AMAZÓNIA/mártires Sínodo 2019: evoca mártires da Amazónia, território que divide opiniões
AMAZÓNIA/mártires
Sínodo 2019: evoca mártires da Amazónia, território
que divide opiniões
Out 5, 2019 - 9:40
Celebração evoca figuras como
Dorothy Stang e Chico Mendes
Octávio Carmo, enviado da
Agência ECCLESIA ao Vaticano
A igreja de
Traspontina, em Roma, acolhe hoje uma Vigília de Oração animada por jovens, no
arranque do Sínodo especial para a Amazónia, em que vão recordar os mártires da
região.
A organização do evento explica à Agência ECCLESIA que “
abrir espaço para um momento dedicado à lembrança dos mártires em defesa do
povo e da floresta amazônica, como o padre Ezequiel Ramin, a irmã Dorothy Stang
e Chico Mendes.
Dorothy “Mãe” Stang, religiosa norte-americana, foi morta em
2005, vítima dos conflitos relacionados com a posse e exploração da terra, em
defesa das lideranças camponesas, políticas e religiosas.
O missionário comboniano Ezequiel Ramin foi morto a 24 de
julho de 1985, quando voltava de uma missão de paz, na Fazenda Catuva; foi
morto por pistoleiros a mando de fazendeiros, que nunca foram presos, recorda a sua congregação.
Outra figura evocada é a do irmão Vicente Cañas, missionário
jesuíta que foi morto em 1987, a mando de fazendeiros, em defesa dos indígenas
Enawenê-Nawê, no meio dos quais viveu durante uma década.
O casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo foi executado
na manhã de 24 de maio de 2011, alegadamente por madeireiros, em Nova Ipixuma,
no Pará (Brasil); José Cláudio era considerado o sucessor de Chico Mendes,
morto em 1988 pela sua defesa da Amazónia
Estas personalidades vão ser recordadas na “Peregrinação
pela Amazónia”, prevista para a manhã do dia 19 de outubro.
“Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia
integral” é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a Assembleia Especial do
Sínodo dos Bispos que decorre de 6 a 27 de outubro, no Vaticano.
O tema escolhido motivou críticas, particularmente por parte
de responsáveis brasileiros, preocupados com questões ligadas à soberania sobre
o território.
Em Roma, Denise Barbosa, de São Paulo, turista, espera que a
reunião ajude os jovens católicos a “tomar consciência de que o problema não
está só no Brasil, é um problema que vai afetar a Europa, todas as pessoas”.
“Os bispos têm um papel importante na consciencialização dos
jovens, não só na área religiosa mas também na do ambiente”, criticando as
opções tomadas pelo governo do presidente Bolsonaro, neste campo.
Assunta Rosa, de 60 anos, de férias na capital italiana, e
pensa que “o mundo inteiro fala da Amazónia, mas de uma forma que não é
correta”.
“É preciso estudar mais e ver realmente o que está a
acontecer na Amazónia”, lamentando a “bagunça” provocada na região.
Em declarações à Agência ECCLESIA, a turista brasileira
considera que “muita gente” que não deixa o Bolsonaro “fazer o que está certo”.
Liliane Prates, médica, fala por sua vez num “tema muito
importante” para o Brasil, pedindo ajuda externa para que o país possa proteger
uma área importante para todo o mundo.
Peter Chau, sacerdote peruano de 36 anos, sublinha que o seu
país também tem “muitos locais amazónicos”.
“Temos de cuidar da nossa Amazónia, porque temos de cuidar
de todo o mundo, até porque no dia em que a Amazónia desaparecesse, não haveria
ambiente para todos. Por isso, temos não só de tomar conta para o nosso tempo,
mas também para o futuro”, adverte.
O padre Peter Chau lamenta que os políticos não procurem
“salvar a Amazónia”.
“É uma questão política, o Papa há pouco tempo falou da
corrupção, mas é preciso levar isto a sério, porque é algo que pode destruir
todo o mundo”, observa.
O meu conselho é que procure fazer
tudo o que estiver ao nosso alcance, para cuidar de todo o mundo, de todo o
planeta. Com pequenas coisas, com as coisas que vemos na rua, o que fazemos em
casa”.
O Brasil terá a maior delegação entre os participantes no
Sínodo 2019, sendo 58 bispos da região amazónica; a reunião acolhe ainda nomes
como Ban Ki-moon, antigo secretário-geral da ONU, representantes de igrejas
evangélicas, de ONG e povos indígenas.
A região pan-amazónica tem uma extensão de 7,8 milhões de
km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Perú, Equador, Colômbia, Venezuela,
Guiana, Suriname e Guiana Francesa; dos seus cerca de 33 milhões de habitantes,
3 milhões são indígenas pertencentes a 390 grupos ou povos.
OC
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