PORTO LEIGOS B N DIANA e SOFIA O milagre da partida por pe. pedro José
Começo pelo mais difícil. As
lágrimas contidas de quem não esteve fisicamente no lugar-da-partida. Tudo
o que foi sentido e vivido para chegar até aqui. Racionalizo e tento digerir as
ideias de Marc Augé, sobre os não-lugares, tomando então o Aeroporto
Francisco Sá Carneiro como o «local» fecundo de memória e de identidade, para-partir-de-novo.
No concreto, a partida de duas jovens, a Diana e a Sofia, que pertencem aos
“Leigos Boa Nova” (LBN), que são um grupo de voluntários cristãos, membros da
organização não-governamental de desenvolvimento, “Obra Missionária de Acção
Social” (OMAS), instituição particular de solidariedade social criada em 1992.
Partiram hoje, pela manhã,
rumo a Moçambique, no dia 1 de Abril de 2015. Isto não é mentira… não é a
verdade do dia das mentiras!? Deveria abrir a grelha noticiosa do telejornal! É
a Verdade encarnada em rosto e histórias de vida, que é sempre simples, sempre
sacrificada, e sempre generosa, quando se existe para servir os outros.
No não-lugar do aeroporto, onde tantos jovens no nosso país, neste
momento difícil, partiram e regressam, para partir novamente. Estas jovens
partiram para realizar um projecto de voluntariado missionário por dois anos. É
a segunda vez nas suas vidas pessoais, de forma mais permanente.
Cruzei-me com elas na
comunidade paroquial da Chapadinha, no Maranhão-Brasil, onde as vi, entre
muitas actividades e serviços, pôr de pé a Pastoral Penitenciária, fazendo da
Prisão – isso sim também «não-lugar», não apenas da nossa hiper
modernidade - dignificando a Pessoa presa. Da sua coragem pessoal, aliando
vontades de várias pessoas, até à acção de ternura e de justiça, onde não
existiam. Milagres possíveis acontecem ordinariamente. Para mim foi um
verdadeiro “murro no estômago” no meio de uma pastoral conformada e
acomodada. Hoje na sua partida a criatividade e a competência surgem
reforçadas, e voltarão a fazer revoluções pacíficas, sobretudo, evangélicas.
No endereço digital desta
associação de leigos podemos aprofundar sobre a importância deste testemunho de
serviço: “O voluntariado enraíza-se na caridade e busca a dignidade e o bem do
“outro” que se encontra em situação de necessidade. Este “outro”, na perspetiva
cristã, não é apenas um outro “eu” mas configura-se ao próprio Jesus Cristo. As
palavras de Jesus não deixam margem para dúvida: “Sempre que fizestes isto a um
destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes (Mt 25,40)”[1].
Sei que Zygmunt Bauman disse
coisas interpelantes sobre a nossa sociedade “líquida”. Sei sobre a
(im)possibilidade trágica de uma verdade “líquida” deformadora de valores e do
carácter. Sei que se for feita da seiva do evangelho e, concretamente, com a
água do “Lava Pés”, nada há que temer da Verdade do nosso tempo presente. Sei
que os milagres existem onde os vemos. Sei que os milagres existem onde não os
vemos. Sei que os milagres possíveis e os impossíveis acontecem dentro da
Verdade Pascal (em qualquer estado da matéria humana…), enquanto houver a
ousadia do nosso testemunho, como cristãos. Aliando todos as vontades crentes e
descrentes. E sei, também, pelo testemunho da Diana e da Sofia, que os “milagres-da-partida”
são raros, baratos no dinheiro poupado, mas caros na Graça a partilhar.
Agradeço a sua partilha como modo de estar e ser para os outros. Aconteceu-me
já Páscoa antecipada, no dia das mentiras dos nossos pecados, pela virtude do
seu testemunho!
Pedro José, CDJP, Gafanha da
Nazaré/Encarnação/Carmo,
01-04-2015, caracteres (incl.
esp), 3558.
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