Migrantes/problemasério Migração de cristãos é dano muito mais sério que o dano material a uma catedral, diz cardeal Zenari
MIGRANTES/problemasério
ALEPO: Migração de cristãos é dano
muito mais sério que o dano material a uma catedral, diz cardeal Zenari
26
abril 2019 VATICAN News
Igreja greco-católica de Nossa Senhora, em Alepo (AFP or licensors) |
O Patriarca de Antioquia e do
Oriente Médio, Yousef Absi, celebrou a Missa pela reabertura da Catedral da
Dormição da Virgem Maria em Alepo. A celebração também foi presidida pelo
cardeal Zenari, que em entrevista ao Vatican News falou dos esforços de todas
as Igrejas para trazer os cristãos de volta à Síria.
Marco Guerra - Cidade do
Vaticano
Em Aleppo, entre os escombros
provocados por oito anos de guerra, surgem novos sinais de esperança, que
deixam antever a possibilidade de se reviver aquela coexistência pacífica entre
as diversas etnias e confissões religiosas.
A Missa para reabertura da
Catedral
Na terça-feira, 23 de abril,
precisamente na segunda cidade da Síria, foi reaberta a Catedral católica
melquita da Dormição da Virgem Maria, com uma Missa presidida pelo patriarca de
Antioquia e do Oriente Médio, Yousef Absi. A reabertura da igreja foi "um
gesto simbólico e um bom sinal do retorno da Síria como era em sua beleza e
vitalidade", disse o patriarca.
Dom Jambart e o núncio Zenari
na reabertura
Estiveram presentes na cerimónia
o arcebispo melquita de Alepo, Dom Jean Jambart, e o núncio apostólico em
Damasco, cardeal Mario Zenari, que expressou as congratulações da Santa Sé pela
reabertura da Catedral e sua gratidão pelos esforços realizados para a reforma
do prédio após os danos sofridos em consequência do conflito.
Dom Zenari: agora,
"reconstruir" as comunidades cristãs
"Além dos danos
materiais aos locais de culto, a Igreja síria está empenhada em reparar os
danos espirituais que atingiram as comunidades dos fiéis", explicou ao
Vatican News o cardeal Zenari, que também falou dos sinais de esperança
oferecidos com a reabertura da Catedral melquita em Alepo:
Sem dúvida, foi um evento
muito bonito, muito consolador. É a segunda catedral católica em Alepo, cujos
trabalhos de restauração foram concluídos, enquanto há outras duas onde os
trabalhos de restauração continuam.
Um primeiro passo necessário,
mas o mais importante, é a emigração, se considerarmos que cerca de mais da
metade dos cristãos na Síria emigraram. As estatísticas de Alepo falam de mais
de dois terços dos cristãos de Alepo que emigraram; este é um dano muito mais
sério do que o dano material a uma catedral danificada ou semi-destruída.
R. - Esse é um aspecto
mais importante e necessário que os reparos das igrejas. Infelizmente, até
agora temos visto algum retorno de cristãos, mas com o conta-gotas, este é
realmente um ponto sensível, sobretudo a partida de jovens cristãos ... a idade
que mais traz consequências para nossas comunidades, faltam os jovens ...
Tantas vezes, me vem em mente o famoso crucifixo de São Damião, que disse ao
jovem Francisco: 'Francisco, vai e repara minha casa que está em ruínas'. Aqui
as Igrejas estão empenhadas também em reparar esses danos materiais
infligidos nos locais de culto, mas ao mesmo tempo já começaram a reparar os
danos espirituais e devo dizer que eu testemunhei em Alepo também a conclusão,
há uma semana, do assim chamado Sínodo das Igrejas Católicas de Alepo. Em Alepo
existem seis bispos católicos, seis dioceses católicas e há mais de um ano eles
começaram a se reunir, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, fiéis, e
cheguei a pensar: estamos no caminho certo.
Portanto, com a guerra, o
número de cristãos caiu pela metade, mas por que é fundamental trazer os fiéis
de Cristo de volta a essas terras? Por que os cristãos são fundamentais para
reconstruir o mosaico sírio que conseguia viver em paz?
R. - Eu sempre digo: o
dano causado pela emigração, pelas emigrações mais ou menos forçadas dos
cristãos, é um dano não somente para essas Igrejas, mas também para a
sociedade, os cristãos - estavam aqui sete séculos antes dos muçulmanos - deram
uma grande contribuição ao longo dos séculos. No campo educacional com as
escolas, no campo da saúde com os hospitais e também na política. Para mim, os
cristãos dão uma contribuição aberta e universal, e cada família que eu vejo
partir, vejo infelizmente essa janela para o mundo que pouco a pouco se fecha.
Como foi a Páscoa na Síria?
Sabemos que em muitas localidades voltaram a ser celebrados os ritos da Semana
Santa, em locais públicos, e com grande participação...
R. - Foi uma Páscoa muito
bonita, muito consoladora, os fiéis participaram dos ritos de Páscoa. Já no
Natal tivemos a oportunidade pela primeira vez de celebrar sem bombas e sem
foguetes ... É um grande consolo, deu grande consolo às nossas igrejas e aos
nossos cristãos, essa possibilidade de celebrar a Páscoa em paz.
O programa de ajudas da AIS
Os programas de
reconstrução de locais de culto na Síria também podem contar com o apoio da
Fundação de direito pontifício Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que destinou 1,8
milhão de euros para um total de 32 projetos, que incluem também a restauração
de casas de muitos famílias cristãs deslocadas. Somente em 2018, foram 121 as
intervenções já realizadas, para um valor de aproximadamente 7 milhões de
euros. A AIS também alocou fundos para a assistência médica para mais de 700
pessoas.
Mais de 120 paróquias
danificadas ou destruídas
Em dezembro passado,
membros locais da fundação Pontifícia, citados pelo jornal dos bispos italianos
Avvenire, estimaram que das 300 paróquias existentes na Síria, 120 sofreram
destruições parciais ou totais de ao menos um dos prédios pertinentes (a
igreja, as escolas, creches, os jardins de infância, os locais comunitários) e
que quase seis mil casas de cidadãos cristãos foram destruídas ou gravemente
danificadas.
Entre os prédios comunitários
atingidos, estão a Igreja de Santa Maria (Mart Maryam) no povoado de Tel Nasri
(nordeste do país); em Aleppo, a Igreja apostólica armênia dos Quarenta
Mártires, o cemitério greco-ortodoxo do Monte Sayda, cuja recuperação começou
em 2017, a Catedral maronita de São Elias, a Igreja católica de Santa Assia,
que está entre as mais antigas da cidade (remonta ao século 16) e o Mosteiro
jesuíta de Deir Vartan que foi atingido em 2012.
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