Família e solidariedade por ARMANDO SOARES

   O grupo é uma pequena família, uma comunidade em que se praticam
     a comunhão, o afecto, o amor subsidiário à família natural.
   Grupo  de AVs na Inglaterra, em frente do Lago do Monstro

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A importância e a centralidade da família, em vista da pessoa e da sociedade, é muitas vezes sublinhada na Sagrada Escritura: “Não é conveniente que o homem esteja só”” (Gn 2, 18). O primeiro casal é – no desígnio de Deus “a primeira forma de comunhão entre pessoas (G.Spes, 12). Ambos estão empenhados na tarefa da procriação e são colaboradores de Deus Criador: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 2, 18) A família apresenta-se como lugar primário da humanização da pessoa e da sociedade e “berço da vida e do amor” (João Paulo II em Christifideles Laici, 40).
Na família aprende-se a conhecer o amor e a fidelidade ao Senhor e a necessidade de lhe corresponder. (Dt 6, 20-25) Jesus nasceu numa família concreta. Iluminada pela luz da mensagem bíblica a Igreja considera a família a primeira sociedade natural, titular de direitos próprios e originários, e põe-na no centro da vida social
A família é importante em relação à pessoa. Neste berço da vida e do amor o homem nasce e cresce, é uma nova pessoa que é “chamada à comunhão com os outros e à doação aos outros” (C.L.,40). No clima de natural afecto que liga os membros duma comunidade familiar, as pessoas são reconhecidas  e responsabilizadas na sua integralidade: “A primeira e fundamental estrutura a favor da ‘ecologia humana’ é a família, no seio da qual o homem recebe as primeiras e determinantes noções acerca da verdade e do bem, aprende o que significa amar e ser amado e, consequentemente, o que quer dizer, em concreto, ser pessoa”(Centesimus Annus, 39).
A família, comunidade natural na qual se experimenta a sociabilidade humana, contribui de modo único e insubstituível para o bem da sociedade. A comunidade familiar nasce da comunhão das pessoas. «A “comunhão” diz respeito à relação pessoa entre o “eu” e o “tu”. A “comunidade”, pelo contrário, supera este esquema na direcção de uma “sociedade”, de um “nós”. A família comunidade de pessoas, é, pois, a primeira “sociedade” humana» (João Paulo II, Gratissimam Sane, 7).
Uma sociedade à medida da família é a melhor garantia contra a deriva de tipo individualista ou colectivista, porque nela a pessoa está sempre no centro da atenção enquanto fim e nunca como meio. Sem famílias e comunidades fortes na comunhão e estáveis no compromisso, os povos debilitam-se. Na família são inculcados os valores morais, transmite-se o património espiritual da comunidade religiosa e o cultural da nação. Nela se dá a aprendizagem das responsabilidades sociais e da solidariedade.
A família tem prioridade em relação à sociedade e ao Estado, quer dizer, a família não é para a sociedade e para o Estado; antes a sociedade e o Estado são para a família. A sociedade e o Estado, nas suas relações com a família, têm o dever de se ater ao princípio da subsidiariedade. As autoridades não devem subtrair à  família aquelas tarefas que ela pode bem perfazer sozinha ou livremente associada a outras famílias ou comunidades. Mas, as autoridades têm o dever de apoiar a família ou a comunidade, assegurando-lhe todos os auxílios de que ela necessita para desempenhar de modo adequado todas as suas responsabilidades. (Familiaris Consortio, 45).
Partilhar é função da família  ou da comunidade de modo a que os seus membros possam viver com liberdade a sua medida de pessoa em comunhão, dimanando o afecto familiar, sendo “tu” e “eu” o mesmo que um “nós” efectivo na dimensão integral do homem como pessoa a respeitar e a fazer crescer com dignidade. 

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