PEDRÓGÃO GRANDE /incêndios País "não aprendeu" e está "muito pior do que há dois anos"
PEDRÓGÃO GRANDE /incêndios
País "não aprendeu" e está "muito pior do que há dois
anos"
17 Junho, 2019 • 12:01
O engenheiro silvicultor
Paulo Pimenta de Castro acredita que há "grande irresponsabilidade por
parte de algumas empresas". A zona onde se iniciou o incêndio assiste
novamente a situações de "cabos de média tensão a tocar na copa das
árvores".
© Rui Oliveira/Global Imagens
17 Junho, 2019 • 12:01
Paulo Pimenta de Castro não tem dúvidas de que o país não aprendeu as lições que deveria ter retirado |
Dois anos depois, o território
nacional apresenta muitas mais condições para avanço dos fogos, diz o professor
e engenheiro Paulo Pimenta de Castro."O que encontrei no território é
desolador. Está hoje muito pior do que há dois anos", assevera o
engenheiro, no Fórum TSF.
"Se não houver uma
intervenção forte, haverá grandes danos num futuro muito próximo", avisa
Paulo Pimenta de Castro.
A situação reflete-se a nível
nacional, mas, localmente, a zona afetada pelos fogos de 17 de junho de 2017
não apresenta também melhorias: "Aquele
território, ao não ser alterado, está neste momento predisposto a alimentar
ciclos contínuos de incêndios."
Paulo Pimenta de Castro trata
ainda de exemplificar, ao frisar que há "grande irresponsabilidade por
parte de algumas empresas". A zona onde se iniciou o incêndio assiste
novamente a situações de "cabos
de média tensão a tocar na copa das árvores", garante o
engenheiro.
Para o professor, "a inexistência de um plano
municipal não invalida a responsabilidade social por parte das empresas para
intervir".
A permanência de "cadáveres de árvores que ainda
não foram retirados" também preocupa Paulo Pimenta de
Castro."Morreram de pé, e de pé continuam."
Os toros de madeira seca
empilhados junto a zonas possíveis de fuga são outro fator a ser combatido, já
que "qualquer fósforo ou beata de um incêndio que ocorra nas proximidades
torna aquele local um foco onde os bombeiros não vão sequer conseguir
estar".
Paulo Pimenta de Castro não
tem dúvidas de que o país não aprendeu as lições que deveria ter retirado e
salienta: "Não basta atirar com dinheiro para a região, é preciso
necessariamente avançar com um exército para recuperar aquele local. Quanto
mais tarde se avançar com a recuperação, maiores serão os custos para a
sociedade."
O engenheiro considera que o
investimento necessário deve ser canalizado para uma "nova cadeia de valor
sem os habituais vícios".
Por seu lado, Duarte Caldeira,
do Observatório Técnico Independente, considera que houve algumas melhorias.
"Evoluímos positivamente nalguns domínios, mas a questão essencial está
por tratar: Do mesmo modo que precisamos de repensar o país, precisamos de
repensar serena e qualitativamente, numa lógica de coesão e continuidade
política, o sistema de Proteção Civil que temos em Portugal", analisa, no
Fórum TSF desta segunda-feira.
"A quatro meses das legislativas,
este é o momento de fazer um apelo sério aos partidos políticos para que
incorporem no debate que se vai seguir nos próximos meses e nos programas
eleitorais propostas e respostas", diz o também presidente do Centro de
Estudos e Intervenção em Proteção Civil.
Duarte Caldeira deixa, por
isso, questões que considera terem de ser respondidas: "Como é que se
combate o despovoamento do território e consequente desertificação, como é que
cria uma política de ordenamento territorial, como se reforça a Proteção Civil,
que é um sistema municipal?"
Na mesma linha, o reitor da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e grande impulsionador do Movimento
pelo Interior, Augusto Fontaínhas Fernandes, acredita que "os partidos
políticos têm de colocar na agenda eleitoral a questão da desertificação".
Para o reitor da UTAD, a
questão demográfica já deveria ter sido vista antecipadamente, mesmo durante as
europeias, bem como a "quebra de população em 38% nos últimos 30 anos no
interior".
Na lista de temas a colocar em
pauta cabem também as alterações climáticas e novas tecnologias, segundo
Augusto Fontaínhas Fernandes, que frisa ser fulcral "repensar o modelo de
organização do país".
* [Notícia atualizada às 12h39]
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