PAPA FRANCISCO/cruzesdomundo Via-Sacra no Coliseu: Papa reza por todas as cruzes do mundo
PAPA FRANCISCO/cruzesdomundo
Via-Sacra no Coliseu: Papa reza por todas as cruzes do mundo
19 abril 2019 VATICAN NEWS
Nesta
Sexta-feira Santa (19/04), o Papa Francisco presidiu a Via-Sacra diante do
Coliseu de Roma. Depois da meditação sobre as vítimas do tráfico de seres humanos
durante as XIV estações, o Pontífice fez uma oração lembrando todas as “cruzes do mundo”: da cruz das
pessoas que têm fome de pão e amor à cruz da Igreja, “a Tua esposa, que se
sente continuamente atacada por dentro e por fora”.
Andressa Collet, Silvonei
José, Tiziana Campisi – Cidade do Vaticano
O Coliseu de Roma mais uma vez
acolheu o Papa Francisco e milhares de fiéis nesta Sexta-feira Santa para as
meditações das XIV estações da Via-Sacra. Ao término da cerimônia e antes da
Bênção Apostólica, o Pontífice fez uma oração, lembrando todas as “cruzes do
mundo”:
“Senhor Jesus, ajuda-nos a
ver na Tua Cruz todas as cruzes do mundo:
a cruz das pessoas que têm
fome de pão e amor;
a cruz das pessoas sozinhas
e abandonadas até mesmo por seus próprios filhos e parentes;
a cruz das pessoas sedentas
de justiça e paz;
a cruz das pessoas que não
têm o conforto da fé;
a cruz dos idosos que se
arrastam sob o peso dos anos e da solidão;
a cruz dos migrantes que
encontram as portas fechadas por causa do medo e dos corações blindados por
cálculos políticos;
a cruz dos pequenos,
feridos na sua inocência e na sua pureza;
a cruz da humanidade que
vaga na escuridão da incerteza e na escuridão da cultura do momentâneo;
a cruz das famílias
despedaçadas pela traição, pelas seduções do mal ou pela homicida
superficialidade e pelo egoísmo;
a cruz dos consagrados que
procuram incansavelmente levar a Tua luz ao mundo e se sentem rejeitados,
zombados e humilhados;
a cruz dos consagrados que,
no caminho, esqueceram o seu primeiro amor;
a cruz dos teus filhos que,
acreditando em Ti e procurando viver de acordo com Tua palavra, se encontram
marginalizados e descartados até mesmo por suas famílias e coetâneos;
a cruz das nossas
fraquezas, das nossas hipocrisias, das nossas traições, dos nossos pecados e
das nossas muitas promessas quebradas;
a cruz da Tua Igreja que,
fiel ao Teu Evangelho, fadiga a levar o Teu amor até mesmo entre os próprios
batizados;
a cruz da Igreja, a Tua
esposa, que se sente continuamente atacada por dentro e por fora;
a cruz da nossa casa comum
que murcha seriamente diante dos nossos olhos egoístas e cegos pela ganância e
pelo poder.
Senhor Jesus, reaviva em
nós a esperança da ressurreição e da Tua vitória definitiva contra todo o mal e
toda a morte. Amém!”
A oração pelas vítimas do
tráfico de seres humanos
As meditações da Via-Sacra
deste ano foram confiadas à Ir. Eugenia Bonetti, missionária da Consolata.
Durante as 14 estações foram lembradas as vítimas do tráfico de seres humanos,
os menores explorados, as mulheres obrigadas à prostituição e os migrantes como
os novos crucificados que devem ser despertados na consciência de todos.
"Com Cristo e com as
mulheres no caminho da cruz", a religiosa, presidente da Associação
“Slaves no more”, quis idealmente percorrer “junto a todos os pobres, aos
excluídos da sociedade e aos novos
crucificados da história de hoje, vítimas dos nossos fechamentos, dos
poderes e das legislações, da cegueira e do egoísmo, mas sobretudo do nosso
coração endurecido pela indiferença”.
Quem tem responsabilidade,
escute o grito dos pobres
Na primeira estação, a figura
de Pilatos inspirou a oração “para aqueles que ocupam papeis de
responsabilidade para que escutem o grito
dos pobres” e “de todas aquelas jovens vidas que, em maneiras diferentes,
estão condenadas à morte pela indiferença gerada por políticas exclusivas e
egoístas”. Em Jesus pregado na cruz há, ao contrário, o convite em reconhecer “os novos crucificados de hoje: os sem-teto,
os jovens sem esperança, sem trabalho e sem perspectivas, os imigrantes
obrigados a viver em barracas às margens da nossa sociedade, depois de terem
enfrentado sofrimentos inimagináveis”.
