Igreja Católica vai ordenar mulheres mas não será com este
Papa
O papa Francisco disse, em 2016, que a última palavra
sobre a ordenação de mulheres foi dada por João Paulo II
Arcebispo de Viena, conselheiro de Francisco, defende que tema deveria ser discutido em Concílio, mas há quem duvide
"A ordenação de mulheres devia estar resolvida há muito.
Não devia ser preciso um concílio. A Igreja Católica não pode continuar a ser
uma instituição machista e misógina." Quem o diz é Anselmo Borges, padre e
professor universitário, a propósito das declarações recentes do cardeal
Christoph Schönborn, conselheiro do Papa, que referiu, em entrevista, que a
ordenação de mulheres deve ser decidida num concílio da Igreja.
"Teoricamente sou favorável a um concílio, mas há o perigo de este não ser
favorável à ordenação das mulheres. Acredito que é uma questão de tempo até
acontecer, mas não será para breve", diz o sacerdote.
As declarações do arcebispo de Viena trouxeram, uma vez mais, a
questão da ordenação de mulheres como "diáconas, sacerdotisas e
bispas" para a discussão. Schönborn considera que esta é uma decisão que
terá de ser tomada por representantes de todo o mundo, e não apenas pelo Papa.
Embora diga concordar com o concílio, Anselmo Borges tem dúvidas de "que
seja a favor da ordenação das mulheres, já que muitos bispos vêm do tempo de
João Paulo II e de Bento XVI. São conservadores". Em África, por exemplo,
"a maioria seria contra, porque a perceção da igualdade de direitos entre
homens e mulheres não é a mesma".
A não ordenação de mulheres pela Igreja Católica - que já é
possível na Anglicana, por exemplo - é, para o teólogo, um dos seus
"problemas fundamentais". Anselmo Borges lembra que "Jesus tinha
discípulos e discípulas", pelo que "é contra a vontade de Jesus que
as mulheres sejam discriminadas na Igreja". Além disso "isso é ser
contra a igualdade dos seres humanos".
Teresa Toldy, teóloga e uma das vozes que defende esta
ordenação, concorda com um concílio para tratar o tema, mas que não seja apenas
constituído por homens, como é habitual. "É uma decisão que teria de ser
assumida pela Igreja nos países todos, mas teriam de estar presentes
mulheres." Tendo em conta as várias maneiras como a questão é vista pelos
diferentes países, considera que esta "deve ser discutida, porque se for
imposta, as igrejas a nível global podem reagir mal". A teóloga não
acredita que a ordenação de mulheres aconteça no pontificado de Francisco.
"Não pode fazer tudo", frisa. Contudo, destaca, "este Papa está
a abrir portas e é importante que os católicos e o clero não deixem que elas se
fechem". Ao DN, Teresa Toldy recorda os argumentos da Igreja para a
exclusão das mulheres: "Dizem que não há evidências históricas da
ordenação de mulheres, que Jesus Cristo era homem e não pode ser representado
por uma mulher no altar e que na última ceia só estavam homens."
Fundamentos que considera "claramente discriminatórios e que não são
coerentes com a mensagem de Jesus Cristo, de não exclusão de ninguém".
Discutir
no seio da Igreja
Em 2016, o Papa Francisco disse que "sobre a ordenação das
mulheres, a última palavra, clara, é a de São João Paulo II, e ela
permanece" (em 1994) o papa Wojtyla escreveu a carta apostólica Ordinatio
Sacerdotalis, em que assinalou: "A ordenação sacerdotal, pela qual se
transmite a missão que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar
e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o início e sempre,
exclusivamente reservada aos homens." Mas lembrou que não existe Igreja
sem "dimensão feminina".
Este é um tema que, na opinião de frei Fernando Ventura,
franciscano capuchinho, "deve ser discutido no seio da Igreja, com
discernimento, palavra-chave do ministério do Papa Francisco", seja
"num concílio ou num sínodo". "Enquanto cidadão, não me repugna
absolutamente nada a ordenação de mulheres, seria alguma coisa de natural. Mas
enquanto padre, tenho de me conformar com as normas vigentes."
Para o teólogo, está em causa a tradição. "A haver abertura
para a mulher caminhar para o sacerdócio feminino, teria de passar primeiro
pela diaconia", sublinha, acrescentando que "se calhar isso será
ainda para o nosso tempo". Acredita que "a maioria das pessoas não
veria com maus olhos ter uma mulher à frente de uma paróquia, mas isso não pode
ser imposto de cima para baixo". Fernando Ventura ressalva, no entanto,
que o sacerdócio não pode ser visto como "um grau superior ou de
poder". "Não precisamos de mais hierarcas, mas de gente que queria
servir, de acordo com a sua sensibilidade", adverte.
Homens
casados mais perto
Mais próxima do que a ordenação de mulheres estará, segundo os
teólogos ouvidos pelo DN, a de homens casados. "Estou convicto de que está
para muito breve. Vai haver um sínodo na Amazónia [em 2019] e deverá ficar
decidida aí. O Papa vai dar a possibilidade de ordenar homens casados",
afirma Anselmo Borges. Uma opinião semelhante à de Teresa Toldy: "Penso
que estará para mais breve. Havendo escassez de clero, tem de se ver se é mais
importante a missa ou o celibato. Dá-me a ideia de que é a missa."
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