Madre Teresa e a paixão pelos pobres

“Modelo exemplar de virtude cristã”, recordou Bento XVI. Falava de Madre Teresa de Calcutá no centenário do nascimento da missionária. E numa carta à Superiora Geral das Missionárias da Caridade disse esperar que esta ocasião seja “uma ocasião de gratidão alegre a Deus pela inestimável dádiva que a Madre Teresa de Calcutá foi durante a sua vida e que continua a ser através do trabalho apaixonado e incansável” da Ordem que fundou.
Madre Teresa nasceu a 26 de Agosto de 1910, em Skopje, a actual capital da Macedónia. Era filha de uma família católica entre a minoria albanesa. “Não tinha completado ainda 12 anos quando senti o desejo de ser missionária”, disse um dia. Entrou para a Congregação Mariana das Filhas de Maria e começou a revelar muito interesse na ajuda aos pobres. Aos 18 anos foi para a Irlanda, para a Casa Geral do Instituto da Beata Virgem Maria. Aí, ouviu falar de uma congregação que prestava ajuda aos pobres, na Índia. Partiu e chegou a Calcutá, à casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto.
Em 1931, fez os primeiros votos e escolheu o nome de Teresa, inspirada pelas figuras de Santa Teresa d’Ávila e de Santa Teresa de Lisieux. Seis anos depois, fez os votos perpétuos. A vontade de ajudar os mais pobres, leva-a às Filhas de Santa Ana, um ramo das freiras do Loreto que integrava irmãs indianas de Bengala. Estas viviam como as bengalis e inspiraram Teresa no nascimento das Missionárias da Caridade. Vestidas com o sari branco, comiam com as mãos, sentadas sobre a terra. Teresa ficou encarregada de dar formação espiritual às “Filhas de Santa Ana” e absorveu o estilo de vida bengali, que transmitiu às suas freiras, quando fundou as Missionárias da Caridade.

A 10 de Setembro de 1946, Teresa sentiu, a caminho do convento de Dajeerling, um “chamamento dentro do chamamento”. A mensagem era clara: “Devia deixar o convento do Loreto e entregar-se ao serviço dos mais pobres e viver entre eles”.
Não foi fácil sair do Loreto. Depois de várias recusas, foi pedida autorização a Roma para que deixasse as Irmãs do Loreto e passasse a “viver só, fora do claustro, tendo Deus como único protector e guia, no meio dos mais pobres de Calcutá”. A 12 de Abril de 1948 chegou a resposta positiva do Papa. Pio XII concedia-lhe a desejada autorização, embora a Irmã Teresa continuasse religiosa sob a obediência do Arcebispo de Calcutá. Saiu em Agosto e, abandonado o hábito da Congregação do Loreto, comprou um sari branco, debruado de azul, e colocou-lhe no ombro uma pequena cruz. Foi com esta nova indumentária que passou a ser conhecida no mundo inteiro.
A Santa Sé reconheceu a Congregação em Outubro de 1950, quando a instituição de Madre Teresa de Calcutá contava já com centenas de membros em todo o mundo. Primeiro, começou a levar os moribundos para um lar onde eles pudessem morrer em paz e com dignidade. De seguida, abriu um orfanato. Gradualmente, outras mulheres se uniram ao projecto e assim nasceu a congregação religiosa das Missionárias da Caridade.

Madre Teresa recebeu o Nobel da Paz em 1979 e, em 1985, quando se celebravam os 40 anos da ONU, foi convidada a discursar na Assembleia Geral da organização. Pérez de Cuéllar, então secretário-geral, apresentou-a como a “mulher mais poderosa do Mundo”.
Madre Teresa morreu a 5 de Setembro de 1997. Em 2003, foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Abrindo uma excepção, o Papa polaco decidiu permitir a abertura do processo de beatificação apesar de ainda não terem passado os cinco anos exigidos pela lei canónica.

As Irmãs do sari branco são cerca de cinco mil e estão em mais de 130 países. Das mais de setecentas casas espalhadas pelo mundo, três estão em Portugal: Setúbal, vocacionada para as crianças;  Lisboa e Faro: dedicam-se aos idosos e incapacitados. Diz a Irmã Catarina Santos: “Sentimo-nos muito privilegiadas, porque as pessoas acham que somos a Madre Teresa”. Mas, comparando com essa fonte de inspiração todas nos sentimos “muito fracas e frágeis” embora reconheçamos nos “gestos especiais” e na “ternura” que a comunidade envolvente nos dedica uma forte identificação com a missionária de Calcutá.
Maria do Carmo, Superiora Regional das Missionárias da Caridade em  Portugal, França, Espanha Suíça e Marrocos, e que conviveu com Madre Teresa, disse  à Renascença que  a Madre Teresa é um exemplo “ de quem se entregou completamente a Deus, vivendo na simplicidade evangélica e dedicando sua vida totalmente aos outros”. E lembra que ela disse: “Não é importante fazer muitas coisas, mas o que é importante é o amor que pomos nas coisas que fazemos”. Segundo a orientação das últimas Encíclicas dos Papas, “temos um quarto voto que é, exactamente, o voto de caridade, que é o serviço de todo o coração e gratuito aos mais pobres entre os pobres. É isso que procuramos fazer”. Armando Soares

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