MADAGÁSCAR/ pobreza desumana Papa inicia viagem com alertas contra a corrupção e a «pobreza desumana»
MADAGÁSCAR/ pobreza desumana
Papa inicia viagem
com alertas contra a corrupção e a «pobreza desumana»
Set 7, 2019 - 8:44 Ecclesia
Nação insular é uma das mais
pobres do mundo, apesar das suas riquezas naturais
Papa Francisco com o presidente de Madagáscar |
O Papa criticou hoje em Madagáscar a corrupção e as
desigualdades sociais que provocam situações de “pobreza desumana” no país,
considerado um dos mais pobres do mundo.
“Encorajo-vos a
lutar, vigorosa e decididamente, contra todas as formas endémicas de corrupção
e especulação, que aumentam a disparidade social, e a enfrentar as situações de
grande precariedade e exclusão que geram sempre condições de pobreza desumana”,
referiu, no primeiro discurso em Antananarivo, onde chegou esta sexta-feira,
após uma viagem a Moçambique.
Perante autoridades
políticas, representantes da sociedade civil e do corpo diplomático, no Palácio
Presidencial, o pontífice defendeu uma “melhor distribuição do rendimento e a
promoção integral de todos os habitantes”, especialmente dos mais pobres, e a
preservação dos recursos naturais da chamada “ilha vermelha”, “rica de
biodiversidade vegetal e animal”.
“Esta riqueza está
particularmente ameaçada pelo excessivo desflorestamento em proveito de poucos;
a sua degradação compromete o futuro do país e da nossa Casa Comum”, alertou
Francisco.
A intervenção elencou
uma série de riscos, como os incêndios, a caça furtiva, o corte de madeiras
preciosas, o contrabando e as exportações ilegais.
Não pode haver verdadeira abordagem ecológica nem uma ação concreta de
salvaguarda do meio ambiente sem uma justiça social que garanta o direito ao
destino comum dos bens da terra às gerações atuais, mas também às futuras”.
O Papa começou por
evocar um dos valores “fundamentais” da cultura malgaxe, o ‘fihavanana’, termo
que evoca “o espírito de partilha, ajuda mútua e solidariedade” e inclui “a
importância dos laços familiares, da amizade e da benevolência entre os homens
e para com a natureza”.
“Se temos de
reconhecer, valorizar e apreciar esta terra abençoada pela sua beleza e
inestimável riqueza natural, não é menos importante fazê-lo também pela alma
que vos dá a força de permanecer empenhados com a ‘aina’, isto é, com a vida”,
acrescentou.
Francisco destacou, a
este respeito, o valor d património cultural de cada povo, considerando que “a
globalização económica, cujas limitações são cada vez mais evidentes, não
deveria conduzir a uma uniformização cultural”.
O Papa falou da política como “um desafio permanente” para o serviço aos mais vulneráveis, com um desenvolvimento “digno e justo”. |
O Papa falou da política como “um desafio permanente” para o
serviço aos mais vulneráveis, com um desenvolvimento “digno e justo”.
“Desejo reafirmar a
vontade e disponibilidade da Igreja Católica em Madagáscar para, num diálogo
permanente com os cristãos das outras confissões, com os membros das diferentes
religiões e com todos os atores da sociedade civil, contribuir para o advento duma
verdadeira fraternidade que valorize sem cessar o ‘fihavanana’, promovendo o
desenvolvimento humano integral de modo que ninguém fique excluído”, concluiu
Francisco.
Antes, o presidente
malgaxe, Andry Rajoelina, disse que o país tem um povo “corajoso”, que quer
“começar um novo capítulo”.
Simbolicamente, Francisco e Rajoelina plantaram um baobá, à entrada do palácio. |
“Madagáscar é um
grande país, a maior ilha do continente africano, é uma terra abençoada pelo
Senhor, rica, com recursos impressionantes e um potencial incalculável”,
referiu o chefe de Estado, católico.
“Vim como semeador de
paz e esperança: possam as sementes lançadas nesta terra dar ao povo malgaxe
frutos abundantes! O Senhor vos abençoe a todos”, escreveu o Papa, em francês,
momentos antes, no Livro de Honra.
Após este encontro, o
Papa desloca-se ao Mosteiro da ordem das Carmelitas Descalças, para um momento
de oração.
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