INGLATERRA A mensagem de Páscoa de David Cameron
INGLATERRA
A
mensagem de Páscoa de David Cameron
Segunda feira, 6 de Abril de 2015 |
A mensagem de Páscoa do primeiro-ministro
inglês, David Cameron (ler aqui), é um
verdadeiro sinal dos tempos. É espantoso ouvir um primeiro-ministro dizer que
vive num país que acolhe qualquer fé, mas que ainda é um país cristão. Haverá
sempre quem pense estar-se perante uma estratégia para colher votos, mas isso
não ilude o problema. Por que razão, na mais velha democracia do mundo, na
pátria de John Locke, o pensador que defendeu, como fundamento da tolerância, a
separação entre a política e a religião, um primeiro-ministro se sentiu coagido
a reafirmar a natureza cristã do país e exemplificar como o cristianismo tem um
importante papel na vida social?
Se não
ficarmos presos a fácil explicação de eleitoralismo, talvez possamos perceber
as razões fundas que conduziram à necessidade de afirmar o carácter cristão de
Inglaterra. Na minha óptica, a razão fundamental está relacionada com o actual
momento da vida internacional e com a necessidade da defesa da democracia. Na
verdade, regimes democrático-parlamentares, com a separação de Igreja e do
Estado, são criação da cultura cristã. Podemos dizer, hoje em dia, que o
cristianismo é um dos fundamentos centrais da existência democrática. Não estou
a dizer que as democracias só existem em países onde o cristianismo é
dominante. Estou a sublinhar que foi nesses países que a democracia nasceu e
floresceu e foi de lá que ela foi importada ou exportada. A defesa do
cristianismo por Cameron é, em primeiro lugar, a defesa da democracia política.
Esta
intervenção, por outro lado, é sintoma de que nos encontramos num território
novo. As questões sociais e os antagonismos de classe não deixaram de existir,
mas tudo isso faz agora parte de algo bem mais amplo, faz parte de um choque de
culturas e de formas de compreender o homem, o mundo e a divindade. O Islão
conseguiu impor ao Ocidente a questão e está a obrigá-lo a sair do estado de
indiferença perante a religião. E como é que o Islão conseguiu questionar a
posição do Ocidente perante a religião? Através de actos políticos, entre eles
os actos de terrorismo político. Lentamente, começa-se a perceber que uma
sociedade sem um forte fundamento religioso corre perigos de desagregação.
Falta perceber o alcance profético da mensagem de Cameron. Será uma voz a
pregar no deserto ou anuncia o momento - mais ou menos próximo - em que as
comunidade políticas europeias, numa tentativa de sobrevivência, se voltam a
afirmar, sem vergonha, como cristãs?
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