MADAGÁSCAR/ terra rica mas pobre
MADAGÁSCAR/ terra rica mas pobre
Terra rica de recursos, mas pobre e faminta
Vatican news
O
problema da desnutrição crônica em Madagascar, onde o Papa Francisco é esperado
de 6 a 8 de setembro, é definido alarmante. Variedade e disponibilidade de
produtos da terra continuam sendo condições potenciais em uma realidade feita
de miséria. Entrevistas com o vice-diretor do Programa Alimentar Mundial e dois
religiosos
Cidade do Vaticano
O Papa está para visitar a
grande ilha de Madagascar, onde 42% da população passa fome. “Na base do
problema há a baixa renda da população e o pouco conhecimento de práticas
alimentares mais saudáveis”, disse Cédric Charpentier, vice-diretor do Programa
Alimentar Mundial - Madagascar.
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Mudanças climáticas e resiliência
“Na realidade em Madagascar tem
de tudo”, esclarece Charpentier. “Há regiões com uma agricultura produtiva, mas
há muitas áreas nas quais os recursos naturais estão continuamente ameaçados
pela alta frequência de mudanças climáticas e poucas infra-estruturas públicas.
Madagascar é um dos dez países africanos mais expostos às catástrofes naturais,
o primeiro no continente pelos danos causados pelos ciclones”. A agricultura, a
pesca e a silvicultura (ciência que se dedica ao estudo dos métodos naturais e
artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais) são a base da
economia malgaxe. Todavia, são também numerosos os incêndios registrados nos
últimos anos que tornam vastas áreas do país totalmente áridas. O arroz é a base
e o principal produto da colheita da ilha, mas a produção é insuficiente para
satisfazer as necessidades internas. As regiões do sul produzem grandes
quantidades de mandioca, mas a maior parte é desperdiçada. Somente em 2016 as
famílias perderam até 90% de suas plantações por causa das chuvas
insuficientes, privando-as de alimentos por muitos meses.
Formação das mulheres
Em uma realidade como esta,
acabar com a fome e trabalhar para criar e intensificar as parcerias são os
principais objetivos do PAM em Madagascar, cujas intervenções foram realizadas
em apoio ao governo, em conformidade com os objetivos do desenvolvimento sustentável
das Nações Unidas. “Temos um plano estratégico de 300 milhões de dólares para
os próximos cinco anos”, explica o vice-diretor. Para nós é importante reforçar
a relação ‘ajuda humanitária-desenvolvimento’, construir a resiliência,
enfrentar as causas profundas da vulnerabilidade crônica, preparar as pessoas à
capacidade de resposta às mudanças climáticas”. A maior parte dos projetos são
destinados ao grande sul do país, a parte mais pobre e há muito investimento na
formação das mulheres, porque elas “não têm acesso à propriedade da terra”.
Os refeitórios escolares
A fome em Madagascar faz com que
se perca 14,5% do PIB porque a desnutrição se reflete nas despesas de saúde,
escolas e perda de produtividade no mercado de trabalho. É um triste círculo
vicioso. Aqui 45% das crianças com menos de 5 anos sofrem de hipotrofia, atraso
de crescimento. O trabalho do PAM para melhorar suas condições de vida é
fundamental: “Desde 2006 o número de crianças inscritas na escola primária
diminui consideravelmente”, explica Charpentier. “Para nós, a continuidade
escolástica é fundamental. Portanto os refeitórios são importantes e devem
aumentar. Há 24 mil escolas públicas primárias mas apenas 1.300 delas possuem
refeitório. Isso quer dizer que apenas 350 mil estudantes têm uma refeição
garantida por dia. Os outros 4 milhões de crianças não recebem nada para comer
na escola”.
Instrução para desenvolver
Dom Luciano Mariani, delegado da
Obra Dom Orione mora no bairro Anatihasu a poucos passos do centro da capital.
Dom Luciano conta que 70% da população vive abaixo da linha de pobreza mundial,
e que as pessoas atraídas pela capital, e melhores condições de vida,
acomodam-se onde podem sem possibilidade de construir uma casa. “Por exemplo a
maior parte das famílias das nossas crianças o pai não está presente, a mãe
lava roupa para fora. Ganham pouquíssimo. Muitas vezes, quando caminho pelo
bairro digo ‘isso não é pobreza, é miséria’. O que é bem mais grave”. Dom
Luciano faz uma comparação com 20 anos atrás: “Posso dizer que neste bairro não
houve uma evolução, também porque 12 anos atrás um ciclone destruiu alguns
canais que traziam água potável. Tornou-se um lamaçal e mesmo quando chove como
nestes meses, não chega água potável nas casas. Nos arredores das casas fica tudo
alagado, por isso há passarelas de madeira para ir de uma família a outra. Na
nossa paróquia quase todos vivem nestas condições”
Por que esta paralisia? “Digamos
que por um lado o governo não pensa em criar estruturas para as pessoas, por
outro as família não têm meios necessários para melhorar as próprias condições
de vida. Por exemplo, a maior parte deles trabalha de manhã para poder almoçar
ao meio dia; trabalha a tarde a poder comer à noite. Portanto se o objetivo
primário é o de encontrar comida para almoço ou jantar, não há tempo para
pensar a longo prazo. O único caminho é dar educação às crianças”.
A Igreja e a assistência à saúde
A fragilidade de Madagascar
reflete-se de modo claro no âmbito da saúde: Madagascar ainda não se livrou
completamente da lepra, a malária é endêmica todo o ano e são numerosas as
doenças parasitárias e causadas pela falta de normas higiênicas. A presença de
religiosos neste âmbito revelou-se em menos de um século como um recurso
fundamental com o serviço nos hospitais públicos ou a administração direta de
estruturas onde os doentes podem receber assistência adequada. Entre estas irmã
Maria Jardiolyn, filipina, evidencia a atenção à pessoas mais pobres
“Na capital, as nossas irmãs
prestam serviço em um dos maiores hospitais”, conta a religiosa. “É um hospital
público, mas muito carente. O nosso papel é principalmente estar presentes para
facilitar o serviço e cuidar dos doentes. Além disso nós administramos o
hospital da Congregação e um outro que é da diocese. Isso nos facilita para
ajudar os pobres. Recebemos muitos voluntários e há mais de dez anos chegam
médicos de todas as especializações para ajudar o nosso serviço e anunciamos
pelo rádio a sua disponibilidade para que as pessoas os procurem para serem
tratadas”.
Lutar com as superstições
Irmã Maria conta que há muita
superstição no país. “Em algumas regiões de Madagascar ainda é necessário
ensinar à população que quando as pessoas estão doentes devem ser levadas ao
hospital. Muitos deles quando vêm, já estão em condições muito graves, porque
ainda não acreditam em curas hospitalares. Portanto, além de tratar procuramos
fazer esta pastoral para evitar que as crianças, ou as mulheres grávidas,
cheguem quando já não se pode fazer mais nada. Muito ainda vão sob as árvores
porque acreditam que as árvores tenham poder de curá-los”.
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