TANZANIA «O missionário não consegue fazer nada sozinho»

TANZANIA
«O missionário não consegue fazer nada sozinho»
Texto Francisco Pedro | Foto Ana Paula | 01/12/2014 | 08:31
Casimiro Torres, missionário da Consolata
Casimiro Torres, 48 anos, chegou à Tanzânia em janeiro de 2003. Passou por uma paróquia do interior do país e, recentemente, foi transferido para Ubungo. Nesta entrevista, destaca a importância da ligação entre os missionários e as comunidades de origem






Entrevista
FÁTIMA MISSIONÁRIA Está há 11 anos na Tanzânia. Primeiro no interior e agora numa zona mais urbana. Como tem acompanhado a evolução do país? 

Casimiro Torres O país, como praticamente não tem recursos naturais, é pacífico, mesmo a nível tribal, ao contrário de outros países como o Quénia, o Sudão ou o Congo, onde há muitos interesses internacionais em jogo. Está a desenvolver-se lentamente, mas no interior ainda há muitas dificuldades. Na missão onde estive, em Sanza, tínhamos de fazer 70 quilómetros para encontrarmos a primeira estrada asfaltada. Havia muitos problemas no acesso à saúde e como o povo tanzaniano só pede ajuda em situações limite, chegaram a morrer-nos duas pessoas no carro, quando as tentávamos levar ao hospital mais próximo. 

FM Uma das doenças mais complicadas, comum a toda a África, é a malária. Há boas medidas de prevenção?  

CT Há as redes, que se devem usar sobretudo à noite, mas a grande maioria não usa, e por isso muitos foram infetados, até eu apanhei a malária lá. Já se manifestou duas vezes, mas se for controlada não há problema. O problema é quando deixamos passar o tempo e ela avança, tornando o organismo mais vulnerável. Se ataca o cérebro é que não há nada a fazer. 

FM Que dificuldades tem sentido enquanto evangelizador missionário da Consolata e da Igreja Católica? 

CT O povo tanzaniano quando acredita tem uma fé profunda e verdadeira. No entanto, fruto da sua cultura, mistura muito a fé com as tradições pagãs e continua muito ligado à bruxaria e à feitiçaria. Se uma pessoa tem uma doença, é capaz de ir ao hospital, mas não deixa de ir também ao bruxo ou ao curandeiro. E isso é transversal a qualquer religião. É algo que lhes está no sangue. Por vezes, até acreditam mais nisso que em Deus e em Jesus Cristo. 

FM O ano passado um grupo de voluntários portugueses foi em missão à Tanzânia. O que significa para os missionários, e sobretudo para os locais, a presença destes jovens? 

CT É um sinal de que a Igreja é universal e também de que o trabalho missionário é válido e reconhecido. Para mim, em particular, demonstra que não estamos lá sozinhos. Mostra que há pessoas interessadas no nosso trabalho e que há alguém na retaguarda a colaborar e a ajudar. Mesmo que tenha muitos projetos, ideias e boa vontade, o missionário não consegue fazer nada sozinho. E é esta ligação, entre o missionário que vai e a comunidade que fica, que torna possível o nosso trabalho. Por isso é tão importante para nós que a comunidade conheça, que sinta e apoie.         in FATIMA MISSIONÁRIA

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