MISSÃO A paixão do missionário é anunciar o Evangelho por ARMANDO SOARES

A paixão do misionário é anunciar o Evangelho
O cinquentenário do Decreto conciliar Ad gentes convida-nos a reler e meditar este documento que suscitou um forte impulso missionário nos Institutos de Vida Consagrada. Santa Teresa do Menino Jesus, contemplativa, é nomeada  padroeira das missões, como inspiradora da íntima ligação existente entre a vida contemplativa e a missão. Para muitas congregações religiosas de vida activa, a ânsia missionária surgida do Vaticano II concretiza-se numa extraordinária abertura à missão ad gentes, muitas vezes acompanhada pelo acolhimento de irmãos e irmãs provenientes das terras e culturas encontradas na evangelização.
 Para tais pessoas, o anúncio de Cristo, nas múltiplas periferias do mundo, torna-se o modo de viver o seguimento d’Ele. Qualquer tendência a desviar desta vocação, mesmo se corroborada por nobres motivações relacionadas com tantas necessidades pastorais, eclesiais e humanitárias, não está de acordo com a chamada pessoal do Senhor ao serviço do Evangelho. Nos Institutos Missionários, os formadores são chamados a apontar, clara e honestamente, esta perspectiva de vida e acção, e a discernir com autoridade autênticas vocações missionárias. E continua Francisco: «Dirijo-me sobretudo aos jovens, que ainda são capazes de testemunhos e empreendimentos generosos: não deixeis que vos roubem o sonho duma verdadeira missão, dum seguimento de Jesus que implique o dom total de vós mesmos. Interrogai-vos sobre a razão pela qual escolhestes a vida religiosa missionária e calculai a disponibilidade que tendes para a aceitar por aquilo que é: um dom de amor ao serviço do anúncio do Evangelho, nunca vos esquecendo de que o anúncio do Evangelho, antes de ser uma necessidade para quantos o não conhecem, é uma carência para quem ama o Mestre.»
Hoje, a missão enfrenta o desafio de respeitar a necessidade que todos os povos têm de recomeçar das próprias raízes e salvaguardar os valores das respectivas culturas. Trata-se de conhecer e respeitar outras tradições e sistemas filosóficos.
Dentro desta dinâmica complexa, ponhamo-nos a questão: «Quem são os destinatários privilegiados do anúncio evangélico?» A resposta é clara; está no próprio Evangelho: os pobres, os humildes e os doentes, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que não te podem retribuir (cf. Lc 14, 13-14). Uma evangelização dirigida preferencialmente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer: «existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!» (Evangelii Gaudium, 48). «Isto deve ser claro especialmente para as pessoas que abraçam a vida consagrada missionária: com o voto de pobreza, escolhem seguir Cristo nesta sua preferência, identificando-se como Ele com os pobres, vivendo como eles na precariedade da vida diária e na renúncia ao exercício de qualquer poder para se tornar irmãos e irmãs dos últimos, levando-lhes o testemunho da alegria do Evangelho e a expressão da caridade de Deus.»
Para viver o testemunho cristão e os sinais do amor do Pai entre os humildes e os pobres, os consagrados são chamados a promover, no serviço da missão, a presença dos fiéis leigos. Como já afirmava o Vaticano II, «os leigos colaboram na obra de evangelização da Igreja e participam da sua missão salvífica, ao mesmo tempo como testemunhas e como instrumentos vivos» (Ad gentes, 41).
As Instituições e as Obras Missionárias da Igreja estão postas totalmente ao serviço daqueles que não conhecem o Evangelho de Jesus. Para realizar eficazmente este objectivo, aquelas precisam dos carismas e do compromisso missionário dos consagrados, mas também os consagrados precisam duma estrutura de serviço, expressão da solicitude do Bispo de Roma para garantir de tal modo a koinonia que a colaboração e a sinergia façam parte integrante do testemunho missionário. Jesus colocou a unidade dos discípulos como condição para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21).

A Obra Missionária do Sucessor de Pedro tem um horizonte apostólico universal. A paixão do missionário é o Evangelho. São Paulo podia afirmar: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16). O Evangelho é fonte de alegria, liberdade e salvação para cada homem. A missão dos servidores da Palavra – bispos, sacerdotes, religiosos e leigos – é colocar a todos, sem excluir ninguém, em relação pessoal com Cristo. No campo imenso da actividade missionária da Igreja, cada baptizado é chamado a viver o melhor possível o seu compromisso, segundo a sua situação pessoal. Uma resposta generosa a esta vocação universal deve ser oferecida pelos consagrados e consagradas através duma vida intensa de oração e união com o Senhor.  in VM novembro 2015



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