MULHERES/e crianças Brasil: ‘Não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja’, diz Damares Alves
MULHERES/e crianças
Brasil: ‘Não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja’, diz
Damares Alves
Em palestra de 2013, futura
ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também disse que 'ninguém
nasce gay'
Marianna Holanda, O Estado de
S.Paulo
06 Dezembro 2018 | 21h02
A pastora evangélica e
advogada indicada para comandar o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, Damares Alves, deu indicações de como
deve conduzir a Pasta em uma pregação de 2013, na Igreja Primeira Batista, em
Campo Grande. Num discurso por vezes inflamado, outras, emocionado, tratou de
temas que serão chave no seu ministério, como a questão indígena, LGBT, mulheres
e crianças.
Para a futura ministra, é a
igreja evangélica que “vai mudar a nação”, não a política. Além disso, disse
que não é verdade que o aborto é questão de saúde pública, como defendem
especialistas, e que “ninguém nasce gay”. Reservou a parte final de sua
palestra para criticar frontalmente o infanticídio indígena.
“Naquele dia, Deus renovou
nossas forças. Porque Deus nos disse que não são os deputados que vão mudar
essa nação, não é o governo que vai mudar esta nação, não é a política que vai
mudar esta nação, que é a igreja evangélica, quando clama. É a igreja
evangélica, quando se levanta (que muda a nação)”, disse a futura ministra,
emocionada.
O dia a que ela se referia foi
quando a Bancada Evangélica, para a qual ela prestava assessoria jurídica na
casa, conseguiu barrar um projeto de lei que descriminalizava o aborto. Na
época, segundo conta Damares, não tinham votos suficientes, mas o revés se deu
após uma noite de orações que ocorreu no 10º andar da Câmara dos Deputadas, na
véspera da votação.
A futura ministra já se
declarou hoje também contrária ao aborto. Na pregação de 2013, chegou a dizer
que as declarações de ministros de Saúde da época de que aborto é uma questão
de saúde pública eram mentirosas. “Quantas mulheres vocês enterraram porque
morreu por causa de um aborto?”, questionou. “Eles manipulam os dados, as
estatísticas, as informações para impor na sociedade brasileira uma cultura de
morte”.
A fala da pastora na igreja
durou pouco mais de uma hora e hoje tem mais de 630 mil visualizações no
Youtube. Ela trata sua palestra como um alerta aos evangélicos, a quem diz que
devem abrir o olho.
‘Ninguém nasce gay’
Diferentes cartilhas são
apresentadas num painel atrás de Damares para dizer que a igreja passa por
muito desafios. Ela mostrou livros e trechos de cartilhas que, segundo disse,
circulavam em escolas públicas ou eram distribuídas pelo Ministério da Saúde.
Dentre as obras criticadas
pela futura ministra, “Menino brinca de boneca?” e “King e King”. Esta segunda
trata de um príncipe que acaba não com uma princesa, mas um príncipe encantado.
Damares questionou o fato de
crianças terem contato com essas obras e orientou os pais a olharem as mochilas
e os livros ditáticos de seus filhos.
“Não há prova científica que
exista gene gay. Não há prova científica que o gay nasça gay. Se tivesse, já
tinham jogado na nossa cara”, disse na palestra em 2013. “A homossexualidade,
ela é aprendida a partir do nascimento, lá na infância. A forma como se lida
com a criança. Mas ninguém nasce gay”.
O comentário veio em razão de
uma propaganda veiculada na Europa, que ela mostrou à plateia, que mostra um
bebê com uma pulseirinha de recém-nascido, em que se lê “homossexual”. A
comunidade LGBT já mudou o termo “escolha sexual” para “orientação sexual”, por
acreditar que não é uma escolha e se nasce assim.
Nesta tarde, durante o anúncio
de sua indicação, a futura ministra disse ter uma boa relação com o movimento
LGBT. “Eu tenho entendido que dá pra gente ter um governo de paz entre o
movimento conservador, o movimento LGBT e os demais movimentos”, completando
que irá lutar contra a violência à comunidade LGBT.
Futura ministra critica infanticídio
indígena
Depois de um imbróglio sobre
para qual ministério iria a Funai, o governo de transição anunciou nesta tarde
que iria para a Pasta de Damares. Na sua palestra em 2013, falou sobre o
infanticídio indígena, “túmulos em aldeias indígenas”. A futura ministra tem um
filha adotiva indígena.
Emocionada, mostrou fotos que
bebês que foram salvos por missionários e lembrou que tem um projeto de lei na
Câmara que proíbe o ato, mas que está parado.
“(Está
parado) Porque diz que a gente não pode se meter, porque é
cultura. É cultura, o índio tem direito de matar. A gente é evangélico e diz
que não”, disse. in ESTADÃO
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