VATICANO/mediterrâneoacolhimentodiálogo Papa propõe «teologia do acolhimento e diálogo» que transforme o Mediterrâneo
VATICANO/mediterrâneoacolhimentodiálogo
Papa propõe «teologia do acolhimento e diálogo» que transforme o
Mediterrâneo
Jun 21, 2019 - 11:29 Ecclesia
Francisco encerrou conferência, em Nápoles, destacando importância do
encontro entre pensadores católicos, judaicos e muçulmanos
O Papa defendeu hoje, 21 junho
2019, em Nápoles uma “teologia do acolhimento e diálogo” que transforme o
Mediterrâneo, promovendo o encontro entre pensadores católicos, judaicos e
muçulmanos.
“O Mediterrâneo sempre foi um lugar de trânsito, trocas e, às vezes, até
mesmo de conflito. Este lugar hoje levanta várias questões, muitas vezes
dramáticas”, advertiu Francisco, que encerrou uma conferência de dois dias sobre
o tema ‘Teologia depois da Veritatis Gaudium no contexto do Mediterrâneo’,
promovido pela pontifícia faculdade teológica do sul da Itália.
Os especialistas de diversos países debateram perspetivas de coexistência
pacífica e tolerante, a partir de temas como migrações, confrontos culturais,
religiosos, muros, guerras ou lugares de diálogo como a arte, o discernimento,
o conhecimento histórico, o respeito inter-religioso e a renovação da teologia.
Francisco propôs uma reflexão teológica capaz de solidariedade com “todos
os náufragos” da história, aprendendo com os “erros e críticas” do passado e
rejeitando qualquer “tentação de reconquista e de fechamento identitário”.
“O Mediterrâneo é precisamente o mar de miscigenação, um mar
geograficamente fechado em relação aos oceanos, mas culturalmente sempre aberto
ao encontro, ao diálogo e à inculturação recíproca”, aponto o Papa.
Francisco começou a sua intervenção, que durou mais de 30 minutos, com a
questão do acolhimento de quem é “diferente” e o papel dos teólogos como
promotores de “formas de fraternidade em vez de muros de separação”.
“Os estudantes de teologia devem ser educados em diálogo com o judaísmo e
o islamismo para entender as raízes e diferenças comuns de nossas identidades
religiosas e, assim, contribuir mais efetivamente para construir uma sociedade
que valorize a diversidade e promova o respeito, a fraternidade e a
coexistência pacífica”, sustentou.
A teologia,
particularmente neste contexto, é chamada a ser uma teologia do acolhimento e a
desenvolver um diálogo autêntico e sincero com instituições sociais e civis,
com universidades e centros de pesquisa, com líderes religiosos e com todas as
mulheres e homens de boa vontade, para construir na paz uma sociedade inclusiva
e fraterna e para a custódia da criação”.
O Papa sustentou uma atividade de “discernimento”, atenta aos sofrimentos
das populações, com “compaixão” pelas pessoas e pela “capacidade de interpretar
cristãmente a realidade”.
Francisco abordou alguns dos
temas que têm marcado o seu pontificado, como o alerta contra o “proselitismo”,
entendido como uma imposição agressiva das próprias convicções de fé, ou a
proposta de “não-violência como horizonte e conhecimento do mundo”.
A intervenção, que tinha o Mediterrâneo como pano de fundo, destacou a
necessidade de narrativas “renovadas e partilhadas”, atentas à realidade
“multicultural e multirreligiosa” e às “enormes injustiças sofridas por tantos
pobres que vivem nas margens deste mar comum”.
O Papa advertiu para uma visão estática da tradição, defendendo a
“liberdade teológica” num trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, em
rede.
“Na pregação ao Povo de Deus, por favor, não firam a fé do povo de Deus
com questões disputadas. Estas são apenas para os teólogos, é a vossa missão,
mas para o Povo de Deus substância que alimente a fé, que não a relativize”,
apelou, numa passagem improvisada do discurso.
Os trabalhos partiram da constituição apostólica ‘Veritatis Gaudium’, assinada por Francisco em 2017, sobre as
universidades e as faculdades eclesiásticas.
O pontífice recordou os “critérios evangélicos” apresentados por este
documento, no qual se procura promover “uma teologia de discernimento,
misericórdia e acolhimento, que se coloca em diálogo com a sociedade, culturas
e religiões para a construção da coexistência pacífica de pessoas e povos”.
No final do encontro, o Papa cumprimenta os membros da Faculdade e a
comunidade jesuíta, antes de regressar ao Vaticano, pelas 15h00 locais (menos
uma em Lisboa).
Os trabalhos contaram com uma intervenção de
Donatella Abignente, docente do curso e-learning ‘Pensamento Social Cristão:
memória e projeto’ da Faculdade de Teologia da UCP sobre “o diálogo no contexto
do Mediterrâneo”.
OC
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