Mas o pensamento vai também às
crianças “discriminadas por causa da sua proveniência, da cor da pele e classe
social”. Diante de tudo isso, o exemplo pra seguir é aquele de Cristo, que
falava de serviço, perdão, renúncia e sofrimento, manifestando com a sua vida
“o amor verdadeiro e desinteressado ao próximo”.
Não sabemos mais reconhecer
quem tem necessidades
Nas etapas de Jesus em direção
ao Calvário, Ir. Eugenia Bonetti reconhece vários episódios dos quais foi
testemunha: no encontro com Maria vislumbra “as muitas mães que deixaram partir
suas jovens filhas para a Europa na esperança de ajudar as suas famílias em pobreza extrema, enquanto encontraram
humilhações, desprezo e, às vezes, inclusive a morte”; em Jesus que cai
pela primeira vez, fragilidade e fraqueza humana são indicações para recordar
os samaritanos de hoje que se inclinam “com amor e compaixão sobre tantas
feridas físicas e morais de quem, toda noite, vive o medo do escuro, da solidão
e da indiferença”.
“Infelizmente, muitas vezes
hoje não sabemos mais reconhecer quem tem necessidades, ver quem está ferido e
humilhado”, escreve a religiosa da Consolata. “Frequentemente reivindicamos os
nossos direitos e interesses, mas esquecemos aqueles dos pobres e dos últimos
da fila”. É então que devemos pedir a Deus de nos ajudar a amar e a não sermos
insensíveis ao choro, aos sofrimentos e ao grito de dor dos outros.
Os menores, os migrantes e
as vítimas do tráfico
E como não ver na Via-Sacra as
tantas “crianças, em várias partes do
mundo que não podem vir à escola”, “exploradas nas mineiras, nos campos, na
pesca, vendidas e compradas por traficantes de carne humana para transplantes
de órgãos, além de usadas e exploradas... por muitos cristãos inclusive”.
São os menores “privados do direito a uma infância feliz”, “criaturas usadas
como mercadorias de pouco valor, vendidas e compradas por prazer”.
Mas, no centro das meditações
de Ir. Eugenia Bonetti, que há anos luta contra o tráfico de seres humanos,
estão os migrantes e as vítimas do tráfico. O pedido para “aumentar a
consciência que todos somos responsáveis pelo problema” e que “todos podemos e
devemos fazer parte da solução” se lê na oitava estação, “Jesus encontra as
mulheres”. E sobretudo as mulheres “é solicitado o desafio da coragem”, “de
saber ver e agir”, de considerar “o pobre, o estrangeiro, o diverso não como um
inimigo pra rejeitar ou combater, mas, sobretudo, como um irmão ou uma irmã
para acolher e ajudar”.
A humilhação de Cristo,
aquela das mulheres vítimas da cultura do usa e joga fora
Na nona estação, quando Jesus
cai pela terceira vez, “humilhado sobre o peso da cruz”, estão as “tantas mulheres, obrigadas a estarem nas
ruas pelos grupos de traficantes de escravos, que não suportam a fadiga e a
humilhação de ver o próprio corpo jovem ser manipulado, abusado, destruído,
junto aos seus sonhos”. São o fruto da cultura do usa e joga fora.
Dinheiro, bem estar e poder
dos ídolos
A imagem do corpo despojado de
Cristo, comparável àquele dos menores, objeto de compra-e-venda, deixa refletir
sobre ídolos de todos os tempos: dinheiro, bem estar e poder. Aparece menos “a
centralidade do ser humano, a sua dignidade, beleza e força”. Mas há quem ainda
desafia a própria vida para salvar outras, sobretudo no Mediterrâneo, onde em
muitos ajudaram “famílias em busca de
segurança e de oportunidades”, “seres humanos em fuga da pobreza, da ditadura,
corrupção e escravidão”; todas pessoas que precisam redescobrir a beleza e a
riqueza, “dom único” de Deus “para colocar a serviço da sociedade inteira e não
para alcançar interesses pessoais”.
No túmulo de Cristo, morte
e ressureição como ensinamentos de vida
A última estação, que conduz
ao túmulo de Jesus, faz pensar aos “novos cemitérios de hoje”: o deserto e os
mares, onde hoje encontram moradia eterna “homens, mulheres, crianças que não
pudemos ou não quisemos salvar”. “Enquanto os governos discutem, fechados nos
palácios do poder, o Saara se enche de esqueletos de pessoas que não resistiram
à fadiga, à fome, à sede” e o mar se transformou num “túmulo de água”.
“ O desejo é que a morte de
Cristo possa “doar aos líderes das Nações e aos responsáveis das leis a
consciência do seu papel em defesa de todas as pessoas”, criadas à imagem e
semelhança de Deus e que, a sua ressureição, “seja farol de esperança, de
alegria, de vida nova, de fraternidade, de acolhimento e de comunhão entre os
povos, as religiões e as leis. ”
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