BRAGANÇA 3 mil pessoas vivem sozinhas
BRAGANÇA 3 mil pessoas vivem
sozinhas
Diocese de Bragança-Miranda: “Cerca de três mil pessoas vivem
sozinhas num território já de si despovoado”
D. José Cordeiro acompanha
semanalmente equipas da Cáritas na distribuição de ajuda e na escuta dos sós
Foto: Diocese Bragança-Miranda |
O bispo de
Bragança-Miranda afirma que cerca de três mil pessoas “vivem sozinhas” no território, uma solidão “acentuada” por este
tempo de isolamento, que a “baixa natalidade, o envelhecimento demográfico e o
despovoamento” já mostravam.
“Há muitas pessoas que têm dificuldade de acesso a
bens e desde o dia 4 de maio, o fim do estado de emergência, aumentaram os
casos (de pedidos) de ajuda porque as pessoas tiveram a possibilidade de sair
de casas ou recorrer, e no caso da Caritas diocesana como das outras
instituições, é mais do dobro do que era o pedido habitual, sobretudo de
pessoas que sentem alguma vergonha no pedir, no sair de casa e pedir”, explica
D. José Cordeiro à Agência ECCLESIA.
O bispo de Bragança-Miranda enaltece uma “onda de solidariedade e de proximidade” gerada a que
se junta, duas vezes por semanas, com as equipas da Cáritas diocesana para
ajudar os mais fragilizados com a distribuição de alimentos e escuta muitos
desabafos, “procurando dar palavras de conforto e esperança”.
À instituição chegam pedidos para ajuda na aquisição
de medicamentos, também de ajuda alimentar, de contas de água e luz e, agora,
mais recentemente de máscaras.
“Tenho experimentado, de uma maneira mais concreta o
que significa o lava-pés no dia-a-dia: ir descalço porque o que servimos é
Cristo, não é um necessitado, idoso, mas é Cristo nele e isso muda
completamente a relação”, explica.
D. José Cordeiro vive um dia-a-dia de “confinamento,
no respeito pelas indicações”, mas quis estar próximo quer dos seus diocesanos
como acompanhar o trabalho que a instituição de ação social da Igreja católica
presta, indica, lembrando a ação das restantes 83 IPSS católicas cujo trabalho
acompanha.
Também os reclusos dos dois estabelecimentos
prisionais da diocese, em Izeda com 300 pessoas e na cidade de Bragança, com
cerca de 100, o bispo procura manter-se próximo: “Todas as semanas, e através
da equipa da pastoral penitenciária, envio uma mensagem de reflexão para o
domingo seguinte e os ecos têm sido do mais encantador possíveis”.
“A ação pastoral da Igreja não ficou suspensa,
apenas as agendas e outras. Mas viver e
entender a eucaristia no serviço do lava-pés, é uma outra compreensão do grande
horizonte da missão da Igreja”, valoriza.
O responsável reconhece, até na sua experiência
pessoal, que este tempo de confinamento pode conduzir a dúvidas de fé, a
“sentir o coração encolhido” mas valoriza a relação de “intimidade com Cristo e
a companhia da Senhora das Graças”, santuário que diariamente vê da sua janela
e a quem se dirige nas suas orações.
“Isto e tantas outras circunstâncias faz-nos tomar consciência mais clara na
nossa fragilidade, na nossa limitação mas confiar que Ele está connosco e
que a Senhora das Graças nos tem ao colo”.
O temor que escuta, “sobretudo, nos mais velhos, é
poderem ficar doentes, ficar infetados, e de terem de viver sozinhos e
abandonados, no hospital ou no lar de idosos ou na sua própria casa e muitas
pessoas estão a passar por essas grandes dores”, afirma.
O bispo diocesano fala numa “articulação feliz”
entre “párocos, as paróquias e as unidades pastorais, os presidentes de Câmara
e das Juntas, as autoridades civis, as forças de segurança e as autoridades de
saúde” que tem “ajudado a ultrapassar muitas situações e muitas delas com
gravidade acentuada”.
“O mais importante é de facto estar e acompanhar e
eu procuro todos os dias acompanhar, no que me é possível, toda a ação da
Igreja no território do nordeste transmontano. No fundo é transmitir as carícias de Deus a cada pessoa, sobretudo aos mais
idosos, os mais carenciados e também a alguns jovens, no caso dos estudantes
internacionais”, indica.
D. José Cordeiro afirma ainda que as obras no
Mosteiro Trapista de Palaçoulo não sofreram atrasos, devido ao “plano de
contingência que teve” e que todas as “dificuldades iniciais” estão
ultrapassadas, estando prevista uma visita do bispo nos próximos dias ao local.
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