Sínodo Amazónia: Evangelização defesa da vida e do meio ambiente
Sínodo Amazónia: Evangelização defesa da vida e do meio ambiente
12 Outubro, 2019 JM-159
Narcotráfico e cooperação mundial
urgente
O drama do narcotráfico e suas consequências foram um dos temas
da 6ª CGS. Presentes o Papa Francisco e 180 padres sinodais.
Em algumas regiões da pan-amazónia, o cultivo de coca passou de
12 a 23 mil hectares, com efeitos devastadores provocando um aumento
substancial da criminalidade e do desequilíbrio natural do território, numa
maior desertificação. A construção de centrais hidroelétricas, comporta o
desflorestamento de amplas reservas ambientais ricas de biodiversidade, assim
como os incêndios autorizados destroem milhões de hectares de terreno,
alterando o ecossistema.
Em conferência de imprensa, D. Medardo de Jesús Henao Del Río,
vigário-apostólico de Mitú (Colômbia), com território marcado com 27 grupos
indígenas, falou da presença da “guerrilha” e do “narcotráfico”, além da
pressão das “multinacionais” sobre os 44 mil habitantes distribuídos por 54 mil
quilómetros quadrados, num cenário de abandono”. “A Amazónia nunca esteve tão
ameaçada como hoje”, disse o prelado católico.
É uma zona em que se manifestam muitos desafios globais que
dizem respeito a todos. Os sofrimentos dos povos amazônicos, de fato, derivam
de um estilo de vida “imperial”, em que a vida é considerada simples mercadoria
e as desigualdades acabam por ser sempre mais reforçadas. Mas os povos
indígenas podem ajudar a compreender a interconexão das coisas: a cooperação em
nível mundial é possível e é urgente.
Conversão
ecológica
Perante tudo isto impõe-se um apelo necessário à conversão
ecológica: a Igreja deve ser uma voz profética para que o tema da ecologia
integral entre na agenda dos organismos internacionais.
Os padres sinodais refletiram sobre o equilíbrio entre
inculturação e evangelização e a olhar para o exemplo de Jesus, que é muito
eloquente. A própria encarnação, de fato, é o maior sinal de inculturação,
porque o Verbo de Deus assumiu a natureza humana para tornar-se visível no seu
amor. E esta é a tarefa da Igreja, chamada a encarnar na vida concreta das
pessoas, assim como fizeram os missionários na Amazónia.
Como o Papa Francisco e outros podemos dizer: “Dói-nos na alma
ver, muitas vezes, essa floresta em chamas, isso é triste, é lamentável. Todos
nós temos a responsabilidade de cuidar do planeta, da casa comum, e
concretamente da Amazónia, da sua floresta. Todo o mundo precisa da Amazónia e
a Amazónia também precisa de todo o mundo”.
Sinodalidade
missionária e diaconias da fé
Na teologia da criação, reside a Palavra de Deus à humanidade.
Os padres refletiram sobre a importância de um maior diálogo entre esta
teologia e as ciências positivas. Esquecer a criação significaria esquecer o
próprio Criador. O diálogo e a defesa dos direitos dos povos originários ajuda
a valorizá-los como dignos interlocutores.
D. Medardo Del Rio, de Milú (Colómbia), assinalou que a Igreja
acompanha as comunidades indígenas, “capacitando-as”, e procurando “assimilar
certos valores” que estão em comunhão com o Cristianismo.
Expressou-se a ideia de que a Amazônia se torne um laboratório
permanente de sinodalidade missionária. Destacou-se a criação de “ministérios
próprios” para as comunidades católicas e a importância da interculturalidade e
da valorização das culturas e das populações originárias, cuja cosmovisão ajuda
no cuidado da casa comum.
A propósito de evangelização, uns acentuaram a falta de vocações
sacerdotais e religiosas e apostam nas diaconias da fé. Pediram uma melhor
formação para os presbíteros, assim como foi pedida uma valorização, distante
do clericalismo, das responsabilidades dos leigos.
D. Wilmar Santin, bispo da prelazia de Itaituba (Brasil), foi à
sala de imprensa falar da sua experiência de criação de “ministros da Palavra”,
48 indígenas mundurucus, nove dos quais mulheres.
Um sentir comum: uma atenção especial ao cuidado pastoral dos jovens
indígenas, divididos entre os conhecimentos tradicionais e ocidentais.
Profetas
da esperança
O bispo cabo-verdiano D. Teodoro Mendes Tavares, missionário na
Amazónia há mais de 20 anos, disse que a Igreja Católica tem de assumir, nesta
região: “A evangelização como defesa da vida – a vida das pessoas, a ecologia
humana – e também a defesa do meio ambiente”.
O missionário espiritano, de 55 anos, é responsável pela diocese
de Ponta de Pedras, no Estado do Pará (Brasil). “A Amazónia é uma realidade complexa,
multiétnica, multicultural, diria também multirreligiosa, e onde faltam
missionários qualificados”, assinala na entrevista.
Para o prelado, o Sínodo tem de ser “voz e a vez dos povos da
Amazónia”, uma região que enfrenta desafios como a falta de políticas públicas
na saúde e na educação, além da “questão ambiental”. “Nós queremos ser profetas
de esperança e não da desgraça”, acrescentou.
Elogia a sensibilidade do Papa com a Amazónia, e a sua
preocupação ecológica, partilhada pelos bispos desta “periferia do mundo”. “Tem
sido uma experiência muito gratificante, exercer o meu ministério como bispo,
servindo a Igreja, numa realidade desafiadora”, relata.
O religioso diz que o anúncio do Sínodo, em 2017, foi “uma
surpresa muito agradável, as pessoas vibraram de alegria”, falando, agora, num
momento de “grande responsabilidade”.
E anota: “O nosso foco principal deve ser a evangelização, a
partir de Jesus Cristo, da Palavra de Deus, porque sem a Palavra de Deus não se
pode evangelizar”.
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