AMAZÓNIA/ carismas dos leigos
AMAZÓNIA/
carismas dos leigos
Sínodo Amazônico: valorizar os
carismas dos fiéis leigos, longe do clericalismo
VATICAN NEWS 14 OUT.2019
Com a 10° Congregação Geral, realizada na tarde de 14
de outubro, prosseguem os trabalhos do Sínodo Especial Pan-amazônico, em
andamento no Vaticano até 27 de outubro. Os padres sinodais presentes na Sala
eram 177, na presença do Papa Francisco.
Vatican News – Cidade do Vaticano
Repensar as ministerialidades da Igreja à luz dos parâmetros da
sinodalidade: este é um dos desafios da Igreja na Amazônia para que seja sempre
mais Igreja da Palavra. Este foi o teor de alguns pronunciamentos feitos na
tarde de hoje na Sala do Sínodo. A Palavra de Deus é presença ativa e
misericordiosa, educativa e profética, formativa e performativa, interpelante
no âmbito da ecologia integral e sinal de empenho social, econômico, cultural e
político para o desenvolvimento de um novo humanismo. São necessários novos
ministros da Palavra, inclusive mulheres, para dar novas respostas aos desafios
contemporâneos e é preciso investir nos leigos bem preparados que, em espírito
missionário, saibam levar o anúncio do Evangelho a todos os lugares da
Amazônia. Além disso, uma formação adequada dos leigos engajados é fundamental
também para o nascimento de novas vocações.
O papel dos fiéis leigos e das mulheres
Uma Igreja ministerial, foi dito ainda na Sala, precisa que sejam melhor
expressos e valorizados os carismas dos fiéis leigos, graças aos quais se
manifesta a face da Igreja em saída, longe do clericalismo. Um pronunciamento,
em especial, sugere que a questão dos assim chamados viri probati e
da ministerialidade feminina sejam tratados numa Assembleia sinodal ordinária,
porque são temas de alcance universal. Outra fala aconselha que, antes
dos viri probati presbiteri, se pense nos viri probati
diaconi: o diaconato permanente, com efeito, pode representar um verdadeiro
laboratório para ter homens casados no sacramento da Ordem. Em particular para
o tema feminino, entre as colocações dos auditores se sugere que sejam
instituídos ministérios não ordenados para as mulheres leigas, entendendo o
próprio ministério como um serviço, de modo a garantir em todo o território
pan-amazônico a dignidade e a igualdade feminina. Esses ministérios poderiam
ser, por exemplo, o da celebração da Palavra ou das atividades
sócio-caritativas.
Proteção dos menores e dos adultos vulneráveis
Depois, houve espaço para a proteção dos menores e dos adultos vulneráveis
na Amazônia: a terrível chaga da pedofilia e dos abusos sexuais requer, de
fato, que a Igreja seja sempre vigilante e corajosa. O maior desafio,
destacou-se, é a transparência e a responsabilidade diante desses crimes, para
que possam ser prevenidos e combatidos. O tema da exploração sexual juvenil foi
citado também em outras ocasiões: as redes criminosas – foi dito – roubam a
infância das crianças, tornando-as vítimas, por exemplo, do tráfico de órgãos.
As cifras são dramáticas: em 2018, somente no Brasil, foram contabilizados 62
mil casos de estupro. E se trata de uma das cifras mais altas da região
amazônica. Na base disso tudo, existem seja graves desigualdades econômicas,
seja carências de ações governamentais locais e internacionais capazes de
combater esses delitos. Foi feito então um apelo para uma maior obra de
prevenção no setor, com a ajuda das Conferências episcopais e das Congregações
religiosas. A atenção aos menores e às mulheres foi reiterada também para
exortar a luta contra o tráfico de pessoas: as vítimas deste drama estão entre
as mais desumanizadas do mundo. Por isso, se pede que, através do Dicastério
para o Desenvolvimento Humano Integral, as grandes empresas respeitem as normas
internacionais sobre o tráfico e que sejam instituídas Comissões pastorais
especiais para enfrentar o tráfico de pessoas.
