PORTO A DIOCESE DO PORTO EM MISSÃO Todos discípulos missionários P. ALMIRO MENDES* // Texto e Fotos in BOA NOVA abril 2019


A DIOCESE DO PORTO EM MISSÃO
Todos discípulos missionários
P. ALMIRO MENDES* // Texto e Fotos in BOA NOVA abril 2019

A Diocese do Porto quis constituir-se como instância de sentido do humano bom e do divino excelente, partilhando com a Guiné-Bissau o fruto das renúncias quaresmais e outros bens, neste Ano Missionário em que a diocese tem como lema “Todos Discípulos Missionários”. Uma Diocese em missão que deseja sê-lo, cá dentro, sem esquecer os de lá de fora, sabendo que quanto mais se dá, mais fica a receber.


A Diocese do Porto quis constituir-se como instância de sentido do humano bom e do divino excelente ao decidir oferecer um Jipe à Guiné - Bissau. Neste país, o quinto mais pobre do mundo, um Jipe é um veículo que salva vidas, dado a contingência do terreno, e funciona, tantas vezes, como ambulância em situações de emergência. Foram quatro os sacerdotes diocesanos que se dispuseram a
D. Manuel Linda com os os Bispos de Bafatá
e de Bissau.
levar, por estrada, o referido veículo até à Guiné - Bissau, atravessando Espanha, Estreito de Gibraltar, Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné. Uma aventura que nem foi rápida nem fácil: demorou nove dias e meio, impôs grandes cansaços e obrigou à superação de algumas dificuldades. Mesmo assim, foi animada, radiante e mágica! Quatro leigos também transportaram uma Pik-Up que ofereceram à ONG “Na Rota dos Povos”, qu
 opera em Catió. O Sr. Bispo do Porto, D. Manuel Linda, numa decisão verdadeiramente surpreendente e profética, foi ter à Guiné-Bissau, de avião, para entregar o Jipe pessoalmente e visitar várias Missões e as duas Dioceses. A este gesto, de si já tão nobre, quis acrescentar a generosidade de deixar à Diocese de Bissau, à Diocese de Bafatá, ao Orfanato Bambaram, às Irmãs Espiritanas de Caió e às Irmãs Marianitas da Ajuda uma oferta de 








D. Manuel Linda e P. Almiro, autor do artigo, experimentam novas vestes D. Manuel Linda com os dois Bispos da Guiné-Bissau e de Bafatá Um dos jipes que foram entregues Abril

vários milhares de euros! É com gestos como este que a Igreja traduz a fidelidade à sua idiossincrasia, torna credível a sua mensagem e evidencia a sua catolicidade.Quem chega a África atraca num cais de mistérios, mergulha numa beleza rara e indizível, veste-se de paisagens ímpares e irretratáveis, mas também se vê envolvido numa noite de dramas e sofrimentos dos inocentes é uma voz abafada que deveria ter eco, ao longe e ao perto, mas que vai morrendo, estrangulada, nos braços da indiferença de tantos que tornam surdos os ouvidos, insensíveis os corações e branqueada a consciência, não se preocupando com o mar de desespero em que tantos naufragam. É por isso que se vê ficar a gemer o restolho de tantas vidas ceifadas à felicidade! África está a pedir, em silêncio e já há muito tempo, uma obra de aglutinação de esforços da Comunidade Internacional, Igreja incluída, para sair do marasmo e atonia de uma pobreza endémica que tem funestas consequências. A tarefa mais imperativa e inadiável a
Além dos jipes, material escolar e outro, o Bispo
do Porto entregou aos Bispos da Guiné
(na foto o de Bafatá) o resultado da
renúncia quaresmal diocesana de 2017 
realizar em África, e em todos os outros continentes, é revestir o ser humano de encanto e de beleza, de dignidade e de prosperidade. Nesta longa e cerrada noite da estagnação em que tantos países de África se eclipsaram, e a Guiné particularmente, vê-se melhor a necessidade de realizar esta obra, que não é fácil nem é cómoda, mas será a única forma de não vilipendiar o Homem nem insultar Deus! Sou fiel testemunha de que os Missionários e Missionárias que trabalham na Guiné-Bissau contribuem muito para as soluções necessárias para o desenvolvimento deste país e para felicidade das suas gentes. Nunca vi ninguém fazer tanto com tão parcos recursos como os Missionários. São eles e elas que todos os dias beijam o chão sagrado da Guiné com a sua entrega e doação e sempre abraçam a dor de tantos inocentes, tornando-se instância segunda do amor que Deus dedica àquele querido mas tão sofrido povo! (...) Sim, correm magoados os dias de tantas pessoas da Guiné, mas, por incrível que pareça, até às tristezas esta gente oferece a ilusão que o tempo é bom e que a vida é sempre uma bela aventura e, por isso, pintam sempre o rosto de airosos sorrisos! É também por isto que gosto tanto das gentes da Guiné! Nunca me detenho no pessimismo nem no negativismo, pois é cantando a esperança que se obtém a derrota do desespero; é cantando a alegria que se consegue a vitória sobre a angústia; é cantando a luz que se faz a aurora; é cantando a vida que se afirma a nossa imortalidade; é cantando o Amor que se realiza a nossa primeira e maior vocação; é sendo optimista que se obtém a certeza de que a Guiné “não é terra do demo e eternamente
D. Manuel Linda, em visita a uma escola.

  abandonada, mas filha de Deus muito amada e Pátria irmã de Portugal”, como dizia D. José Lampra, Bispo Auxiliar de Bissau, no discurso de despedida. Por isso, tenho fundada esperança de que a Guiné vai conseguir ser, num futuro muito próximo, Pátria renovada e os Guineenses Povo próspero e mais feliz. Enfim, quatro audazes padres e outros tantos corajosos leigos ousaram dobrar o cabo tormentoso do querer e foram de Portugal à Guiné de Jipe e de Pik-Up, realizando uma humana transcendência. Agora, que deixamos a Guiné com a epopeia chegada ao fim e regressamos a Portugal para luta e a labuta dos nossos trabalhos pastorais, inerentes à nossa missão de pastores, a nossa mente desenrola a corda das lembranças maravilhosas, estica o fio das benévolas recordações e estende na nossa alma a palavra saudade da Guiné e daquele querido Povo! E até parece que há, em todos nós, um “herói” sem remate… Quem sabe se, por causa disto, à Guiné não voltaremos, se Deus algum dia nos fizer outro rebate!... *Pároco de Canidelo (Vila Nova de Gaia)

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