INCÊNDIOS/2019 Cinzas, de novo
INCÊNDIOS/2019
Cinzas, de novo
Jul 24, 2019 - 17:56
Paulo Rocha, Agência Ecclesia
O flagelo dos incêndios voltou a Portugal. Volta em cada
verão, como se de uma rotina se tratasse. E mesmo que o fogo se inclua nos
ciclos da natureza, a escala e as circunstâncias que estão na origem de vastos
territórios ardidos remetem para negligências, crimes e abusos de poder. O
rasto deixado pelas chamas resulta de uma estratégia: a que esquece
determinadas geografias do país e faz com que as populações não se fixem, as
comunidades se dispersem e a natureza fique entregue à exploração de quem
apenas olha ao lucro.
Nestes dias, diante
cinzas e escombros, procuram-se culpados e soluções. E é nestas ocasiões que as
respostas não podem surgir da tensão entre governo e oposição, forças militares
e proteção civil, lideranças centrais ou regionais e locais. Querem-se
perspetivas, opiniões que não estejam reféns de aviões que levantam ou ficam em
terra, das horas de trabalho dos soldados da paz, do circo mediático em busca
de audiências à conta das chamas e do drama de muitos rostos desesperados por
perdas de uma vida. São precisos olhares distantes, desinteressados do negócio
e apenas atentos ao bem comum e ao cuidado da casa que é de todos.
Uma proposta: a voz
do Papa Francisco. O líder da comunidade católica inspira crentes e não
crentes, é referido em programas e estratégias pessoais e institucionais,
emerge na opinião pública como uma referência social e moral. Assim, que o seja
também neste âmbito: quando em causa estão perguntas sobre o que fazer para que
os fogos não atinjam, a cada passo, as mesmas regiões.
No dia 24 de maio de
2015, o Papa Francisco assinou um documento que também inclui uma estratégia
contra os fogos. Intitula-se “Laudato si” e é um guia para a ecologia integral,
para quem quiser assumir e realizar políticas, programas e projetos que
salvaguardem o planeta, não se fixem nos lucros resultantes da exploração dos
recursos naturais e tenham por horizonte o médio e longo prazo, mais do que o
ciclo de um circunstancial mandato.
Por outro lado, em
abril de 2017, dois anos antes da calamidade que incendiou Pedrógão,
Castanheira de Pera e depois Tondela e Viseu, entre outras localidades, a
Conferência Episcopal Portuguesa deixou indicações também muito pertinentes
para combater um flagelo que persiste, em Portugal, e destrói o que de melhor
tem, a natureza. Escreve o episcopado:
“É fundamental que
todos olhemos a natureza não como uma simples fonte de utilidade e rendimento
económico e por isso facilmente sujeita a explorações de tal modo desordenadas
que a destroem totalmente. Até mesmo por não nos ser possível viver sem ela, há
que respeitá-la e valorizá-la, na sua bondade, harmonia e equilíbrio, como um
dom que recebemos e um legado que devemos esforçar-nos por transmitir às gerações
futuras”.
Em causa não está
apagar um fogo, mas acabar com negligências, crimes e abusos de poder.
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