Pastoral vocacional e Pastoral juvenil
Foi ressaltada ainda a importância da Pastoral vocacional: destaca-se que
esta não pode faltar na obra de evangelização e deve ser acompanhada de uma
Pastoral juvenil que seja, ao mesmo tempo, chamada e proposta de um encontro
pessoal com Cristo. Os jovens que querem seguir Jesus, foi dito na Sala, devem
ser amparados por uma formação adequada, através de um testemunho de vida santo
e engajado. Os sacerdotes, portanto, deverão ser capazes de compreender
profundamente as exigências da Amazônia: a catequese não pode ser demasiada
acadêmica, mas ser feita com espírito missionário e coração de pastor.
O recurso primário da água
Destacou-se também a importância da formação catequética à ecologia
integral, em particular para a proteção e a salvaguarda da água, recurso
primário e fonte de vida. O cuidado dos recursos hídricos – tema enfrentado
ainda nos pronunciamentos de auditores e convidados especiais – é fundamental:
todos os dias, com efeito, milhares de crianças no mundo morrem por doenças
relacionadas à água e milhões de pessoas sofrem por problemas hídricos. Como
disse o Papa Francisco em diversas ocasiões, a próxima guerra mundial será
ligada à água. Portanto, precisa-se de uma urgente conscientização global para
a proteção da casa comum e a reconciliação com a Criação, sinal da presença de
Deus. Mais tarde é demasiado tarde, foi dito na Sala. A exortação a uma
“conversão ecológica” diz respeito também à dimensão ética dos estilos de vida
atuais, muitas vezes marcados pela tecnocracia e pela maximização do lucro como
objetivo absoluto, em detrimento de uma visão do homem como ser humano
integral.
O desafio da comunicação
Em sintonia com o que foi dito na 9° Congregação Geral, a Sala voltou a
refletir sobre o tema da comunicação: através dos meios de comunicação de massa
– afirmou-se –, é preciso abrir-se aos comunicadores de todas as culturas e de
todas as línguas, de modo a reforçar os povos amazônicos. As mídias da Igreja,
portanto, devem ser um espaço para consolidar os conhecimentos locais, através
inclusive da formação de comunicadores indígenas e camponeses. Entre as
reflexões dos padres sinodais, esteve também a defesa dos povos indígenas, a
ser levada avante, por exemplo, por meio da educação ou de pequenos projetos de
desenvolvimento social. Muitas vezes excluídas da sociedade, de fato, as
populações originárias não devem ser vistas como “incapazes”, mas
protagonistas, e devem ser ouvidas, compreendidas e acolhidas. Depois, foi
relançada a exortação para promover a vida consagrada feminina nos contextos
periféricos urbanos da Amazônia, onde vivem os “invisíveis”, aqueles que não
têm voz nem direitos. Eis então o convite para que as Comissões de justiça e
paz e de direitos humanos possam cooperar mais entre si, em nome da defesa da
vida do homem e do planeta.
A reflexão do Papa
No encerramento da Congregação, o Papa Francisco tomou a palavra, voltando
a refletir sobre alguns temas que emergiram durante os trabalhos e evidenciando
alguns aspectos que mais o impressionaram
José
Gregorio Díaz Mirabal, Presidente do Congresso das Organizações Indígenas
Amazônicas (COICA).
Debora Donnini, Silvonei
José - Cidade do Vaticano
"Está delineando-se um
quadro no qual tudo está realmente conectado" e a Laudato si se
vive concretamente. Foi o que disse na Sala de Imprensa do Vaticano, o padre
Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação, falando sobre a 9ª
Congregação Geral do Sínodo para a Amazônia, que teve início nesta manhã com a
oração do Papa pelo Equador, como relatou o Prefeito do Dicastério da
Comunicação, Paolo Ruffini.
