MADEIRA/Nuno Brás e Padre Martins
Visita histórica à Ribeira Seca: D. Nuno Brás diz que “não faz sentido
não vivermos unidos”
Por Luisa Gonçalves
15 Julho, 2019
Foto: Duarte Gomes |
“Bem
se desejou e esperou por este dia” dizia o cântico da entrada da Eucaristia que
se celebrou, ontem, na Ribeira Seca. A festa era em honra do Santíssimo
Sacramento, mas esta celebração fica para a história como “a Missa da
reconciliação”. Assim a designavam, de resto, muitos daqueles que cedo se
começaram a juntar no adro da igreja e no interior da mesma, para receber o
bispo do Funchal, que quebrou com a sua visita um interregno de meio século.
Depois da revogação da
suspensão a divinis do Pe.
Martins Júnior e do anúncio da visita à paróquia do Bispo do Funchal, a tarde
correu como se previa, com D. Nuno Brás a ser recebido sob fortes aplausos dos
paroquianos da Ribeira Seca e pelo padre Martins, com quem trocou um caloroso
abraço.
Seguiu-se a Eucaristia,
animada pelo próprio Pe. Martins e por jovens e adultos. E logo no início da
celebração, que podia ser acompanhada no exterior graças a um ecrã
colocado no adro, D. Nuno Brás confessou que, “quando passava na via rápida,
olhava para a Ribeira Seca e pensava: Deus me dê a graça de um dia poder
celebrar com aqueles cristãos”.
Esse dia chegou, com o
prelado a dar “graças a Deus” e a saudar o Pe. Martins Júnior e todos os
sacerdotes que se quiseram associar a esta celebração, mas sobretudo a saudar
“os cristãos da Ribeira Seca”.
“Como vosso bispo, quero
saudá-los”, disse D. Nuno Brás, dirigindo-se à assembleia, “com as palavras do
apóstolo São Paulo: a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai, e a
comunhão do Espírito Santo, estejam convosco”.
Já o Pe. Martins,
dirigiu-se ao bispo neste primeiro momento referindo que “seriam precisos 50
anos para fazer o seu discurso de boas vindas”, pois “transcorreram 50 anos que
este templo, feito com o suor, com a força, com o sacrifício desta comunidade,
nunca tinha recebido a visita do seu pastor diocesano”. Não havendo tempo para
tal, nem tão pouco palavras, o Pe. Martins optou por sublinhar que era enorme
“o sentimento de expectativa, a fome e a sede” que esta comunidade sentia em
“receber o seu líder religioso, como um pai, como um amigo, não como um juiz”.
“Nós lhe agradecemos”,
declarou, ao mesmo tempo que lamentou a “travessia no deserto de 42 anos que
nos obrigaram a fazer”. Porém, garantiu, essa travessia “também foi fomentadora
de energias”.
O sacerdote lamentou
ainda que certas pessoas não tenham podido estar presentes nesta ocasião, casos
do bispo de Aveiro, D. António Marcelino, já falecido, e outros amigos que,
numa ou noutra ocasião, lhe mostraram solidariedade, como Frei Bento Domingues
ou o padre e professor catedrático da Universidade de Coimbra, Anselmo Borges,
entre muitos outros.
Sejamos todos “bons
samaritanos”
Já na homilia, o bispo
do Funchal disse que “não faz sentido nós cristãos não vivermos unidos em Jesus
Cristo e não nos encontrarmos neste pão da vida que é a Eucarista” e que “não
faz sentido nos aproximarmos uns dos outros e de todos aqueles que precisam de
Jesus”.
D. Nuno Brás referiu-se
ao Evangelho para referir que “não podemos deixar de nos sentir confrontados
com a grande questão que nos move a todos: a questão da felicidade”. A verdade,
frisou, é que “todos queremos ser felizes” e de preferência “felizes sempre”.
Ora, no Evangelho de São
Lucas, o doutor da lei questionava Jesus sobre o que fazer para ser feliz. A
resposta de Jesus, a resposta que ele nos dá ainda hoje, é “surpreendentemente
simples” e aponta para “a importância, a centralidade de Deus, para a vida feliz
de todo e qualquer ser humano, como que a dizer que sem Deus não há felicidade
para sempre. Sem Deus, aliás, não há nada que seja para sempre”.
“E sem o próximo também
não existe felicidade que possa durar” frisou o prelado, para logo explicar que
“existem muitos tipos de proximidade”, desde a de sangue à da religião,
passando pela geográfica e de pensamento. Mas todas elas “têm uma coisa em
comum: constroem-se a
partir e à volta do eu”. Mas é precisamente esta “lógica egoista”, que Jesus
“destrói na parábola do bom samaritano”.
De resto, o bispo do
Funchal apelou à assembleia para “deixar o seu conforto, a deixar o que pensa e
o que é”, por causa daquele que necessita de ajuda”. Isto, disse D. Nuno, “é
que é ser próximo”. E
“não faz sentido não nos aproximar-mos uns dos outros e de todos aqueles que
precisam de Jesus”. Daí o desafio de sermos “todos bons samaritanos”.
À Eucaristia, que contou
ainda com a presença do presidente da Câmara de Machico e alguns vereadores,
seguiu-se a procissão, na qual tomaram parte muitos dos fiéis que ali se
encontravam.
No regresso à igreja,
houve ainda tempo para os agradecimentos finais, nomeadamente por parte do Pe.
Martins. Agradecimentos não só ao prelado pela presença e pelas “barreiras que
teve de ultrapassar” para que “o sol pudesse brilhar”, mas a toda a comunidade
que enfeitou o interior e o exterior do templo, que compareceu massivamente a
esta celebração e a todos os sacerdotes presentes.
E por fim uma promessa:
“Vamos continuar a aprofundar o papel do cristão dentro da Igreja e com a nossa
boa vontade de redescobir a face de Cristo, a face da Igreja e a caminhar para
as fontes do evangelho, para as origens, nós queremos imitar o Papa Francisco
que quer realmente entrar nos caminhos do autêntico Evangelho”.
Terminada a celebração
litúrgica seguiu-se um convívio nas instalações anexas à igreja, que contou com
a presença do bispo diocesano, mas também de familiares e amigos do Pe. Martins
Júnior.
Paralelamente, no adro,
a festa prosseguiu com muita animação, não faltando os comes e bebes, habituais
destas iniciativas.
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