MANUEL DA SILVA, padre, missionário em Moçambique, Brasil e Portugal,formador de comunidades...

Nasceu em Vila Boa do Bispo, diocese do Porto, no dia 3 de Março de 1928. Filho de José da Silva e de Margarida de Jesus,. Frequentou os Seminários em Tomar (no Convento de Cristo), em Cernache do Bonjardim e em Cucujães.
Foi ordenado sacerdote neste último Seminário em 26 de Julho de 1953. Nesse ano trabalhou em Cernache do Bonjardim até partir para a Missão de Moçambique, na diocese de Nampula.
Depois de um estágio na Missão do Mutuáli, foi enviado a fundar a missão de Iapala, juntamente com o Irmão João Balau.Oficialmente o fundador será Dom José Garcia, mas foram eles que implantaram a Missão no terreno com o suor do seu rosto. De 1962 a 1965 foi coadjutor na Paróquia da Sé Catedral de Nampula. Mandado para Malema, dedicou-se aos lugares mais longínquos do centro e fundou a missão de Nataleia. Ao terminar a casa paroquial veio a independência do país.
As múltiplas e variadas confusões que se seguiram, levaram-no a ter de sair de Moçambique e a casa foi destruída, mas a qualidade dos cristãos formados na escola do Padre Manuel da Silva, resistiu a todos os horrores da guerra civil. As comunidades funcionaram durante anos, apesar das pouquíssimas visitas do missionários. O dedicado trabalho da Cáritas em favor dos idosos e das crianças foi ocasião de muita conversões, ao sentirem o interesse dos missionários pelo povo.
Apesar de visitada pelos dois exércitos, o da Frelimo e o da Renamo, à procura de guerreiros, a escola funcionou sempre. O Director, apenas com a quarta classe, formado pelo Padre Silva, dirigia uma escola com a sétima classe. A imagem da padroeira, religiosamente guardada em sua casa, reapareceu no final da guerra.
Tendo regressado a Portugal, por causa da guerra e da orientação marxista do Governo da Frelimo, partiu para a Missão do Brasil. Em 1976, na intenção de se preparar melhor para a actividade pastoral brasileira, frequentou o Curso de Pastoral do CELAM, em Medellín.
Foi Vigário de Malacacheta, dirigida por um idoso padre local, da diocese de Teófilo Otóni, em MInas Gerais. Dedicou-se às comunidades, criando novas estruturas.
Quando a Sociedade Missionária deixou a diocese de Teófilo Otóni, foi para Novo Cruzeiro. O acontecimento mais significativo desses anos foi a ocupação da Fazenda Aruega pelos sem terra. Sem a presença do Padre Manuel da Silva, facilmente seriam derrotados. Fez tudo para os ajudar. A casa paroquial oferecia telefone e algumas vezes serviu para reuniões sigilosas da organização. No momento decisivo, foi dele a ideia de pedir um advogado de Belo Horizonte, de avião. Veio e conseguiu a vitória definitiva. Este apoio valeu-lhe a perseguição dos poderosos. Foi a ocasião para ele se mostrar o defensor dos direitos humanos dos pobres.
A sua última paróquia foi a Virgem da Lapa, Araçuaí. As comunidades existiam, mas com estruturas precárias. Construiu mais de 20 capelas. Grande devoto de Nossa Senhora, moldou milhares de imagens da Virgem para os romeiros.
Adoeceu em Portugal, em Outubro de 2001. Teve um enfarte muito extenso, que o obrigou a ficar em Portugal. Já tinha sido operado às coronárias em São Paulo, Brasil, no Hospital da Beneficência Portuguesa, uns anos antes, e cujo serviço considerou impecável. A  longa recuperação agravou o problema de ossos e quase ficou paralítico.
Conseguiu um médico ortopedista em Coimbra, que arriscou a operação às pernas e, só com grande força de vontade, se pôs a andar de canadianas. Encontrou no Doutor Nabais um grande médico e amigo que o visitava no Lar sempre que lhe telefonava. Era um autêntico prazer acolhê-lho.
Procurava, de cadeira de rodas, não faltar ao almoço da comunidade, sempre que lhe era possível, assim como noutros actos de comunidade.Tinha a paciência de um justo no meio de grandes sofrimentos, nem sempre compreendidos.
Os ultimos anos passou-os no Lar Santa Teresinha, contíguo ao Seminário de Cucujães. Este Lar ficou com o segredo de muito sofrimento que bem poucos tiveram a dita de conhecer. Mas sofreu a valer. Só se queixava quando não podia aguentar mais. Muito o ajudaram nestes anos em que esteve no Lar Santa Teresinha, o médico que o operou em Coimbra, Dr. Nabais, seu grande amigo e de alguns missionários. Quando eu lhe telefonava por parte do Padre Silva  ou da Giorgina que mais directamente o acompanhava, ele aparecia logo no Lar naquele dia ou no dia seguinte. Ele nutria simpatia por alguém que tinha especial carinho pelos missionários doentes. Sei que lhe ficou muito grato E sentia-se feliz falando da sua vida missionária.
A humildade e o acolhimento foram duas características humanas bem ressaltantes. Lembro que, sempre que quando de férias, visitava a sua terra natal, Vila Boa do Bispo, ia fazer uma visita a casa da minha irmã para conversar um pouco com os da casa. Por onde passava o Padre Manuel da Silva, surgiam leigos de fibra evangelizadora. A catequese bem organizada e o testemunho corajoso do padre faziam a diferença. Foi sem dúvida um dos maiores missionários da Sociedade Missionária Portuguesa, com uma vida dedicada às missões e aos mais necessitados.
Seu exemplo e seu testemunho não se apagarão facilmente da memória daqueles que com ele conviveram mais de perto. Tive ocasião de verificar o quanto sofreu em doenças de todo o género sobretudo no tempo que passou no Lar.
Um obrigado muito sincero à família e à comunidade paroquial de Vila Boa do Bispo pelo dom excepcional que fizeram do Padre Manuel da Silva, um grande missionário da diocese do Porto.

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