Francisco denuncia persistência de heresias que se escondem por trás de «selva de preceitos e prescrições»

A terceira exortação apostólica do pontificado diz mesmo que um santo não é uma pessoa “excêntrica, distante, que se torna insuportável pela sua vaidade, negativismo e ressentimento”.O Papa, que tem sido alvo de críticas por alguns setores católicos, refere que na Igreja convivem “legitimamente” diferentes maneiras de interpretar muitos aspetos da doutrina e da vida cristã. “Com frequência, verifica-se uma perigosa confusão: julgar que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com uma certa lógica, já somos santos, perfeitos, melhores do que a ‘massa ignorante’”, adverte. Francisco adverte para o perigo de uma “autocomplacência egocêntrica e elitista” nas comunidades católicas, que leva ao exibicionismo à “obsessão pela lei” e à fixação na defesa da “doutrina e do prestígio da Igreja” 
“É nisto que alguns cristãos gastam as suas energias e o seu tempo, em vez de se deixarem guiar pelo Espírito no caminho do amor, apaixonarem-se por comunicar a beleza e a alegria do Evangelho e procurarem os afastados nessas imensas multidões sedentas de Cristo”, observa. O texto critica explicitamente a persistência de “duas heresias” que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo e continuam a ter uma “alarmante atualidade”: o gnosticismo e o pelagianismo. O gnosticismo, escreve Francisco, apresenta uma salvação meramente interior, “fechada no subjetivismo”, uma mente “sem Deus e sem carne”, marcada pela ausência de “mistério”.
“Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre, mesmo que o vejamos destruído pelos vícios ou dependências, Deus está presente na sua vida. Se nos deixarmos guiar mais pelo Espírito do que pelos nossos raciocínios, podemos e devemos procurar o Senhor em cada vida humana”
Quanto ao pelagianismo, Francisco adverte para a glorificação da vontade humana, sem consciência dos limites e ignorando a iniciativa divina. “Sem nos darmos conta, pelo facto de pensar que tudo depende do esforço humano canalizado através de normas e estruturas eclesiais, complicamos o Evangelho e tornamo-nos escravos dum esquema que deixa poucas a
berturas para que a graça atue”, lamenta.
Estas duas heresias estiveram recentemente no centro da ‘Placuit Deo’ (Aprouve a Deus), da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), carta enviada aos bispos da Igreja Católica “sobre alguns aspetos da salvação cristã”.
A ‘Gaudete et Exsultate’ é a terceira exortação apostólica do Papa Francisco.
Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Laudato si’, dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI; e as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho) e ‘Amoris Laetitia’ (A alegria do amor).
O Papa promoveu ainda um Jubileu da Misericórdia (dezembro 2015-novembro 2016), terceiro ano santo extraordinário na história da Igreja Católica, e um Ano da Vida Consagrada.  OC|ECCLESIA

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