Bragança-Miranda Faleceu Cónego António Amado, do Pinelo (Vimioso)
Bragança-Miranda
Faleceu o cónego
António Augusto Rodrigues Amado
Jan 28, 2020 - 11:46
A Diocese de Bragança-Miranda anunciou o falecimento do cónego António
Augusto Rodrigues Amado, de 79 anos de idade.
Ao colega e amigo desejo a Paz em Deus daquele que por Ele evangelizou com
a força da Palavra em Moçambique (Cabo Delgado) e na sua diocese de Bragança
Miranda. Os familiares, os meus sentimentos. E transcrevo aqui uma entrevista
em que conversámos um pouco sobre a sua vida.
NOVA
EVANGELIZAÇÃO Entrevista
Evangelização
porta a porta: todos com um coração missionário por ARMANDO SOARES
Cónego
António Augusto Rodrigues Amado
Perfil: É cónego na diocese de Bragança.
Foi missionário em Cabo Delgado, em
Moçambique, durante 8 anos. Por
motivos de saúde ficou missionando em Bragança e nas terras do nordeste. É
certa a presença anual nas Jornadas Missionárias em Fátima. Trabalhou com a
juventude, como professor. Um homem humilde com seu valor específico. Investigador.
Acolheu-nos com amizade e simpatia. Ouvimo-lo e transmitimos.
Armando
Soares – O Sr. Cónego Amado nasceu numa aldeia do Concelho de Vimioso, Pinelo.
Como surgiu a ideia da vocação missionária: da família, da comunidade
interessada pelos problemas eclesiais…?
Pois bem sabemos que estas terras transmontanas deram muitos
missionários à SMBN e outras. A palavra
é sua.
Cónego Amado – Nesta terra de
gente humilde e crente como era no meu tempo de jovem, ter um filho sacerdote,
missionário, ou uma filha religiosa, era uma distinção e era acolhida e
incentivada a vocação como um dom de Deus, que nem todos mereciam. Meus pais
viviam a vida com uma fé simples mas real. Éramos 6 irmãos. Deste modo animei-me a ir para o Seminário.
Já lá andavam os PP. Firmino e Viriato, naturais desta aldeia
AS – Falou
no padre Viriato. De certeza que teve também a sua influência, não é
verdade? Quer citar mais alguns, em
primeiro da sua aldeia e depois desta zona?
CA – É com muita alegria que cito
aqueles com quem mais convivi e eram aqui da região. Em primeiro lugar, do
Pinelo: PP. Firmino, Amado, Viriato Matos, Norberto Pino e as Irmãs Laura,
Maria João, Maria Delfina e Lídia, missionária em Angola. O P. Amândio teve
muita influência, na promoção vocacional, a começar na sua aldeia de Carção,
sendo missionário daqui seu sobrinho P. Policarpo. De Caçarelhos: PP. Agostinho
Rodrigues, Fernando Eiras e Justino Vicente. De Genísio: PP. Virgílio e Basileu
(Mariano). De S. Joanico os dois irmãos Aníbal e Casimiro João. De Atenor: P.
Aquiles Rodrigues. De Vale de Pena: o Ir. António, dos Marianos.
Estes 15 missionários saíram de
dezenas que passaram pelo Seminário e se lançaram na vida nas cidades do litoral. Os anos passados no Seminário
marcaram nas suas vidas pela disciplina e no aproveitamento do tempo.
AS –
Percorremos as ruas da aldeia, e quase nem rasto de gente. Só ouvíamos os
pássaros nos seus trinados. No tempo da sua juventude qual era a população da
aldeia de Pinelo comparada com a desertificação que reina hoje no interior do
país?
CA - Nessa altura a aldeia tinha
750 habitantes, hoje sofre uma grande desertificação como todas as aldeias do
interior e terá mais ou menos metade da população. Uma população bastante
envelhecida. Tem 6 crianças (!)... E não é das piores.
AS – Hoje nota-se grande envelhecimento da
população e grande falta de crianças.
CA – Temos um Lar para a
Terceira Idade, que eu aumentei quando vim para aqui. Para 20 pessoas.
Crianças, no meu tempo éramos 91 na catequese (45 rapazes e 46 raparigas)
AS –
Voltando à vida missionária em Moçambique qual foi seu campo de missão?
CA - Em Cabo Delgado trabalhei no Seminário do
Mariri, como educador e Reitor até ao 25 de Abril, e depois, em Pemba onde
terminei meus anos de missão nas mais
variadas tarefas de ensino e pastorais.
AS – Apesar do pouco tempo após a independência,
sentiu profundamente a revolução que deixou marcas profundas em muitos
missionários maltratados e presos.
CA – Senti profundamente após a
revolução, os ataque à religião, considerada como “obscurantismo”. A então
chamada “Comissão Liquidatária”, mostrou ao pormenor o que pretendia a
Revolução. Além de não permitir retirar os móveis das missões nacionalizadas
para as novas residências: isto até para as Irmãs moçambicanas naturais da
diocese, caíram no “ridículo” de contarem o número de peças de roupa que os
missionários possuíam.
AS – Como
definiria em poucas palavras a acção do bispo da Diocese D. José dos Santos
Garcia perante os problemas de uma diocese a começar nestes tempos difíceis, e
ainda da guerra colonial?
CA – D. José Garcia foi um bispo «empreendedor» na construção das
infraestruturas necessárias a uma diocese; foi um homem muito prudente e
cauteloso nas relações com as autoridades e um bispo muito próximo dos
missionários; humilde e preocupado com as comunidades locais. Procurou
colaborar para que o poblema político se resolvesse pacificamente.
Classifico de “amorosa” a
despedida que fez aos missionários, quando decidiu vir para Portugal. E fundou
uma congregação de Irmãs diocesanas com o apoio das Irmãs missionárias da
Consolata. De resto, contam-se numerosas construções de Seminário para promoção
do clero local, lares para formação de filhos dos professores e para Irmãs
africanas…
AS –
Paróquia que reza é paróquia em missão,
“é paróquia missionária” dizia Madre Teresa de Calcutá. Na falta de
juventude nas nossas Igrejas que apelo faria às nossas comunidades eclesiais?
CA - Citaria as palavras do
Papa Francisco na sua Mensagem deste ano par o Dia Mundial das Missões: “O
mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através
da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas
sanguinolentas da humanidade, que provocam um grito desesperado dos irmãos e
irmãs do Senhor crucificado. O Evangelho ajuda a superar os conflitos, o
racismo, o tribalismo, promovendo por todo o lado a reconciliação, a
fraternidade e a partilha entre todos.”
E deixo também o apelo do Papa
Francisco: “As Obras Missionárias Pontifícias inspiram na comunidade o desejo
de anunciar o Evangelho a todos, envolvendo na formação e animação missionária:
adolescentes, jovens, adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas,
bispos para que, em cada um, cresça um coração missionário.”
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