Covid-19 OVAR
Covid-19 OVAR
População
de Ovar vive entre a «angústia» do desconhecido e a «solidariedade» natural
Mar 18, 2020 - 14:59
Valência de creche foi encerrada, mas apoio domiciliar da paróquia de São
João de Ovar mantém-se com ajuda do padre Vítor Pacheco
GNR em Ovar controla entradas e saídas do município, que se encontra em estado de calamidade pública |
A população da freguesia de São João de Ovar, foco principal da cerca
sanitária aplicada no município devido à propagação do Covid-19, vive entre a
“sensação de insegurança” e o espírito de “solidariedade”, segundo o pároco
local.
“É uma situação nova, os tempos modernos não conheceram esta pandemia e o
desconhecido provoca o medo. No dia-a-dia as pessoas tomam consciência e já se
sente que andam menos na rua, mas vive-se um espírito de solidariedade”,
explica o padre Vítor Pacheco.
Na cidade de Ovar foram identificadas 40 pessoas infetadas com o Covid-19,
estando 440 em monitorização, o que levou as autoridades a decretar o estado de calamidade pública, com uma
cerca sanitária aplicada a todo o município restrições impostas a atividades
económicas e circulação de pessoas.
O pároco dá conta do contacto com uma casa onde vivem avós, pais e três
filhos, o mais novo bebé de meses, cuja mãe foi infetada no Centro de Saúde.
“Há uma preocupação com o marido, filhos e os pais que vivem consigo. Temem
o desconhecido, isso cria angústia. Mas
são pessoas de fé, uma fé diária praticada e nesta hora viram-se para Deus com
mais fervor”, explica.
Num misto de “esperança e natural preocupação”, a solidariedade já sentida
num contexto semi-urbano, “onde se cultiva para o próprio sustento”, vai
cimentando o “ambiente mais próximo”.
“Percebe-se um espírito de entreajuda”, destaca.
A paróquia, que presta serviço de creche e apoio domiciliário, encerrou a
primeira valência, mantendo o apoio básico “de higiene e alimentação” dada a 20
utentes.
“Contactamos as famílias dos utentes para avaliar os serviços que seriam
ainda necessários manter, uma vez que alguns familiares estão em casa e podem
ajudar; por outro lado, tendo várias funcionárias que teriam de estar em casa
para cuidar dos filhos, ficamos com uma redução de colaboradores. O que seria
assim difícil continuar a prestar todos os serviços”, indica o responsável
católico.
As equipas que mantêm o serviço básico de higiene e alimentação “têm todos
os cuidados com máscaras e luvas e seguem as normas vigentes”.
“Ao domingo temos uma dupla de colaboradoras a trabalhar, mas para poderem
descansar sou eu que vou fazer a entrega de alimentos. Deixo ficar a mala à
porta com todos os cuidados”, explica o padre Vítor Pacheco.
O pároco afirma não sentir mais pedidos de ajuda, mesmo espiritual:
“estamos numa fase de início, só se passou uma semana, sinto que as pessoas
aceitaram muito bem as normas que a Igreja transmitiu, o cancelamento das
missas e dos funerais, foram muito compreensíveis. Talvez as pessoas de mais
idade, habituadas a ir à missa são as que mais sentem falta, e ficam tristes,
embora compreendam e acompanhem na televisão”.
Pelas redes sociais, e dada a proximidade natural das pessoas, também
através do telefone, o sacerdote vai tendo notícias dos seus paroquianos.
As pessoas têm procurado estar em
família, fazer a oração em família. Tenho relatos de paroquianos que acompanho
e acredito que vamos redescobrir valores na dimensão familiar que este tempo
nos coloca. Se há tristeza por as pessoas não se poderem congregar para
celebrar, o que antes não faziam em casa, começam a fazer. É uma oportunidade
para crescer na fé”.
O responsável explica ainda que as Conferências Vicentinas paroquiais, que
acompanham 100 famílias, vão procurar “manter-se disponíveis para o
necessário”, acautelando, o facto de serem pessoas já idosas.
“Estamos a estudar a melhor forma de poder continuar com a entrega mensal
de alimentos sem expor as pessoas que prestam este auxílio”, aponta.
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