MOÇAMBIQUE ataque de grupo armado
MOÇAMBIQUE ataque jihadistas
Bispo denuncia ataque de grupo armado que está a agravar a
crise alimentar
25 Março, 2020
Foto: AIS |
Forças
de segurança e militares fugiram perante o avanço dos “insurgentes” que
hastearam bandeiras negras iguais às dos grupos jihadistas. D. Luiz Fernando
Lisboa comentou o ataque à Fundação AIS e descreve o sentimento de medo
nas populações.
Foi
um ataque de envergadura, inédito até pela forma como ocorreu. Segunda-feira,
durante várias horas, um grupo armado – a imprensa moçambicana fala em
“insurgentes” – atacou e ocupou a vila de Mocímboa da Praia, que é a capital
distrital e tem cerca de vinte mil habitantes.
Praticamente
sem oposição das forças de segurança, os atacantes queimaram edifícios
públicos, libertaram os detidos na prisão local e chegaram a patrulhar as ruas.
Sinal desta manifestação de força, “os insurgentes” hastearam a bandeira negra
que identifica os grupos jihadistas.
Para
D. Luiz Fernando Lisboa o que aconteceu foi “uma vergonha para Moçambique”. Em
declarações ao telefone para a Fundação AIS em Lisboa, o Bispo de Pemba
sublinha a forma quase impune como o ataque ocorreu. “Não houve uma reacção
forte das forças de segurança, das forças de defesa. Muitos fugiram porque os
atacantes eram em número maior, e então eles levaram roupa, armamento, comida,
carros e roupas dos militares. Alguns [dos atacantes] estavam vestidos com
[uniformes] militares. O dito reforço das forças de defesa chegou só depois de
eles se terem retirado. Quer dizer: não chegou nenhum reforço. Eles não foram
confrontados.”
A
forma como ocorreu este ataque à vila de Mocímboa da Praia veio sublinhar a
ausência de capacidade de afirmação das autoridades. “Eles entraram e saíram na
hora que quiseram”, explica o Bispo. “Isto foi uma vergonha. É uma verdadeira
vergonha para Moçambique o que está a acontecer e que a nossa população esteja
a ser humilhada dessa forma.”
Ponto de viragem?
Este
ataque poderá ter marcado um ponto de viragem na instabilidade crescente que se
está a viver na região norte de Moçambique desde Outubro de 2017. Até agora, os
ataques ocorreram sobretudo em zonas rurais ou pouco habitadas. Desta vez, “os
insurgentes”, ousaram fazer uma verdadeira manifestação de força na capital de
distrito.
Se
havia já um sentimento de medo nas populações, agora a situação é bem pior. “E
eles deixaram o recado que iam voltar”, lembra o prelado. “Agora, as populações
estão com medo. Se eles atacaram Mocímboa, que é a vila maior que existe
naquela região, [as populações] de Palma, de Mueda, de Macomia, estão todas com
medo.”
Os
relatos entretanto surgidos na imprensa descrevem cenas de “caos e pânico”
durante o tempo em que a vila esteve tomada pelos atacantes que exibiram
bandeiras negras, as que identificam os grupos jihadistas, e chegaram mesmo a
hastear uma no principal edifício público na vila.
O
grupo terrorista Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico) tem reivindicado nos
últimos tempos diversos ataques na província de Cabo Delgado.
A
Igreja Católica está a acompanhar com natural preocupação o evoluir desta
realidade. Também para D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, as notícias que
chegam do norte de Moçambique são inquietantes. “Em Cabo Delgado a situação de
facto não está fácil”, diz este prelado.
Em
entrevista no final do passado mês de Fevereiro à Fundação AIS, D. Diamantino Antunes descreve
esta situação como muito complexa.
As pessoas “precisam de comida”
O
ataque desta semana veio agravar este sentimento de insegurança. No entanto, a
Igreja católica vai continuar junto das populações, apesar do risco evidente de
novos incidentes armados. D. Luiz Fernando Lisboa assegura à Fundação AIS que
os missionários presentes na região de Cabo Delgado “não querem sair”. “A casa
dos missionários acaba por ser um porto seguro que as pessoas buscam à procura
de conselho, de algum tipo de ajuda. Eles conhecem o trabalho dos missionários.
Os missionários ajudam os mais pobres. Então, os missionários têm essa
segurança de que não vão ser atacados”, diz o Bispo.
“Não
podemos pensar só na nossa pele. Temos de pensar no sofrimento do povo em
geral. Os missionários estão lá para estarem junto do povo.”
Calcula-se
que já terão morrido mais de 500 pessoas desde Outubro de 2017 quando os
ataques tiveram início. Uma das consequências imediatas desta violência tem
sido o abandono das terras. O medo leva as pessoas a abandonar o trabalho
agrícola, o que tem provocado já situações de crise alimentar, de fome. As pessoas
“precisam de comida”. É urgente. E habitação.
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