O pão é de todos é dom de Deus

O pão é de todos é dom de Deus
Toda a experiência religiosa autêntica, em todas as tradições culturais, conduz a uma intuição do Mistério que, não raro, chega a divisar alguns traços do rosto de Deus. Ele, aparece por um lado, como origem daquilo que é, como presença que garante aos homens, socialmente organizados, as condições básicas de vida, pondo à disposição os bens necessários; por um lado, como medida do que deve ser, como presença que interpela o agir humano - tanto no plano pessoal como no social – sobre o uso dos mesmos bens nas relações com os outros homens. Em toda a experiência religiosa, portanto se revelam importantes na dimensão do dom e da gratuidade, que se percebe como subjacente à experiência que a pessoa humana faz do seu existir juntamente com os outros no mundo. Mas repercussões desta dimensão na consciência do homem que adverte ser interpelado a gerir de forma responsável e convivial o dom recebido. Prova disso é o reconhecimento universal da regra de ouro, em que se exprime no plano das relações humanas a lei inscrita por Deus no homem: Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós também ( Catecismo Da Igreja Católica 1789, e 1970).

Sobre o pano de fundo, compartilhado em vária medida, da experiência religiosa universal, emerge a revelação que Deus faz progressivamente de si próprio a Israel. Ela responde à busca humana do divino de modo inopinado e surpreendente, graças aos gestos históricos, pontuais e incisivos, nos quais se manifesta o amor de Deus pelo homem. Segundo o livro do Êxodo, o Senhor dirige a Moisés a seguinte palavra: «Eu vi a miséria do meu povo no Egipto e bem assim tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus opressores. Conheço, pois a sua dor. Estou decidido a libertá-lo das mãos dos egípcios e a conduzi-lo desta terra para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel» (Ex. 3, 7-8). A proximidade gratuita de Deus – à qual alude o seu próprio nome, que Ele revela a Moisés, «Eu sou aquele que sou» (Ex 3,14) – manifesta-se na libertação da escravidão e na promessa, tornando-se acção histórica na qual tem origem o processo de identificação colectiva do povo do Senhor, através da aquisição da liberdade e da terra que Deus lhe oferece em dom.

A gratuidade do agir divino, historicamente eficaz, acompanha constantemente o compromisso da Aliança, proposto por Deus e assumido por Israel. No Monte Sinai, a iniciativa de Deus concretiza-se na Aliança com o seu povo, ao qual é dado o Decálogo dos mandamentos revelados pelo Senhor (Ex 19, 24). Os «dez mandamentos» (Ex 34, 28; Dt. 4, 13; 10, 4) « traduzem as implicações da pertença a Deus, instituída pela Aliança. A existência moral é resposta à iniciativa amorosa do Senhor. É reconhecimento, homenagem a Deus e culto de acção de graças. É cooperação com o plano que Deus tem em vista na história (CIC 2062).

Os dez mandamentos, que constituem um extraordinário caminho de vida, indicam as condições mais seguras para uma existência liberta da escravidão do pecado, contêm uma expressão privilegiada da lei natural. Eles «ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os deveres essenciais e, por conseguinte, indirectamente, os deveres fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana (CIC 2070). Conotam a moral humana universal. Lembrados também por Jesus ao jovem rico do Evangelho (Mt 19, 18), os dez mandamentos «constituem as regras primordiais de toda a vida social. (João Paulo II Veritatis Splendor  n 97).

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