Papa Francisco. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa Vaticano, 26 Fev. 19 / 09:50 am (ACI).-
QUAREMA/mensagem
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2019
Vaticano, 26 Fev. 19 / 09:50 CI)
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Vaticano, 26 Fev. 19 / 09:50 am (ACI).- Papa Francisco. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa
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Papa Francisco. Foto: Daniel
Ibáñez / ACI Prensa
Vaticano, 26 Fev. 19 / 09:50
am (ACI).- A Santa Sé
divulgou nesta terça-feira, 26 de fevereiro, a mensagem do Papa Francisco para
a Quaresma de
2019, na qual, mediante o jejum, a oração e a esmola, faz um chamado à
conversão.
“Que a nossa Quaresma seja percorrer
o mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação, que ‘será
libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos
filhos de Deus’. Não deixemos que passe em vão este tempo favorável! Peçamos a
Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão. Abandonemos o
egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus;
façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os
nossos bens espirituais e materiais”.
A seguir, o texto completo da mensagem do Papa Francisco:
«A criação encontra-se em expectativa ansiosa,
aguardando a revelação dos filhos de Deus» (Rm 8, 19)
Queridos irmãos e irmãs!
Todos os anos, por meio da
Mãe Igreja,
Deus «concede aos seus fiéis a graça de se prepararem, na alegria do coração
purificado, para celebrar as festas pascais, a fim de que (…), participando nos
mistérios da renovação cristã, alcancem a plenitude da filiação divina»
(Prefácio I da Quaresma). Assim, de Páscoa em Páscoa, podemos caminhar para a
realização da salvação que já recebemos, graças ao mistério pascal de Cristo:
«De facto, foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8, 24). Este mistério de
salvação, já operante em nós durante a vida terrena, é um
processo dinâmico que abrange também a história e toda a criação. São Paulo
chega a dizer: «Até a criação se encontra em expetativa ansiosa, aguardando a
revelação dos filhos de Deus» (Rm 8, 19). Nesta perspetiva, gostaria de
oferecer algumas propostas de reflexão, que acompanhem o nosso caminho de
conversão na próxima Quaresma.
1. A redenção da criação
A celebração do Tríduo Pascal
da paixão, morte e ressurreição de Cristo, ponto culminante do Ano Litúrgico,
sempre nos chama a viver um itinerário de preparação, cientes de que tornar-nos
semelhantes a Cristo (cf. Rm 8, 29) é um dom inestimável da misericórdia de
Deus.
Se o homem vive como filho de
Deus, se vive como pessoa redimida, que se deixa guiar pelo Espírito Santo (cf.
Rm 8, 14), e sabe reconhecer e praticar a lei de Deus, a começar pela lei
gravada no seu coração e na natureza, beneficia também a criação, cooperando
para a sua redenção. Por isso, a criação – diz São Paulo – deseja de modo
intensíssimo que se manifestem os filhos de Deus, isto é, que a vida daqueles
que gozam da graça do mistério pascal de Jesus se cubra plenamente dos seus
frutos, destinados a alcançar o seu completo amadurecimento na redenção do
próprio corpo humano. Quando a caridade de Cristo transfigura a vida dos santos
– espírito, alma e corpo –, estes rendem louvor a Deus e, com a oração, a
contemplação e a arte, envolvem nisto também as criaturas, como demonstra
admiravelmente o «Cântico do irmão sol», de São Francisco de Assis (cf.
Encíclica Laudato si’, 87). Neste mundo, porém, a harmonia gerada pela redenção
continua ainda – e sempre estará – ameaçada pela força negativa do pecado e da
morte.
2. A força destruidora do pecado
Com efeito, quando não vivemos
como filhos de Deus, muitas vezes adotamos comportamentos destruidores do
próximo e das outras criaturas – mas também de nós próprios –, considerando, de
forma mais ou menos consciente, que podemos usá-los como bem nos apraz. Então sobrepõe-se
a intemperança, levando a um estilo de vida que viola os limites que a nossa
condição humana e a natureza nos pedem para respeitar, seguindo aqueles desejos
incontrolados que, no livro da Sabedoria, se atribuem aos ímpios, ou seja, a
quantos não têm Deus como ponto de referência das suas ações, nem uma esperança
para o futuro (cf. 2, 1-11). Se não estivermos voltados continuamente para a
Páscoa, para o horizonte da Ressurreição, é claro que acaba por se impor a
lógica do tudo e imediatamente, do possuir cada vez mais.
Como sabemos, a causa de todo
o mal é o pecado, que, desde a sua aparição no meio dos homens, interrompeu a
comunhão com Deus, com os outros e com a criação, à qual nos encontramos
ligados antes de mais nada através do nosso corpo. Rompendo-se a comunhão com
Deus, acabou por falir também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio
ambiente, onde estão chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num
deserto (cf. Gn 3, 17-18). Trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se
como deus da criação, a sentir-se o seu senhor absoluto e a usá-la, não para o
fim querido pelo Criador, mas para interesse próprio em detrimento das
criaturas e dos outros.
Quando se abandona a lei de
Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais
fraco. O pecado – que habita no coração do homem (cf. Mc 7, 20-23),
manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo
bem dos outros e muitas vezes também do próprio – leva à exploração da criação
(pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera
todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir
inclusive quem está dominado por ela.
3. A força sanadora do arrependimento e do
perdão
Por isso, a criação tem
impelente necessidade que se revelem os filhos de Deus, aqueles que se tornaram
«nova criação»: «Se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo
passou; eis que surgiram coisas novas» (2 Cor 5, 17). Com efeito, com a sua manifestação,
a própria criação pode também «fazer páscoa»: abrir-se para o novo céu e a nova
terra (cf. Ap 21, 1). E o caminho rumo à Páscoa chama-nos precisamente a
restaurar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos, através do
arrependimento, a conversão e o perdão, para podermos viver toda a riqueza da
graça do mistério pascal.
Esta «impaciência», esta
expetativa da criação ver-se-á satisfeita quando se manifestarem os filhos de
Deus, isto é, quando os cristãos e todos os homens entrarem decididamente neste
«parto» que é a conversão. Juntamente connosco, toda a criação é chamada a sair
«da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de
Deus» (Rm 8, 21). A Quaresma é sinal sacramental desta conversão. Ela chama os
cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal na
sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da
oração e da esmola.
Jejuar, isto é, aprender a
modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação
de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer
por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber
renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos
necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da
insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de
assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do
projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a
Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira
felicidade.
Queridos irmãos e irmãs, a
«quaresma» do Filho de Deus consistiu em entrar no deserto da criação para
fazê-la voltar a ser aquele jardim da comunhão com Deus que era antes do pecado
das origens (cf. Mc 1,12-13; Is 51,3). Que a nossa Quaresma seja percorrer o
mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação, que «será
libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos
filhos de Deus» (Rm 8, 21). Não deixemos que passe em vão este tempo favorável!
Peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão.
Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa
de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com
eles os nossos bens espirituais e materiais. Assim, acolhendo na nossa vida
concreta a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, atrairemos também sobre
a criação a sua força transformadora.
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