Sínodo Amazónia: a Igreja precisa de um rosto próprio

Por
 P. Armando Soares
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Proteger povos indígenas é uma exigência ética 

O arcebispo-emérito de São Paulo, cardeal Hummes, elogiou a “Igreja pobre” da Amazónia e lamentou que muitas pessoas, religiosos ou ativistas, sejam “ameaçadas” constantemente. “O território transformou-se num espaço de desencontros e de extermínio de povos”, sustenta no Vaticano.
O cardeal fala de uma região “disputada” por várias frentes, com “violação dos Direitos Humanos e destruição extrativista”, evocando os “defensores dos direitos humanos” e os seus mártires, como a irmã ameaçadas constantemente, como a Irmã Dotothy Stang.
Esta religiosa católica, defensora dos direitos dos povos ribeirinhos da floresta amazónica, tinha 73 anos e morava no Brasil há 30 nos quando foi assassinada a 12 de fevereiro de 2005».
A Igreja Católica na Amazónia sente a falta de recursos humanos, um problema que dura há muito tempo: a pouca vida sacramental, particularmente a celebração da Eucaristia.

Igreja com rosto próprio

D. Sebastião Bandeira é o Bispo de Coroatá, nordeste do Brasil. Nascido na Amazónia, trabalhou praticamente toda a vida nesta região. Recentemente, falou à AIS sobre a situação do povo e sobre as esperanças depositadas neste Sínodo.
Disse: o Papa Francisco escolheu o tema “novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”. Tem-se mostrado muito corajoso e aberto em relação à Amazónia e, em ordem a evangelização mais firme e mais sólida. Os missionários marcaram religiosa e culturalmente toda essa região. Têm sido verdadeiros heróis que dedicaram as suas vidas procurando o desenvolvimento integral e a evangelização. Mas sentem-se cansados e por vezes desanimados. 
A Igreja da Amazónia precisa ter rosto próprio. Para isso o tema dos ministérios será muito discutido porque é realmente uma preocupação: como ter uma presença institucional numa situação tão distante e tão desafiadora como é a da Amazónia? De preferência com pessoas originárias que conhecem o ambiente e cultura do povo.
Papa Francisco não deixa de colocar problemas, mesmo desafiadores, de modo a serem encontradas soluções adequadas para que a Igreja seja um sinal profético, servidora mesmo enfrentando a perseguição. Precisa de comunidades que, à luz da fé, se tornem evangelizadoras.
 Todos tiveram oportunidade de falar: as bases, os indígenas, os quilombolas, os jovens, os pescadores, as periferias. 

Ordenação sacerdotal de indígenas casados

O ‘documento de trabalho’ pede aos participantes no Sínodo 2019 que “para as áreas mais remotas da região seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal para anciãos, preferencialmente indígenas”.
Segundo o cardeal Hummes, a Igreja Católica na Amazónia sente a falta de recursos humanos, de ministros ordenados. O documento não fala do diaconado feminino, propõe que as mulheres tenham papéis de “liderança” e “espaços cada vez mais amplos e relevantes na área da formação: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e política.

Violação dos direitos humanos

O Vaticano denuncia: “A vida na Amazónia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios”.
As comunidades locais apontam o dedo a “interesses económicos e políticos dos setores dominantes”, em particular “empresas extrativistas, muitas vezes em conivência, ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e das autoridades tradicionais” e “os grandes interesses económicos.”
“A Amazónia é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, a exigia a defesa da vida por parte dos Estados e da Igreja”, sobretudo de povos hoje marcados pela “pobreza produzida ao largo da história” decorrente da economia mundial, na qual prevalece o lucro sobre a dignidade humana”.
“Um exemplo disso é o crescimento dramático do tráfico de pessoas, especialmente o de mulheres, para fins de exploração sexual e comercial”, assinala a Santa Sé.

Tráfico humano

A professora Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Manaus e que atua em parceria com a REPAM, referiu: “a Amazônia é a região do Brasil onde ocorre o maior número de rotas do tráfico internacional de pessoas. Pelo fato de ser uma região de fronteira, isso constitui uma fragilidade para toda a região”.
Depois da Conferência Internacional  sobre Tráfico humano, realizada em Roma, a Dra Márcia disse à Vatican News: “o tráfico de seres humanos implica o aliciamento ou recrutamento de pessoas para o trabalho forçado em diferentes formas e situações como a exploração sexual comercial, o matrimônio forçado, escravatura, mendicância forçada, tráfico de órgãos, e outras formas de abuso e banalização da condição humana” e “ atinge as pessoas mais vulneráveis da sociedade: as mulheres, jovens e adolescentes, as crianças, deficientes físicos, pessoas de rua, migrantes e itinerantes”.
Várias instituições não governamentais com destaque para as vinculadas à Igreja Católica como a Rede um ‘Grito pela Vida’ e a ‘Cáritas’ que estão promovendo campanhas de prevenção ao tráfico, assistência às vítimas, incentivo à formalização de denúncias, e o maior apoio às vítimas e instituições que se atrevem a desafiar o crime organizado internacional de tráfico de seres humanos.

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