ZÂMBIA | SOLWEZI No meio dos Lambas por PADRE JOSÉ GUEDES


ZÂMBIA. Padre JOSÉ GUEDES missionário em Solwezi

Durante os vinte e sete anos que vivi em Chililabombwe, na Província do Copperbelt, apesar da mistura de gentes e povos, foi como se vivesse em território Bemba, falando a língua e adaptando-me aos seus costumes. A influência da cultura Bemba é tão grande que mal dava para me aperceber que vivia na terra dos Lambas.
De Chililabombwe fui para Solwezi, onde metade do distrito é Kaonde e a outra metade é Lamba. Tive que me dar ao trabalho de aprender Kaonde,  o que não é fácil, dado que nos mercados e mesmo nas igrejas da cidade de  Solwezi muita da gente fala Bemba. Agora de Solwezi, fui transferido para a Paróquia de St. Doroteia, em território tipicamente Lamba.
Os Lambas são um grupo tribal grande, com um território extenso, que se estende desde Lubumbashi no Congo até Solwezi (Zâmbia), e de Solwezi até Kapirimposhi, tendo no meio toda a Província do Copperbelt. No entanto, a sua influência política e económica é bastante limitada. Quando a abertura das minas transformou o coração do seu território na quase totalidade numa província urbana, eles não se entusiasmaram com o trabalho mineiro e refugiaram-se nas zonas rurais circundantes. A grande maioria dos mineiros vieram do Norte, fazendo com que o Bemba se tornasse a língua dominante.
Sendo muito semelhante ao Lamba, o Bemba é falado e entendido por todos, mesmo nas zonas rurais. Os Lambas são vistos pelos outros grupos tribais com certo desdém. Eles são considerados amorfos, sem iniciativa e com pouco dinamismo. Vivem principalmente nas zonas rurais, em pequenos grupos familiares dispersos pela floresta, longe de qualquer controle, ciosos da sua liberdade. Nunca mostraram grande interesse em trabalhar para as minas e em serem arregimentados em grupos com horas fixas de trabalho e com tarefas que têm de ser cumpridas; preferem viver ao ritmo da natureza. De certa maneira, continuam a ser caçadores-colectores. Embora falem muito da lavoura, mal cultivam o suficiente para sobreviver. Na estação agrícola, mudam-se para os campos, e as igrejas ficam quase vazias. Depois, há a temporada da pesca, da colecta do mel e da recolha de gafanhotos e de vários tipos de lagartas.
Sobrevivem com pouco, aproveitando-se do que a natureza oferece. São quase seminómadas. Em caso de conflitos familiares ou de acusações de feitiçaria, mudam-se para outro sítio. Por isso, não se preocupam com a construção de uma boa casa; a maioria não são mais do que cabanas. Vivem dominados pelo medo do feitiço, e todos correm o risco de serem acusados,
mas de maneira especial os idosos e todos os que se não conformam com as atitudes sociais predominantes.Diante dos Lambas, fica-se com a impressão de que têm pouca capacidade de
autoafirmação. Os Kaondes, com quem se parecem muito, ainda se queixam, quando se fala Bemba em vez de Kaonde. Os Lambas adaptam-se e falam as três línguas: Kaonde, Bemba, e obviamente Lamba. É como uma torre de Babel, mas em que todos se entendem.
No aspecto religioso, o seu compromisso e participação são mínimos. Precisam de ser empurrados; deixados a si mesmos, são apáticos. E o resultado está à vista na falta de padres ou irmãs Lambas. Nesta terra dos Lambas, os frutos da evangelização ainda são difíceis de ver.


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