CRISTÃOS PERSEGUIDOS/genocídio Relatório apresentado no Vaticano denuncia contexto de «genocídio»
CRISTÃOS PERSEGUIDOS/genocídio
Relatório apresentado no
Vaticano denuncia contexto de «genocídio»
«Os governos devem perguntar a si mesmos até
que ponto estão realmente empenhados na defesa da liberdade religiosa», diz
responsável da Santa Sé
O subsecretário do Vaticano para as Relações com os Estados
abordou hoje as conclusões de um estudo independente dedicado à perseguição
aos cristãos, uma problemática que está a tomar proporções cada vez
mais “alarmantes” em todo o mundo.
Nas declarações divulgadas hoje pela Santa Sé, o padre
Antoine Camilleri salientou a importância deste trabalho para “uma crescente
consciencialização à volta do problema da
discriminação e perseguição motivada pela crença religiosa” e para
denunciar “o contexto trágico em que
vivem os cristãos em diversas partes do mundo”.
“Não podemos ignorar o facto de que a perseguição religiosa atinge hoje em larga escala uma variedade de
comunidades religiosas, grupos e indivíduos. Infelizmente, muitos destes crimes parecem continuar impunes e a
persistir sob pouco mais do que o olhar envergonhado da comunidade
internacional”, frisou aquele responsável.
O ‘Relatório sobre a Perseguição aos Cristãos’, apresentado
em Roma, trata-se de um projeto promovido pelo secretário de Estado para
Assuntos Externos do Reino Unido, Jeremy Hunt, e contou com o contributo do
bispo anglicano de Truro, Philip Mounstephen.
Neste trabalho, é demonstrado que atualmente uma em cada
três pessoas sofrem de perseguição religiosa em todo o mundo, sendo que 80 por cento das vítimas são cristãs.
Quanto às regiões ou países onde a situação é hoje
considerada mais grave, o relatório aponta para os territórios do Médio Oriente e do Norte de África, onde
a perseguição atinge um nível tão extremo que, de acordo com os parâmetros da
ONU, pode ser considerada como
“genocídio”, realçou o representante do Vaticano.
“A dramática realidade da perseguição religiosa suscita
enorme preocupação na Santa Sé, não só por causa dos cristãos que sofrem, mas
também pela situação de todos quantos partilham uma determinada crença”,
sublinhou o padre Antoine Camilleri, que apela não só aos líderes religiosos, mas também aos políticos que se empenhem na
erradicação deste mal.
“É crucial que se reconheça a responsabilidade dos líderes
religiosos na promoção de uma coexistência pacífica, através do diálogo e da
compreensão mútua, para que as respetivas comunidades e crentes respeitem
aqueles que professam uma fé diferente, em vez de fomentarem a agressão e a
violência”, defendeu o sacerdote.
No final de 2018, a Fundação Ajuda a Igreja que Sofre
publicou também um relatório sobre a Liberdade
Religiosa, que denunciava um aumento das violações a este direito e uma deterioração
da situação das minorias religiosas, apresentando inclusivamente uma “lista
negra” de países com violações significativas.
Relação essa que destacava 20 nações: Brunei, Cazaquistão, China, Coreia do Norte, Eritreia,
Iémen, Índia, Iraque, Líbia, Maldivas, Mauritânia, Mianmar, Nigéria, Palestina,
Paquistão, Quirguistão, Rússia, Sudão, Tajiquistão, Turquemenistão.
“Os governos devem perguntar a si mesmos até que ponto estão
realmente empenhados na defesa da liberdade religiosa e no combate à
perseguição baseada na religião ou na crença. Quantos é que refreiam o ímpeto
de condenar estes atos, ou mesmo condenando colaboram política, económica,
comercial e militarmente neles, ou simplesmente
fecham os olhos a alguns dos mais acérrimos violadores deste direito
fundamental?”, questionou o subsecretário do Vaticano para as Relações com os
Estados.
O padre Antoine Camilleri destacou ainda, durante a
mesma conferência de imprensa, a
urgência de combater “outras formas de discriminação e perseguição religiosa
que, mesmo menos radicais ao nível da perseguição física, são igualmente
cerceadoras de uma vivência plena da liberdade religiosa, e da prática ou da
expressão de convicções, quer em privado quer em público”.
“Aqui refiro-me à tendência crescente, mesmo nas democracias
consolidadas, de criminalizar ou
penalizar os líderes religiosos por apresentarem os fundamentos básicos da sua
fé, especialmente em áreas como a vida, o matrimónio ou a família”, completou.
JCP|Ecclesia
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