Ricos os testemunhos de
"como a Igreja em saída seja já uma realidade" com as comunidades que
defendem a vida, o trabalho em equipe, conta o padre Costa, destacando como
isso nos faz refletir sobre os desafios dos diversos ministérios e sobre a
liturgia inculturada. Central também o tema da conversão ecológica integral e
do "urgente pedido de uma aliança com a Igreja" para a defesa dos
direitos. As vítimas pela proteção da terra exigem ações urgentes que possam
levar a criação de um observatório eclesial internacional sobre as violações
dos direitos humanos das populações. Poder-se-ia defender uma governança na
qual as populações sem poder de negociação pudessem ser ouvidas. Falou-se
também de modelos circulares de economia, de direitos ambientais, mas também de
um crescimento da cultura da comunicação na Região Pan-Amazônica, com a
valorização da mídia católica e a formação de "comunicadores nativos"
para fortalecer as narrativas no território.
A necessidade de levar esta
defesa dos povos indígenas aos lugares oficiais foi destacada por Josianne
Gauthier, secretária geral da CIDSE (Aliança Internacional Católica de Agências
de Desenvolvimento), que há mais de 50 anos apoia as comunidades na defesa de
seus direitos. "Um dos nossos papéis no Sínodo - disse - é ouvir”.
Sobre a experiência entre
esses povos falou amplamente dom José Ángel Divassón Cilveti, ex-Vigário
apostólico de Puerto Ayacucho, Venezuela, com referência ao grupo étnico dos
Yanomami que vivem na área florestal entre a Venezuela e o Brasil. Nós, - disse
ele -, estamos presentes ali como salesianos desde 1957. Depois do Concílio,
iniciou-se uma nova etapa para realizar esta obra evangelizadora, para
acompanhar estes povos. O critério passou a ser o da partilha da vida das
comunidades, conscientes de que cabe a elas tomarem as rédeas nas mãos. Nós os
ajudamos com projetos para que não dependessem dos outros. Central em sua
experiência, que Jesus Cristo deveria ser levado até eles, no entanto, era
necessário conhecer suas vidas para não chegar como colonizadores. Então, houve
uma preparação para o batismo. Dom Cilveti explicou como uma Igreja que ajuda estas
pessoas começou a crescer, porque sem dúvida "o Evangelho traz coisas
novas" como o perdão e estas pessoas "começaram a reconhecer o valor
deste valor: a capacidade de perdoar ajudou eles a resolverem certos problemas,
conseguiram superar muitos conflitos. Na Floresta Amazônica temos testemunhado
essas mudanças”.
Vem de uma nova diocese perto
da foz do rio Amazonas, fundada há 14 anos: 1.100 aldeias, poucos sacerdotes.
Dom Carlo Verzeletti, bispo de Castanhal, Brasil, falou das dificuldades de
celebrar a missa correndo de um ponto a outro por causa do tamanho do
território. No seu discurso, insistiu, entre outras coisas, sobre a ordenação
dos homens casados para que a Eucaristia, - observou -, possa se tornar uma
realidade mais próxima das nossas comunidades. Não sacerdotes de segunda
classe, mas "pessoas preparadas que têm uma vida exemplar" e que
poderiam fazer um trabalho extraordinário, afirmou, acrescentando que já
saberia quem indicar. Para ele, o diálogo é, sem dúvida, central, como vem
acontecendo há anos, convidando os prefeitos e indo às paróquias porque não se
deve destruir ainda mais a Amazônia.
A dar voz, em primeira pessoa,
àqueles que sempre viveram neste pulmão verde, é certamente José Gregorio Díaz
Mirabal, que representa mais de 400 povos amazônicos. Indígena curripac da
Venezuela, é presidente do Congresso de Organizações Indígenas Amazônicas
(COICA), presente há 36 anos nos países amazônicos. Antes de mais nada o seu
muito "obrigado" ao Papa Francisco que no ano passado, em Puerto Maldonado,
recordou os povos indígenas e um muito "obrigado" à Repam pelo
trabalho que está realizando. É também seu o "grito" para que termine
a "invasão" de grandes projetos de desenvolvimento, empresas
hidrelétricas, mineração, monocultura, roubo de terras. Muitos de nós são
assassinados, disse ele, pedindo que os governos da Amazônia se sentem e
conversem com eles e que se possa "fortalecer o vínculo entre a Igreja e
os povos indígenas".
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