COLETES AMARELOS FRANÇA: De Lille a Toulouse, com epicentro em Paris, novo protesto dos "coletes amarelos" mergulha a França num caos
COLETES AMARELOS
FRANÇA: De Lille a Toulouse, com epicentro em Paris, novo protesto dos
"coletes amarelos" mergulha a França num caos
1 dez 2018 19:41
Cerca de 75 mil pessoas participaram
neste sábado nos protestos dos "coletes amarelos", franceses que se
manifestam contra as políticas fiscal e social do governo de Emmanuel Macron.
As demonstrações resultaram em confrontos violentos entre
"agitadores" e as forças de segurança em várias cidades do país, mas
principalmente em Paris.
EPA/ETIENNE LAURENT |
No coração de Paris, a cena era de guerrilha urbana, com homens
encapuzados a erguer barricadas, a queimar veículos, a
partir vitrines e a lançar projéteis contra a
polícia anti-motim em bairros luxuosos e turísticos da capital francesa.
A avenida Champs-Elysées foi alvo do caos e o Arco do Triunfo
sofreu vandalismo com graffiti e foi tomado por
manifestantes. Nas avenidas vizinhas, estavam montadas barricadas em
chamas, algumas formadas por carros virados e incendiados, sob uma nuvem de gás
lacrimogéneo.
O movimento, iniciado não só por intervenientes de classes menos
favorecidas como também da classe média e que sacode a França há duas semanas,
também provocou distúrbios noutras províncias.
No fim da tarde, o saldo não era completamente fidedigno: a AFP
avançava 64 feridos e 205 detidos em todo o país, ao passo que a Reuters
mencionava mais de 200 detenções e 100 pessoas feridas só na capital.
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, disse que estava
"abalado" pela violência em Paris e "aos símbolos de
França", e ao passo que as forças de segurança continuavam a lidar
com "agitadores" sem coletes em diferentes áreas da capital no começo
da noite. "Procuramos diálogo, mas também respeito pela lei",
acrescentou Philippe, numa fase em que se crê que o movimento dos
"coletes amarelos" tenha sido infiltrado por elementos da
extrema-direita e da extrema-esquerda".
Face à violência dos protestos em Paris, a polícia disparou
granadas de atordoamento e de gás lacrimogéneo, para além de utilizar canhões
de água para dispersar os manifestantes. Os Campos Elísios foram o
maior palco dos confrontos, mas a instabilidade grassou por toda a
capital, tendo obrigado as autoridades a encerrar várias estações de
metro.
Incidentes e focos de violência paralelos à manifestações dos
coletes amarelos também ocorreram noutras cidades francesas, entre elas Lille,
Charleville-Mézières, Estrasburgo, Toulouse e Nantes, onde 50 manifestantes
invadiram o aeroporto local.
Este é o terceiro dia de protestos na França, após os de 17 e 24 de
novembro. Em Paris, os confrontos começaram depois do meio-dia, em torno do
Arco do Triunfo, entre agentes da polícia e centenas de manifestantes, alguns
deles encapuzados, a cantar o hino francês, "La Marseillaise", e a
gritar "Macron, demite-te!". Foram avistadas pessoas em cima do monumento
do século XIX, em cuja fachada foi escrita a frase "Os coletes
amarelos triunfarão,"
O líder da França Insubmissa (LFI, esquerda radical), Jean-Luc
Mélenchon, denunciou a "crueldade incrível contra manifestantes pacíficos
no Arco do Triunfo", e acusou o governo de "instigar o
medo".
Os manifestantes que protestavam pacificamente ao envergar o
já conhecido colete amarelo fluorescente foram apanhados no fogo cruzado
na avenida. Entre eles, estava Chantal, uma aposentada de 61 anos que
tentava afastar-se da confusão: "Fomos informados de que
havia vândalos à frente". Para ela, "ele (Macron) deve descer do
pedestal, entender que o problema não é o imposto, é o poder de
compra. Todos os mês tenho de recorrer às minhas
poupanças."
Cerca de 5 mil agentes foram mobilizados na capital, onde também se
manifestaram milhares de pessoas convocadas pelo sindicato CGT em favor do
emprego, e estudantes.
A
reação de Macron
Ausente de França por motivo da sua participação no G20, a decorrer
em Buenos Aires, na Argentina, o presidente francês não deixou de reagir
perante os protestos e os clamores pela sua demissão.
“Nada justifica que as forças da ordem sejam atacadas, que as lojas
sejam saqueadas, que os transeuntes ou os jornalistas sejam ameaçados, que o
Arco do Triunfo esteja contaminado”, afirmou o chefe de Estado, no final da
cimeira.
"Os responsáveis por esta violência não querem mudanças, não
querem melhorar nada, querem o caos. Traem as causas a que pretendem servir e
que manipulam. Serão identificados e responsabilizados pelos seus
atos perante a Justiça", assinalou o presidente, que convocou uma
reunião de emergência governamental para a próxima segunda-feira, quando estará
de volta a Paris.
Segundo Macron, os protestos deste sábado causaram dezenas de feridos
e “nada tem a ver com a expressão pacífica de uma raiva legítima”.
O primeiro-ministro, Edouard Philippe, decidiu anular a sua viagem
à Polónia para a cimeira sobre o clima COP 24, devido aos desacatos violentos.
Já o ministro francês do Interior, Christophe Castaner, denunciou
uma “estratégia de profissionais da desordem, de profissionais do caso”, em
declarações à TF1.
Reivindicações
orgânicas
Desde o surgimento das primeiras manifestações dos "coletes
amarelos", em meados de novembro, o governo tem lutado para responder
às exigências orgânicas do movimento, nascido nas redes sociais, fora
de qualquer estrutura política ou sindical.
Nesta sexta-feira, uma reunião de consulta com o primeiro-ministro
fracassou: apenas dois coletes amarelos participaram, e um deles rapidamente
deixou o local, por não ter conseguido que a reunião fosse transmitida ao vivo.
Quanto aos anúncios feitos esta semana por Emmanuel Macron - um
dispositivo para limitar o impacto dos impostos sobre o combustível e uma
"grande consulta" - incendiaram ainda mais os
ânimos mais do que convenceram.
"Puro blá-blá-blá", reagiram vários manifestantes, alguns
dos quais acampados em estradas. "Precisamos de medidas concretas, não de
fumaça", resumiu Yoann Allard, um trabalhador rural de 30 anos.
O
Descontentamento não diminui
Com o apoio de mais de dois terços dos franceses, e depois do
sucesso de uma petição "pela queda dos preços dos combustíveis nas
bombas", que ultrapassou 1 milhão de assinaturas, o movimento continua a
sua trajetória, 15 dias após o seu início. As autoridades observam atentamente
a magnitude desta nova mobilização.
Na maioria presidencial, a preocupação cresce diante da rejeição
expressa, a tal ponto que a ideia de uma moratória sobre o aumento dos impostos
sobre os combustíveis começa a ser debatida. Entre a oposição, de direita e de
esquerda, as posições navegam entre apoio e preocupação.
O movimento começa a avançar para além das fronteiras da França:
dois veículos da polícia foram queimados nesta sexta-feira à noite em
Bruxelas, no final de um protesto de cerca de 300 coletes amarelos, o primeiro
organizado na capital belga.
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