PÁSCOA Vive ressuscitado num mundo novo

PÁSCOA
Vive ressuscitado num mundo novo * por ARMANDO SOARES 

 Cantando vitória a morte venceu-a quem é mais forte, diz a Liturgia pascal!

Todos os homens nascem para morrer. Mas em Jesus Cristo, todos nascem para viver. É lei irrevogável da vida animal: nascer, crescer, morrer. Também o homem, enquanto animal, segue este ciclo da vida.
Mas Deus criou o homem à sua imagem e semelhança: numa vida com sabor a eternidade. Se o homem perdeu este "sabor" pelo seu mau comportamento, pela sua desobediência, o próprio Deus tomou a iniciativa de o salvar. Prometeu a salvação, a libertação da morte a que foi condenado.

Jesus, o Filho de Deus, o Messias esperado fez-se homem "na plenitude dos tempos", foi enviado pelo Pai ao meio dos homens, morou e morreu entre os homens, tendo pregado uma mensagem de fraternidade, de humildade, de paz, de desprendimento, de serviço, de felicidade, passando por louco aos olhos dos homens ávidos do material, do prazer, do hedonismo, do poder, do dinheiro, de serem ídolos, oprimindo como escravos os outros homens.
Jesus terminou pregado numa cruz como um malfeitor. Porque "se fez filho de Deus", porque sua palavra incomodava os grandes senhores, era preciso fazer calar a voz do Nazareno. Não dormiam descansados os fariseus e os escribas, os atingidos pela palavra daquele "sedutor de multidões". É que muitos acreditavam nele e seguiam-no por todo o lado para onde ia: curando os doentes e falando como "ninguém tinha tido coragem para falar até então".

Mas os grandes condenaram-no à morte. É certo que estava nos planos do Pai. E seguiu o caminho como estava escrito. Sepultado no sepulcro novo emprestado por José de Arimateia, esse seria o grande lugar histórico da ressurreição. "Ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro. Houve um grande terramoto. Encontraram um anjo que lhes disse: Não tenhais medo, sei que procurais Jesus, o Crucificado... ressuscitou. Ide depressa dizer aos discípulos: Ele ressuscitou dos mortos e preceder-vos-á na Galileia. Lá o vereis". E as mulheres correram a levar a boa notícia.

Mulheres chorando, discípulos tristes e desanimados, ânimos abatidos, o Mestre morto, o "tudo" da vida desaparecido, a queda brusca no abismo... E, de repente, tudo se renova, Cristo ressuscita, Cristo está vivo, fala com eles, surge a ousadia, a alegria... a morte está vencida.
"Nasce o sol da Páscoa gloriosa", "Cristo ressurge da morte", "a velha humanidade se renova", "a nova criação hoje começa", um homem novo nasce. Durante estes dois mil anos passados se cumpriu o mandato de Jesus: "Ide e ensinai...". Os cristãos levaram a grande festa ao mundo inteiro proclamando a Boa Nova às nações. A civilização recebeu a "unção", "a inculturação cristã" e, em muitos séculos, o cristianismo foi inspirador de grandes ideais, e de momentos altos da história bimilenar desta Europa que vai caminhando como barco sob o ímpeto de ondas furiosas. Uma constante: guiada pelo Espírito, a Igreja fez sempre "opção pelos pobres", apesar dos erros de alguns membros da comunidade.

A Igreja católica e cristã, apesar do muito que custe a alguns ateus ou agnósticos e a crença com ressaibos de há cem anos (o que revela o grande atraso em que está Portugal), foi sempre a primeira na educação, com as escolas catedralícias e escolas dos mosteiros, no campo da saúde e até da agricultura. Foram homens da Igreja, conselheiros de reis e príncipes. Lutaram pela dignidade do homem mais do que ninguém. Um católico dinâmico ou uma simples paróquia fizeram mais pelos pobres e trabalhadores, que alguns partidos em todos os anos que existiram, com o palavreado que disseram! Percebe pouco de história quem reflecte acontecimentos como a Inquisição ou as missões - reduções do Paraguai, com a mentalidade ocidental dos dias de hoje, de um pós-modernismo anticlerical e jacobino. Nem todos têm cultura suficiente para se deslocarem no tempo e entenderem a razão de ser de instituições surgidas e desaparecidas em contextos diferentes do nosso. É preciso ser inteligente e estudioso.

Hoje, como ontem, umas instituições nascem e outras desaparecem. E a história continua. A Igreja gloria-se naqueles que, como o seu mestre, morreram pela verdade, pela defesa dos direitos humanos, e gloria-se por aqueles que, hoje como há dois mil anos, num ambiente pagão muito semelhante, lutaram e lutam com audácia pelos direitos do homem novo, do homem como Deus o quis e quer, do homem e da mulher responsáveis, capazes de fazer um mundo novo, aproveitando o desenvolvimento da ciência e da técnica para o bem-estar de toda a humanidade. De todos os homens e mulheres.

Ressuscitemos, amigos. Renovemo-nos hoje. Aceitemos ser verdadeiros homens ou ser verdadeiras mulheres. Aleluia!  
* IN "na força da palavra", 67, 2ª edição.

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