Revista BOA NOVA ABRIR CAMINHOS À DIGNIDADE E AO SONHO por ARTUR DE MATOS *

Revista BOA NOVA
ABRIR CAMINHOS À DIGNIDADE E AO SONHO  por ARTUR DE MATOS *
ESLOVÉNIA. Fronteira de arame farpado.

Saturam as imagens das barreiras com ou sem arame farpado e as das fronteiras fechadas com polícia e militares. Saturam, incomodam, revoltam, porque toda a fronteira, barreira, gradeamento, muro, vedação demarcam um retrocesso de civilização alicerçado no egoísmo e na exclusão. Um mal menor – dizemos nós. Mas, um mal que, por ser tão comum, tão assimilado, se transforma em bem, em segurança… por causa dos outros que são ladrões, assassinos, adúlteros, criminosos…
Onde estão, de facto, as barreiras? Não será que as há éticas, muito primeiro que as físicas, na consciência
e no coração das pessoas?
Como foi inédito, bonito, único aquele viajar pelas ruas da Eslovénia em que nos apercebemos da falta de
muros e de vedações nas casas. Estas surgem, como cogumelos livres, no meio da pradaria ou dos relvados, sem qualquer muro ou vedação. Parece que cada vizinho é um familiar e não há medo de intromissão, roubo, assalto. Tudo é livre, e as crianças tanto brincam na soleira da sua casa como rente à casa do vizinho. Não há barreiras.
Ao ver isto, alguém, do grupo, comenta: “e se o mundo fosse assim! Como seria bonito e diferente!” Como andamos longe do princípio! Como foi que o progresso deu cabo da relação? Abrir caminhos à dignidade e ao sonho, eis a missão de todo o homem e mulher de boa vontade. Difícil, difícil! Tão arreigados estão os hábitos e os medos que se inculturaram na consciência dos povos que se torna, agora, uma missão quase impossível mudar leis e comportamentos separacionistas entre as pessoas e raças. Sem muros, sem fronteiras, sem gradeamentos nas casas já não se vive, já não se está seguro. Como andámos para trás, meu Deus! Poder-se-á ainda recuperar caminho na construção  e um mundo fraterno, respeitoso, acolhedor? Pertencerá essa tarefa aos “bem-aventurados os que constroem a paz”,” e aos bem-aventurados os
misericordiosos”.
As religiões e, em especial, o cristianismo têm de contribuir para que surjam esses construtores da paz e esses misericordiosos. Sem eles, o mundo será uma selva transformadas em reserva desnatural, também

cercada e sem saída. Por isso, para evitar isso, é que vão surgindo homens e mulheres sem medo, cuja ideologia é o amor e entendem o progresso como o regresso ao homem. Estão lá aonde mais ninguém se atreve a ir e a viver. Para abater as barreiras, que moram nas consciências e nas leis, são capazes de dar a vida pelos outros que “são estrangeiros” e assim morrem na terra que – dizem os passaportes – não são deles mas que os enterram como seus, já que o amor é muito mais forte que a morte, que a lei, que a fronteira. Morrem beijados, chorados pelos seus irmãos, agora não estrangeiros, mas todos nacionais. Evoco, com emoção e justiça, tantos missionários e missionários que por causa do Evangelho andaram para trás, no caminho da dita civilização, à procura dos irmãos que ficaram, também eles, para trás. Enterrados para sempre em solo universal. Abrir caminhos à dignidade e ao sonho dos povos, eis a bela aventura de quem ama a Deus e O não larga do coração porque sempre O vê no seu irmão de qualquer raça ou cor. Só Deus abate as barreiras. Tirá-lO das leis e da economia é cercar o homem. * Diretor    in BOA NOVA editorial  abril 2016

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