dezenas de anos que
tem para viver, o futuro; o velho olha-a em função do escasso tempo que lhe
resta. O minuto do velho é uma fração ínfima do seu tempo vivido; no jovem, o
instante presente é pequeníssima parte do tempo por-vir. O viver humano é a
consciência do tempo. O velho e o jovem vêem-se como estranhos e os diversos
tamanhos dos seus tempos tornam-nos espécies estranhas.
O velho
desaprova a conduta da juventude; já o velho Sócrates se queixava: “Os jovens
de hoje gostam do luxo, são mal comportados e desprezam a autoridade. Não têm
respeito pelos mais velhos e passam a falar em vez de trabalhar. Não se
levantam quando o adulto chega. Contradizem os pais. Apressam-se a ir para a
mesa e comem os acepipes. Cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres”. Os
jovens, por seu turno não a desdenham menos: troçam das tolices dos velhos, das suas inabilidades, mal
lhes suportam as incapacidades; no estremo até os abandonam nos hospitais, os
tratam mal e os exploram .Verdade seja que este quadro negro tem eloquente
réplica no adolescente que cede ao idoso o seu lugar dianteiro na fila da
bilheteira, disponibiliza o seu lugar sentado no
autocarro; e nas instituições de voluntários jovens que acolhem os idosos e os
visitam para lhes mitigar a solidão. Há muito disso.
Estas são
expressões de verdadeira cultura da ancianidade de que falava S-João Paulo II.
Na obra Psicologia do Envelhecimento e do Idoso, José H. Barros de Oliveira apresenta
princípios que poderiam ser o enquadramento teórico da cultura da ancianidade:
princípio da dignidade, princípio da autonomia, princípio do acesso aos
cuidados de saúde, princípio da participação em tudo quanto possa, princípio do
desenvo0lvimento. Falta concretizá-los institucionalmente
e no comportamento globalizado p<r< serem verdadeira cultura da
ancianidade.
O
desenvolvimento pessoal que alguns psicólogos limitam à infância e
adolescência, é um processo que se alonga por todo o ciclo
da vida, se não por fora, certamente por dentro. Não se confina à
funcionalidade ou ao aspeto económico despesista e menos produtivo. Para além
de estádios sucessivos de desenvolvimento cognitivo e afetivo, já na
antiguidade, desde logo na Bíblia, se
fala duma idade da sabedoria que, hoje, os mesmos psicólogos caracterizam:
conhecimento global do que acontece, capacidade de compreensão e de julgamento,
de tolerância e espírito compassivo.
O Dia do Idoso
(14/outubro) passou despercebido. Quem pensou nos dois milhões de idosos
portugueses? Terá pensado aquele médico sábio, de espírito compassivo que,
perante uma doente em situação quase terminal, indicava uma terapêutica
esquisita: ela não precisa de pastilhas, precisa de ser muito amada. in VP 7.11.18



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