Maurícias: uma «conversão ecológica integral» num oásis de paz por P. Armando Soares
Maurícias: uma «conversão ecológica integral» num oásis de paz
11 Setembro,
2019 (JM-145)
Homenagem
ao «apóstolo» dos escravos
O Papa Francisco chegou no dia 9 de setembro, à República da
Maurícia, para uma viagem de oito horas. Foi recebido na capital do país, Port
Louis, por dezenas de milhares de pessoas, num dia de chuva e forte vento,
depois da cerimónia oficial de boas-vindas no aeroporto, com a presença do
primeiro-ministro Pravind Jugnauth e o bispo local, cardeal Maurice Piat.
A visita foi marcada pela homenagem ao Beato Jacques-Désiré
Laval (1803-1864), missionário e médico francês beatificado em 1979, cujas
relíquias estiveram expostas no altar da Missa a que o Papa presidiu, no belo
Monumento de Maria Rainha da Paz, centro de peregrinações, e que eu tive a
graça de conhecer numa visita à ilha, durante uma semana. (Ilha com uma orla de
poucos kms de turismo – belas praias e bons hotéis à volta – e um interior de
muita pobreza).
A celebração contou com a presença de 100
mil fiéis da Maurícia e outras ilhas do Oceano Índico. Evocando o religioso
espiritano, o Papa disse: “O amor de Cristo e dos pobres marcou de tal maneira
a sua vida que ele “aprendeu a língua dos escravos recém-libertados e
anunciou-lhes de maneira simples a Boa Nova da salvação”. Francisco desafiou a
Igreja a confiar nos
“pobres e descartados”.
A população saudou o Papa com ramos de palma, como símbolo
das 100 mil palmeiras que vão ser plantadas na ilha para reflorestar o
país.
A primeira Missa na ilha Maurícia foi celebrada em 1616
pelos jesuítas e a sua evangelização teve um grande impulso com a chegada dos
padres vicentinos, no século XVIII; a maior parte da população é hindu, devido
à imigração indiana, e os católicos representam cerca de 28% dos 1,3 milhões de
habitantes. São João Paulo II visitou a Maurícia de 14 a 16 de outubro de 1989.
Jovens
são a primeira missão da Igreja
Segundo o jesuíta Padre Cheung, o grande desafio nas Maurícias,
para a Igreja e para sociedade, é o problema da droga. Há muitos
jovens que são completamente “escravos da droga”.
Francisco deixou uma mensagem muito forte e de confiança nos
jovens: “O beato Jacques Laval deu à Igreja mauriciana uma nova juventude. Os
jovens são a primeira missão da Igreja. Na ilha, não obstante o crescimento
económico, são eles os que mais sofrem com o desemprego e a falta de
perspetivas.”
“Um futuro incerto, que os descarta e obriga a conceber a sua
vida à margem da sociedade, deixando-os vulneráveis e quase sem pontos de
referência perante as novas formas de escravidão deste século XXI.”
“ Não deixemos que nos roubem o rosto
jovem da Igreja e da sociedade! Não permitamos aos mercadores de morte roubar
as primícias desta terra!”, acentuou.
Proteção
dos mais pobres e da natureza
Estou feliz, disse o Papa, “pela possibilidade que esta breve
visita me dá de encontrar o povo mauriciano, caraterizado não só por um rosto
multiforme no plano cultural, étnico e religioso, mas também e sobretudo pela
beleza que provém da capacidade de reconhecer, respeitar e harmonizar as
diferenças em função de um projeto comum”.
“Acolhei os migrantes como os vossos antepassados souberam
acolher-se uns aos outros, como protagonistas e defensores duma verdadeira
cultura do encontro, que permita a todos a sua dignidade e os seus direitos.”
“Merece nosso apreço a tradição democrática, que contribui para
fazer das Ilhas Maurícias um oásis de paz. Faço votos de que possa ser
cultivado e desenvolvido, contrastando nomeadamente todas as formas de
discriminação com este estilo de vida democrática, referiu.
“O crescimento económico nem sempre beneficia a todos – e o Papa
propôs o desenvolvimento duma política económica orientada para as pessoas, com
“criação de oportunidades de trabalho e promoção integral dos mais pobres”.
Francisco apelou a uma “conversão ecológica integral”, como
escreveu o cardeal Maurice Piat. “Manifestou o apreço pelo modo como trabalham
juntas, nas Ilhas Maurícias, as várias religiões, contribuindo para a paz
social e recordando o valor transcendente da vida contra todo o tipo de
reducionismo”, disse o Papa.
Exemplo
de convivência pacífica
A respeito da visita do Papa às Maurícias – antes do evento – o
jesuíta padre Georges
Cheung traçou um quadro da
realidade da Igreja local e dos problemas que afligem o país colocando em
evidência a riqueza da convivência pacífica entre as várias camadas da
sociedade.
Há dois aspetos para a Igreja Católica: é uma grande alegria,
porque é o Papa é o chefe da Igreja que visita nosso país. Para os outros
também é uma grande alegria, porque o povo das Maurícias respeita muito as
autoridades, a figura do Papa.
Para receber o Papa Francisco devemos preparar o nosso coração,
o nosso espírito como quando fazemos uma peregrinação à Terra Santa. O povo
espera uma palavra do Papa que reforce a nossa fé porque temos muitas
dificuldades: a pobreza, as drogas… e algumas vezes nos sentimos
desencorajados…
E termina, dizendo acreditar que a população de Maurícia possa
dar também uma mensagem de esperança. É verdade que temos os nossos problemas,
mas ainda sabemos viver mais ou menos em paz, e num lugar onde se pode viver
feliz.
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