LUZES DE ESPERANÇA Semana Santa: sublimidade da fisionomia moral de Nosso Senhor Jesus Cristo

LUZES DE ESPERANÇA

Cristo na Oração no Horto das Oliveiras.

Posted: 11 Apr 2017 06:58 PM PDT





Jesus Cristo se manifestou mais plenamente no sofrimento

Há um traço de Nosso Senhor Jesus Cristo em que apareceu toda a grandeza d’Ele, como um fruto que se parte e exala o seu melhor aroma, dá seu melhor sabor e mostra melhor sua beleza: Ele enquanto sofredor. 
A dor é a circunstância da vida em que a miséria humana mais aparece. Esmagado pela dor, o homem geme, foge, chora, protesta, aniquila-se, revolta-se. Habitualmente, a dor causa no homem verdadeiro pavor.
Por outro lado, o homem que enfrenta a dor nas suas várias modalidades adquire uma extraordinária formosura de alma. Não há verdadeira formosura de alma num homem que nunca sofreu. 
Às vezes vejo certas fisionomias “em branco” em matéria de sofrimento e fico com pena, porque os dias de vida do homem se contam pelos dias que ele soube sofrer santamente. A plenitude da vida do homem reside no sacrifício. Mas há várias modalidades de sofrimento. Elas tocam cordas diversas na alma humana e despertam várias formas de beleza. 
Por exemplo, o sofrimento do guerreiro; o sofrimento do homem que assiste um doente; o sofrimento do próprio doente; o sofrimento do diplomata dedicado; o sofrimento do pai ou da mãe que vê seu filho partir para o campo de batalha; o sofrimento do amigo injustamente traído por outro amigo.
Bom Jesus de Pirapora


Há tantas formas santas de sofrimento, cada uma delas configura a alma humana com uma beleza própria. Nosso Senhor Jesus Cristo não teve um sofrimento. Ele foi o Sofredor, Ele foi o Varão das dores. 
Considerando a vida d’Ele, percebemos que sofreu todas as formas de dor que pode um homem sofrer, o que deu ocasião para manifestar belezas insondáveis — as celestes belezas da dor! Ele foi triunfante do modo mais belo que se possa imaginar. Ele foi o mais glorificado, mas também o mais desprezado.
O mais amado e o mais invejado. Ele reuniu em Si contrastes harmônicos inimagináveis.
Como não ter receio de se apresentar diante de Nosso Senhor?
Em nossos dias estabeleceu-se o princípio execrável segundo o qual quando existe uma pessoa muito elevada, muito galardoada, com muita grandeza, deve-se ter medo de ser desprezado por ela. onde o receio de se apresentar diante de Jesus Cristo. São Pedro, diante d´Ele, disse: “Afastai-Vos de mim, Senhor, porque eu sou um homem pecador”. 
Como quem diz: “Entre Vós e mim não há congruência, não há continuidade, e não é possível espécie alguma de relação. Vós estais numa desproporção comigo a tal ponto, que diante de Vós o meu papel é sumir, é não existir”.
Isto significa não compreender exatamente Nosso Senhor. 
Porque como Ele possui em Si todos os graus e formas possíveis de perfeição, ama necessariamente todos os graus e formas possíveis de virtudes existentes. 
Ele odeia o pecado, mas tudo aquilo que não é pecado, por pequeno e modesto que seja, é uma cintilação e uma expressão d’Ele, tem harmonia com Ele. Tal cintilação O encanta e n’Ele repercute em ternura e afeto.
É da ordem humana das coisas que amemos o grande porque é grande, e amemos o pequeno porque é pequeno. 


Nosso Pai Jesus da Sentença, condenado por
Pilatos, Sevilha.



