Eutanásia: questão de Estado
Eutanásia: questão de Estado
D.R |
Uns projectos-lei apresentados na Assembleia da República
querem que o Estado português providencie no sentido de que sejam mortos
aqueles cidadãos que o requererem. Dizem que faz parte das liberdades e dos
direitos humanos.
Deixemo-nos de rodeios.
A questão não é acerca duma liberdade individual. A questão é se (sim ou não) o
Estado português pode aceitar que alguém o obrigue a matar em determinadas
condições.
Ou seja: a questão é acerca daquilo que o Estado
português pode ou não fazer. E, acerca
disso, todos, sem excepção, temos não apenas o direito, mas o dever de nos
pronunciarmos. É a configuração do Estado português que está em causa. E em
matéria de não pouca importância. Não é
questão duma liberdade individual. É questão acerca do que é o próprio
Estado português.
Portugal recusou há
muito a pena de morte. Poderia querer aplicá-la (infelizmente ainda existem
Estados que o fazem) em
determinadas condições: a sociedade poderia, por exemplo, achar que alguém que
provocou a morte de um ou de vários cidadãos, ou que colocou em perigo, de modo
irremediável, a existência da própria sociedade não teria mais condições para
viver. Mas Portugal reconheceu que a vida
humana não está ao dispor do Estado. Por isso, recusou há muito a
existência da pena de morte: os Estados contemporâneos têm outras formas de
exercer a justiça.
Mas poderá alguém exigir ao Estado que o mate por
piedade? O mesmo é dizer: poderá alguém
exigir que o Estado português declare uma
vida de tal modo indigna e inútil que a possa suprimir?
Por mim, penso que ninguém tem a liberdade de realizar
tais exigências. E penso também que o Estado português não pode aceitar que
alguém o obrigue a matar, por qualquer razão que seja. Toda a vida humana tem uma dignidade tão grande que
ultrapassa qualquer consideração que o Estado ou o próprio cidadão possam fazer.
Um Estado que se queira
civilizado, a alguém que pede para ser morto, só pode responder com cuidados. A vida não pode ser eliminada. A vida só
pode ser cuidada.
Numa questão como esta
todos devem ser chamados a pronunciar-se. É
demasiado grave para ser decidida apenas por 230 pessoas. Mesmo que sejam
deputados.
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