Sínodo Amazónia: Evangelização defesa da vida e do meio ambiente


Sínodo Amazónia: Evangelização defesa da vida e do meio ambiente
Foto: Vatican Media

Narcotráfico e cooperação mundial urgente
O drama do narcotráfico e suas consequências foram um dos temas da 6ª CGS. Presentes o Papa Francisco e 180 padres sinodais.
Em algumas regiões da pan-amazónia, o cultivo de coca passou de 12 a 23 mil hectares, com efeitos devastadores provocando um aumento substancial da criminalidade e do desequilíbrio natural do território, numa maior desertificação. A construção de centrais hidroelétricas, comporta o desflorestamento de amplas reservas ambientais ricas de biodiversidade, assim como os incêndios autorizados destroem milhões de hectares de terreno, alterando o ecossistema.
Em conferência de imprensa, D. Medardo de Jesús Henao Del Río, vigário-apostólico de Mitú (Colômbia), com território marcado com 27 grupos indígenas, falou da presença da “guerrilha” e do “narcotráfico”, além da pressão das “multinacionais” sobre os 44 mil habitantes distribuídos por 54 mil quilómetros quadrados, num cenário de abandono”. “A Amazónia nunca esteve tão ameaçada como hoje”, disse o prelado católico.
É uma zona em que se manifestam muitos desafios globais que dizem respeito a todos. Os sofrimentos dos povos amazônicos, de fato, derivam de um estilo de vida “imperial”, em que a vida é considerada simples mercadoria e as desigualdades acabam por ser sempre mais reforçadas. Mas os povos indígenas podem ajudar a compreender a interconexão das coisas: a cooperação em nível mundial é possível e é urgente.

Conversão ecológica 
Perante tudo isto impõe-se um apelo necessário à conversão ecológica: a Igreja deve ser uma voz profética para que o tema da ecologia integral entre na agenda dos organismos internacionais.
Os padres sinodais refletiram sobre o equilíbrio entre inculturação e evangelização e a olhar para o exemplo de Jesus, que é muito eloquente. A própria encarnação, de fato, é o maior sinal de inculturação, porque o Verbo de Deus assumiu a natureza humana para tornar-se visível no seu amor. E esta é a tarefa da Igreja, chamada a encarnar na vida concreta das pessoas, assim como fizeram os missionários na Amazónia.
Como o Papa Francisco e outros podemos dizer: “Dói-nos na alma ver, muitas vezes, essa floresta em chamas, isso é triste, é lamentável. Todos nós temos a responsabilidade de cuidar do planeta, da casa comum, e concretamente da Amazónia, da sua floresta. Todo o mundo precisa da Amazónia e a Amazónia também precisa de todo o mundo”.

Sinodalidade missionária e diaconias da fé
Na teologia da criação, reside a Palavra de Deus à humanidade. Os padres refletiram sobre a importância de um maior diálogo entre esta teologia e as ciências positivas. Esquecer a criação significaria esquecer o próprio Criador. O diálogo e a defesa dos direitos dos povos originários ajuda a valorizá-los como dignos interlocutores.
D. Medardo Del Rio, de Milú (Colómbia), assinalou que a Igreja acompanha as comunidades indígenas, “capacitando-as”, e procurando “assimilar certos valores” que estão em comunhão com o Cristianismo.
Expressou-se a ideia de que a Amazônia se torne um laboratório permanente de sinodalidade missionária. Destacou-se a criação de “ministérios próprios” para as comunidades católicas e a importância da interculturalidade e da valorização das culturas e das populações originárias, cuja cosmovisão ajuda no cuidado da casa comum.
A propósito de evangelização, uns acentuaram a falta de vocações sacerdotais e religiosas e apostam nas diaconias da fé. Pediram uma melhor formação para os presbíteros, assim como foi pedida uma valorização, distante do clericalismo, das responsabilidades dos leigos.
D. Wilmar Santin, bispo da prelazia de Itaituba (Brasil), foi à sala de imprensa falar da sua experiência de criação de “ministros da Palavra”, 48 indígenas mundurucus, nove dos quais mulheres.
Um sentir comum: uma atenção especial ao cuidado pastoral dos jovens indígenas, divididos entre os conhecimentos tradicionais e ocidentais.

Profetas da esperança
O bispo cabo-verdiano D. Teodoro Mendes Tavares, missionário na Amazónia há mais de 20 anos, disse que a Igreja Católica tem de assumir, nesta região: “A evangelização como defesa da vida – a vida das pessoas, a ecologia humana – e também a defesa do meio ambiente”. 
O missionário espiritano, de 55 anos, é responsável pela diocese de Ponta de Pedras, no Estado do Pará (Brasil). “A Amazónia é uma realidade complexa, multiétnica, multicultural, diria também multirreligiosa, e onde faltam missionários qualificados”, assinala na entrevista.
Para o prelado, o Sínodo tem de ser “voz e a vez dos povos da Amazónia”, uma região que enfrenta desafios como a falta de políticas públicas na saúde e na educação, além da “questão ambiental”. “Nós queremos ser profetas de esperança e não da desgraça”, acrescentou.
Elogia a sensibilidade do Papa com a Amazónia, e a sua preocupação ecológica, partilhada pelos bispos desta “periferia do mundo”. “Tem sido uma experiência muito gratificante, exercer o meu ministério como bispo, servindo a Igreja, numa realidade desafiadora”, relata.
O religioso diz que o anúncio do Sínodo, em 2017, foi “uma surpresa muito agradável, as pessoas vibraram de alegria”, falando, agora, num momento de “grande responsabilidade”.
E anota: “O nosso foco principal deve ser a evangelização, a partir de Jesus Cristo, da Palavra de Deus, porque sem a Palavra de Deus não se pode evangelizar”.

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