Exemplo: encantamo-nos vendo uma águia voando com toda aquela beleza, mas vendo um beija-flor, sorrimos, como que exclamando: “Que joia, que maravilha!”. 
Ninguém imagina um “beija-florzão” gigantesco, assim como não se imagina uma águia pequenina. Jesus Cristo odeia severamente o pecado, com total intransigência. Tendo todas as perfeições, Ele exclui todas as formas de imperfeições, mas ama o bem, mesmo nos menores graus.  Ele criou também as almas com poucas qualidades, criou também os menos inteligentes. Assim, Ele se compraz em considerar uma pequena inteligência, pois ela participa da inteligência incriada!
Apresentar-se com suma confiança diante do Divino Criador
Se Ele ama todos os graus e formas de inteligência e de virtude, ama também os resíduos, ama os restos conspurcados, pisados no meio do vício, mais ou menos como uma flor que medrou no meio de uma porção de ervas daninhas. Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto Cabeça da Igreja, não ama seus membros? 
Há no Antigo Testamento uma afirmação que me impressionou muito: “Não desprezes a tua própria carne”. 
Ele haveria de desprezar uma alma que Ele próprio criou? 
Assim compreendemos que em presença de Jesus Cristo até o pecador, não considerado enquanto pecador, mas enquanto nele existindo resíduos de virtude, é digno do amor d’Ele.
Compreendemos por que tantos e tantos pecadores arrependidos se aproximavam d’Ele com confiança.  Maria Madalena e o Bom Ladrão são exemplos disso. Em vez de ficarem aterrorizados diante d’Ele, encantaram-se.
O homem é ordenadíssimo a Deus, mas precisa do auxílio d’Ele para suportar a sua grandeza.


Jesus cura o cego

Mais ou menos como o sol: fomos feitos para viver sob o sol, mas não conseguimos fixá-lo diretamente por longo tempo. Por isso Nosso Senhor velou suas qualidades durante sua vida terrena, e só aos poucos Se foi revelando aos homens. Compreendamos com quanta confiança devemos nos dirigir a Jesus Cristo, certo de que Ele olha para nós e nos ama.  Ele que apreciou a fé de São Pedro, apreciará qualquer um que afirme com fé: “Vós sois o Filho de Deus vivo!” 
Assim, com toda tranquilidade e confiança, podemos nos colocar na presença de nosso Divino Salvador. Quando meditamos os diversos passos do Rosário, nos Mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, devemos nos colocar com confiança na presença d’Ele.  Desse modo, a meditação dos fatos de sua vida se ilumina, e O amaremos e compreenderemos melhor.
Sublime relação da Santíssima Virgem com Nosso Senhor São Bernardo dizia que a relação entre Nossa Senhora e seu Divino Filho é como da lua em relação ao sol.  A lua é para nossos olhos o esplendor da luz do sol, ela reflete o sol. A Virgem Santíssima é o reflexo perfeitíssimo de Jesus Cristo. 
Nossa Senhora da Consolação, Cracóvia, Polônia


Nossa Senhora também não deixou transparecer toda a sua beleza em sua vida terrena. Ela foi se manifestando aos poucos, para consolar os homens após a morte de Nosso Senhor.
Eu submeto o que exponho ao juízo da Igreja, mas creio que Ele é tão superabundantemente rico em belezas, que seus contemporâneos não viram tudo.  E que grande parte dessa beleza a graça foi depois se revelando sucessivamente aos santos nas várias eras da História da Igreja.  Os santos dos tempos dos mártires, dos tempos dos confessores, dos tempos dos Doutores, e depois os da Idade Média e assim por diante, cada época foi acrescentando algo a mais à figura do Redentor Divino.
Desse modo, quando se chegar ao Reino do Imaculado Coração de Maria — como previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort e confirmado em Fátima —, a figura de Nosso Senhor vai brilhar em toda a sua plenitude.
Quando o último santo na Terra tiver visto o último esplendor em Nosso Senhor e o tiver reproduzido em sua alma tanto quanto alcança a natureza humana, a História do mundo terá terminado.  Essa lenta manifestação, adoração e reprodução da beleza moral da santidade de Jesus Cristo é a própria História da humanidade! 
Terá chegado o momento do Juízo Final, a missão d’Ele estará completamente concluída e a História estará encerrada. Considerando assim a figura do Salvador da humanidade, a meditação de sua vida, contemplando os mistérios do Rosário, adquire uma verdadeira luz. 
Então, desde o primeiro Mistério, a “Agonia no Horto das Oliveiras” até o último, a “Coroação de Nossa Senhora no Céu”, passo a passo vai se manifestando a beleza da fisionomia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, Revista Catolicismo, nº 796, abril/2017)

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