26 mil famílias vivem em situações habitacionais graves em Portugal.
Subcomissão para a Igualdade e não Discriminação da Assembleia da República
chocada com o que viu em Bragança, o concelho mais afetado do país.
Afonso de Sousa
Bragança é a região
do país onde vivem mais comunidades ciganas em barracas e acampamentos. Foi essa a principal razão para a
Subcomissão para a Igualdade e não Discriminação da Assembleia da República
iniciar, esta segunda-feira, na cidade transmontana, uma visita a nível
nacional para conhecer "in loco" as realidades das minorias étnicas.
E viram no cimo do bairro dos Formarigos, num terreno da
autarquia, quatro rulotes em cima de um terreno enlameado, com ferros velhos,
brinquedos e roupas espalhados pelo chão, muitos cartões e uma fogueira no
meio. A imagem é de muita pobreza. Os diversos cheiros não são agradáveis...há
cães por todo o lado. Pequenos e grandes. É aqui que vive António dos Anjos com
uma pensão de 300 euros.
"Quase
que nem dá para os comprimidos. Vivemos nestas rulotes porque nos ardeu a casa,
ali, há dois anos. Nem sei quantos somos aqui. O presidente diz que vem, que
vem, mas nada. No tempo das eleições vêm cá pedir votos, depois nada".
Ao lado, uma das filhas, tem nos braços uma sobrinha de
ano e meio. Tem dois filhos e está grávida de outro. Diz que "é
muito difícil viver aqui, principalmente quando vem a chuva e o frio. No
inverno aqui vive-se muito mal. Aqui estão oito ou dez miúdos, nem sei bem. Nas
quattro rulotes somos 16".
Por cima deste aglomerado, um outro, composto por
barracas e mais rulotes, acolhe mais algumas famílias de ciganos.
Ouça a peça do
jornalista Afonso de Sousa em Bragança
"É uma situação imoral"
Helena Roseta, uma das deputadas da comissão diz que
o que ali se vê é imoral. " É uma situação imoral! Há pouco um dos senhores destas casas disse-me: mas então é
preciso virem de Lisboa para verem o que se passa em Bragança? Ele tinha razão na crítica
que estava a fazer mas nós, deputados, temos obrigação de ir a qualquer parte
do país. Penso que precisamos de mais, de um olhar transversal. As soluções têm
que ser locais, mas têm que ter financiamento nacional. Os municípios não têm
capacidade sozinhos para dar conta destas situações".
A deputada fala do mais recente programa que está à
disposição das autarquias para estes casos. " É o programa Primeiro
Direito que financia realojamentos, seja qual for a razão da má condição
habitacional ou a ausência da habitação. Para já, só há 40 milhões disponíveis
mas os municípios para terem acesso ao financiamento têm que apresentar uma
estratégia de habitação"
Catarina Marcelino é deputada responsável pela
elaboração do relatório final que deverá estar pronto, em junho, e acrescenta
que o mais importante nestas e noutras comunidades é começar por pôr as
crianças na escola. "É inaceitável que em Portugal e no século XXI haja pessoas a
viver nestas condições. O pré-escolar público é fundamental para estas e outras
crianças. Sabe-se que as crianças que o fazem têm mais sucesso no seu percurso
educativo".
O presidente da Câmara de Bragança, que também esteve no
local, assinala que "as crianças destas comunidades já estão na escola ao lado a cumprir
um programa de integração e que de momento não há habitações disponíveis para
realojamento".
Em Bragança e periferia da cidade há três comunidades de
ciganos, bem definidas, com mais de 100 elementos.
Comentários
Enviar um comentário