AMAZÓNIA/ Igreja com rosto “indígena” Sínodo Amazónia: a Igreja precisa de um rosto próprio
AMAZÓNIA/ Igreja com rosto “indígena”
Sínodo Amazónia: a Igreja precisa de um rosto próprio 3
Por P. Armando Soares in JM
8 Outubro, 2019 (JM 154)
Cardeal Cláudio Hummes |
Proteger povos indígenas é uma exigência ética
O arcebispo-emérito de São Paulo, cardeal Hummes, elogiou a “Igreja pobre” da Amazónia e lamentou que muitas pessoas, religiosos ou ativistas, sejam “ameaçadas” constantemente. “O território transformou-se num espaço de desencontros e de extermínio de povos”, sustenta no Vaticano.
O cardeal fala de uma
região “disputada” por várias frentes, com “violação dos Direitos Humanos e
destruição extrativista”, evocando os “defensores dos direitos humanos” e os
seus mártires, como a irmã ameaçadas constantemente, como a Irmã Dotothy Stang.
Esta religiosa católica,
defensora dos direitos dos povos ribeirinhos da floresta amazónica, tinha 73
anos e morava no Brasil há 30 nos quando foi assassinada a 12 de fevereiro de
2005».
A Igreja Católica na
Amazónia sente a falta de recursos humanos, um problema que dura há muito
tempo: a pouca vida sacramental, particularmente a celebração da Eucaristia.
Igreja com rosto próprio
D. Sebastião Bandeira é
o Bispo de Coroatá, nordeste do Brasil. Nascido na Amazónia, trabalhou praticamente
toda a vida nesta região. Recentemente, falou à AIS sobre a situação do povo e
sobre as esperanças depositadas neste Sínodo.
Disse: o Papa Francisco
escolheu o tema “novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”.
Tem-se mostrado muito corajoso e aberto em relação à Amazónia e, em ordem a
evangelização mais firme e mais sólida. Os missionários marcaram religiosa e
culturalmente toda essa região. Têm sido verdadeiros heróis que dedicaram as
suas vidas procurando o desenvolvimento integral e a evangelização. Mas
sentem-se cansados e por vezes desanimados.
A Igreja da Amazónia
precisa ter rosto próprio. Para isso o tema dos ministérios será muito
discutido porque é realmente uma preocupação: como ter uma presença
institucional numa situação tão distante e tão desafiadora como é a da
Amazónia? De preferência com pessoas originárias que conhecem o ambiente e
cultura do povo.
Papa Francisco não deixa
de colocar problemas, mesmo desafiadores, de modo a serem encontradas soluções
adequadas para que a Igreja seja um sinal profético, servidora mesmo
enfrentando a perseguição. Precisa de comunidades que, à luz da fé, se tornem
evangelizadoras.
Todos tiveram oportunidade de falar: as bases, os
indígenas, os quilombolas, os jovens, os pescadores, as periferias.
Ordenação sacerdotal de
indígenas casados
O ‘documento de
trabalho’ pede aos participantes no Sínodo 2019 que
“para as áreas mais remotas da região seja estudada a possibilidade de
ordenação sacerdotal para anciãos, preferencialmente indígenas”.
Segundo o cardeal
Hummes, a Igreja Católica na Amazónia sente a falta de recursos humanos, de
ministros ordenados. O documento não fala do diaconado feminino, propõe que as
mulheres tenham papéis de “liderança” e “espaços cada vez mais amplos e
relevantes na área da formação: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e
política.
Violação dos direitos humanos
O Vaticano denuncia: “A
vida na Amazónia está ameaçada pela destruição
e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos
elementares dos povos indígenas, como
o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios”.
As comunidades locais
apontam o dedo a “interesses económicos e políticos dos setores dominantes”, em
particular “empresas extrativistas, muitas
vezes em conivência, ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e
das autoridades tradicionais” e “os grandes
interesses económicos.”
“A Amazónia é
multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, a exigia a defesa da vida por
parte dos Estados e da Igreja”, sobretudo de povos hoje marcados pela “pobreza
produzida ao largo da história” decorrente da economia mundial, na qual
prevalece o lucro sobre a dignidade humana”.
“Um exemplo disso é o
crescimento dramático do tráfico de pessoas, especialmente o de mulheres, para
fins de exploração sexual e comercial”, assinala a Santa Sé.
Tráfico humano
A professora Márcia
Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Manaus e que atua em parceria com
a REPAM, referiu: “a Amazônia é a região do Brasil onde ocorre o maior número
de rotas do tráfico internacional de pessoas. Pelo fato de ser uma região de
fronteira, isso constitui uma fragilidade para toda a região”.
Depois da Conferência
Internacional sobre
Tráfico humano, realizada em Roma, a Dra Márcia disse à Vatican News: “o
tráfico de seres humanos implica o aliciamento ou recrutamento de pessoas para
o trabalho forçado em diferentes formas e situações como a exploração sexual
comercial, o matrimônio forçado, escravatura, mendicância forçada, tráfico de
órgãos, e outras formas de abuso e banalização da condição humana” e “ atinge
as pessoas mais vulneráveis da sociedade: as mulheres, jovens e adolescentes,
as crianças, deficientes físicos, pessoas de rua, migrantes e itinerantes”.
Várias instituições não
governamentais com destaque para as vinculadas à Igreja Católica como a Rede um
‘Grito pela Vida’ e a ‘Cáritas’ que estão promovendo campanhas de prevenção ao
tráfico, assistência às vítimas, incentivo à formalização de denúncias, e o
maior apoio às vítimas e instituições que se atrevem a desafiar o crime
organizado internacional de tráfico de seres humanos.
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