Covid-19 cuidar uns dos outros
Covid-19 cuidar uns dos outros
«Se não
cuidarmos uns dos outros o mundo vai cair-nos em cima» – Bispo de Setúbal
Mar 20, 2020 - 21:45
D.José Ornelas afirma que a caridade é o que
distingue o cristianismo, apela à necessidade de «repensar a humanidade» e pede
apoio do Estado para o setor social
D, José Ornelas, bispo de Setúbal |
O bispo de Setúbal disse hoje em declarações à Agência ECCLESIA que a
pandemia em curso recentra o papel da Igreja no cuidado do outro, fragiliza os
símbolos do populismo e apela à necessidade de repensar a humanidade.
“É verdade que é preciso criar barreiras de retenção do vírus. Mas o vírus está-se
‘borrifando’ para as nossas barreiras. Se não unirmos esforços, a humanidade
não tem futuro! E este é só um aviso”, alertou D. José Ornelas.
Para o bispo de Setúbal, este “é o momento de repensar a humanidade”,
nomeadamente o papel da ONU e da União Europeia, que, “paradoxalmente acontece
num tempo em que cada um pensa que pode resolver por si só, nacionalisticamente
ou à luz dos seus interesses pessoais”.
D. José Ornelas disse que a situação provocada pelo covid-19 levou a um fim
“trágico” e “ridículo” de quem pensava que a pandemia “era fácil”, que era um
“vírus chinês”.
“Pode
daqui nascer uma consciência nova da humanidade que sabe que, para o bem e para
o mal, estamos juntos, que este planeta é a nossa casa comum, que evite que o
desperdício de uns seja causa e miséria dos outros”, afirmou.
“Os muros que se procuraram erguer para nos defendermos não servem e não
são solução para nada! A solução está em cuidarmos uns dos outros”, sustentou.
“Se é verdade que o Estado – e muito bem – está a pôr ao serviço do emprego
e das Pequenas e Médias Empresas verbas significativas que são de todos nós, da
sociedade, e estão a ser postas ao serviço dessas instituições para que não
entrem em falência, ainda não ouvi uma palavra sobre as IPSS, que se ocupam de
gente com deficiências, dos mais pobres, que fornecem refeições ou alimentos”,
alertou.
Para D. José Ornelas a situação das Instituições Particulares de
Solidariedade Social, das Misericórdias, dos Centros Sociais Paroquiais “é
grave” e “pode colapsar”, lembrando que essas organizações sociais “fazem a diferença
para milhares de pessoas neste país” e precisam de apoio na atual situação.
“A
economia social está esquecida. E é grave, porque estamos a falar das pessoas
mais carenciadas e vão ficar longe do sistema que se está a criar”, advertiu.
Para o bispo de Setúbal, “é crucial não deixar ninguém à beira da estrada”
e “é fundamental cuidar de todos”.
“Esta
crise vem mostrar que se não cuidarmos uns dos outros, damos cabo de nós, o
mundo vai cair-nos em cima”, afirmou.
D. José Ornelas referiu-se também à missão da Igreja Católica no contexto
da pandemia em curso em todo o mundo e afirmou que é necessário reinventar a
marca da proximidade de todas as pessoas, que distingue o cristianismo, com
“novas modalidades”.
O bispo de Setúbal afirmou que “o que carateriza os cristãos, desde o
início, não são os momentos celebrativos, mas a caridade” e lembrou que Jesus
apenas celebrou uma ‘Missa’, no fim da Sua vida terrena.
“A
missa verdadeira é o cuidarmos uns dos outros. Jesus vem cuidar de nós,
partir-nos o pão para que nós o repartamos pelos outros. Isto é a essência da
vida cristã que agora se torna mais necessária do que nunca”, afirmou.
D. José Ornelas sublinhou que o “aspeto sacramental da comunidade reunida
não está minimamente em causa”, referindo que há situações em que não é
possível, como em contextos missionários ou de clandestinidade.
Exprimir a missão da Igreja Católica no mundo de “outro modo” é o desafio e
o bispo de Setúbal indica que o caminho é o apontado pelo Evangelho: “a pessoa
humana, aquele que está mais abandonado”.
“Se o vírus atinge a todos, ainda mais o Amor de Deus”, independentemente
“da fronteira, da raça ou da condição económica”, apontou D. José Ornelas
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